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'Coisa de Menino': como o machismo vai além do 'ódio às mulheres'

"Coisa de Menino", da HBO Max, questiona o machismo - Divulgação/HBO
'Coisa de Menino', da HBO Max, questiona o machismo Imagem: Divulgação/HBO

De Splash, em São Paulo

02/06/2023 04h00

Estamos cansados de saber como o machismo afeta a vida das mulheres. Todos os dias há inúmeras violências causadas contra elas. No entanto, pouco se discute o impacto que esse sintoma doente da sociedade tem na vida dos próprios homens, qual a maneira de fugirmos deste ciclo vicioso de masculinidade tóxico e onde esse tipo de comportamento começa.

Este é o argumento principal de "Coisa de Menino", série da HBO Max de três episódios que conta com Tatiana Issa e Guto Barra na direção, a mesma dupla responsável por "Pacto Brutal - O Assassinato de Daniella Perez", e já está disponível na plataforma.

A Splash, Issa explica a importância de uma produção como esta no atual cenário. "A gente vê cada vez mais o nosso mundo machista, cada vez mais homens sem tolerância, sem compreensão, sem conseguir entender as mulheres, sem conseguir compreender, replicando comportamentos que aprenderam com os pais, ou que viram na TV, o que viram na sociedade. É uma eterna réplica."

Segundo a criadora e diretora, é preciso falar sobre o machismo e suas consequências para conseguirmos parar o vício. "Alguns homens vão ouvir isso, outros homens não vão querer ouvir, outros homens vão debater, outros homens não vão nem entender o que a gente está dizendo."

Mas se ficar alguma coisinha ali no fundo de alguns deles, que puder mudar aquele homem para que ele seja o melhor pai do filho, que ele crie seu filho de uma maneira melhor, que ele seja o melhor companheiro para suas esposas, que ele seja o melhor patrão para suas colaboradoras, a gente já vai estar fazendo alguma coisa bacana.

"Coisa de Menino" apresenta diferentes histórias de pessoas impactadas pelo machismo e conta como lidam com a situação, como uma família na qual a necessidade de ser um homem "macho" era tão grande que ensinaram um garoto de apenas dez anos a atirar.

Há também Adriano, de Rondônia, que começou um processo de melhorar sua postura ciumenta e doentia quando, após agredir fisicamente sua esposa, percebeu que poderia perdê-la com as duas filhas, sendo afetado também pelo machismo, mesmo sendo homem. "Ele ainda tem um caminho para caminhar, mas ele está nesse processo", diz Issa.

Já Guto Barra conta sobre outro personagem que chamou sua atenção. "Eu acho que tem um episódio que é super interessante, que a gente fala das mães, de filhos criados por famílias que são só de mulheres, que é uma realidade que é super comum no Brasil, em diversas classes socioeconômicas, mas muito comum também em comunidades."

"Então tem a história do Breno, que é um garoto criado pela mãe e pela avó, é uma história super interessante, porque elas também replicam algumas questões machistas, questões do patriarcado. Você consegue enxergar que é uma questão que está tão presente em todos os lugares, que é quase impossível de você sair."

Uma questão abordada em "Coisa de Menino" é a diferença de localidade dos personagens. Há pessoas de diversas regiões do Brasil, saindo do eixo Rio-São Paulo.

"Você vê famílias no interior do interior da Paraíba, que às vezes são mais compreensivas do que uma família de São Paulo, que você julgaria que pudesse ser, se pensarmos no caso. E muitas vezes não também. Então é importante sacar essa sutileza e a diferença também que as criações em diferentes regiões do Brasil trazem", diz Tatiana Issa.

Por fim, o fato de serem expostas histórias reais é o que, segundo conta Adriana Cechetti, diretora de produção de conteúdo unscripted da Warner Bros. Discovery, pode levar a série a ajudar a mudar vida.

"A gente fala muito da ficção, mas a não ficção, às vezes, tem mais poder do que a ficção, porque a partir de uma história real, você consegue caminhar por muitos outros assuntos, outros temas e que impactam, realmente, na vida da sociedade", conclui.