Quando "Ted Lasso" estreou há três anos, era agosto de 2020, o mundo estava preso em casa sem uma vacina para a covid-19, e desesperadamente necessitado de afeto e calor humano.
Naquele contexto, o hoje inconfundível lema do personagem, "Believe", era o mais ousado que alguém poderia proferir. Como, exatamente, acreditar na bondade do ser humano e em segundas chances naquele contexto tão desolador? Eles nos disseram como, desafiando a masculinidade tóxica no ambiente do futebol e mostrando compaixão no lugar de palavras violentas.
O personagem de Jason Sudeikis, é claro, não foi criado dentro do contexto da pandemia, mas se encaixou perfeitamente em um momento em que a distância física se refletia tão fortemente na incapacidade da maioria de nós de fazer algo além de ficar em casa e usar máscaras para conter a covid-19.
Hoje, enquanto dizemos adeus a "Ted Lasso" (ou, pelo menos, ao personagem e à série como a conhecemos), não é que a mensagem tenha ficado velha, mas a ideia central da série parece ter cumprido o seu propósito. O arco de três temporadas que Jason Sudeikis e companhia se propuseram a contar levou o time e o público do cinismo a algum lugar ligeiramente menos cínico, e um pouco mais gentil quando se trata de relações humanas.
É neste ponto, inclusive, que está o maior problema que assolou a terceira temporada. Durante boa parte dos 12 episódios, as relações humanas que cativaram a audiência ficaram comprometidas pelo desenvolvimento de arcos individuais que não se conectavam — ou que eram impulsionados pelas razões mais absurdas, como Rebecca ir em busca da maternidade após ouvir de uma médium que isso estava em seu futuro.
No geral, apesar de o campeonato de futebol ainda estar no coração da série, e desta temporada, os conflitos envolvendo os personagens mais interessantes se distanciavam, fazendo com que a conexão entre eles, sempre um momento pulsante dos episódios, ficasse comprometida. De certo modo, todos ficaram um pouco mais solitários. E, à exceção do arco de Nate, nada disso serviu ao propósito de uma grande narrativa.
Um episódio especificamente, o penúltimo, foi o exemplo perfeito do que a terceira temporada poderia ter sido, justamente por conseguir fazer os arcos individuais funcionarem em uníssono, através do dilema das relações entre mães, pais e filhos. Ponto fora da curva de uma leva de episódios distoante, "Mom City" também foi o que levou a série aos seus momentos finais, seguindo um curso natural para a trajetória de Ted.
Apesar de um final coerente diante da construção narrativa do personagem, "Ted Lasso" se despede apenas como a casca da série que um dia já foi. Tecnica e objetivamente, é um capítulo final que preenche todas as lacunas e os requisitos, mas a impressão que fica é a de estar fazendo apenas isso, e nada mais. Uma pena.
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