Gêmeas trans: brasileiras abrem o jogo sobre exposição e opção por cirurgia
As gêmeas Mayla Phoebe e Sofia Albuquerck, hoje com 21 anos, tiveram a opção pela cirurgia de redesignação sexual realizada há 2 anos divulgada contra a vontade delas.
À época, a cobertura de imprensa sobre o fato de serem as primeiras irmãs a passarem juntas pelo procedimento não citou seus nomes, mas elas acabaram identificadas em sua cidade natal, Araxá (MG), em razão de alguns detalhes descritos nas reportagens.
"Eu não tinha psicológico para isso", relembra Mayla em entrevista a Splash. "Eu pedi para poder esperar. Ninguém ia tirar essa nossa marca, de sermos as primeiras no mundo. Já estava registrado, já estava guardada", completa ela, que hoje estuda medicina em Buenos Aires, na Argentina.
Hoje, passados dois anos, ela e a irmã Sofia escolheram contar a própria história em uma série. A produção documental "Gêmeas Trans", disponível na HBO Max, conta o dia a dia das irmãs, dos problemas corriqueiros, como a rotina na faculdade, até a dificuldade diária de conviver com a transfobia.
Na conversa com Splash, elas falaram sobre os motivos que as levaram a optar pela cirurgia e o que mudou para que elas aceitassem o convite para a série.
Provimento do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) permite a retificação de nome e gênero nos documentos oficiais independentemente de qualquer tipo de intervenção médica. Da mesma maneira, entidades representativas alertam que a decisão de passar ou não por qualquer procedimento é uma escolha individual e que a identidade de gênero não depende de nenhuma modificação corporal
Primeiro banho após a cirurgia "foi mágico", conta Mayla. "Quando eu vi e tive meu primeiro banho, que eu pude tomar um banho sem ver o que eu tinha, foi mágico, e eu chorei. É uma sensação indescritível. Mesmo cheia de pontos, estava com a sonda. Mesmo com tudo."
Notícias sobre a cirurgia as deixaram marcadas na cidade em que viviam. "Todo mundo sabia que era eu porque era uma cidade muito pequena. As pessoas começaram a me marcar nas coisas e eu tive uma exposição tão grande que eu não sabia como me encontrar. Eu me encontrei no meio de um beco, sem saída", relembra Mayla.
À época, viveram uma grande divergência: Sofia abriu uma live nas redes sociais para falar sobre o assunto, contra a vontade da irmã. "Hoje eu sei que ela [Mayla] respeita, mas na época, tive que abrir uma live contra a minha vontade. Cheguei a escrever cartas para Deus e, depois de dez dias da cirurgia, pensei em suicídio. Eu falava que não estava dando conta mais da pressão que eu estava tendo de tanta exposição e visitas ao meu perfil."
Caso você tenha pensamentos suicidas, procure ajuda especializada como o CVV e os Caps (Centros de Atenção Psicossocial) da sua cidade. O CVV funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil.
As duas sempre contaram com o apoio da família, principalmente dos avós, que venderam um imóvel para elas fazerem as cirurgias.
Sofia, que é estudante de engenharia, hoje expõe a sua trajetória com o objetivo de combater a discriminação. "Várias pessoas me mandaram mensagens falando que a gente era uma inspiração, que a gente devia trazer informação sobre o nosso mundo, e que eles queriam aprender e lutar pela nossa causa. Soube também de várias pessoas que mudaram a forma de pensar e agir perante as outras, e houve quem era preconceituoso e hoje não é mais."
Para Mayla, foram as mensagens de inspiração que vinha recebendo que a fizeram tomar gosto pela exposição. Isso não quer dizer que gravar uma série tenha sido fácil. Não foi. Ela conta que precisou de um psicologo ao seu lado o tempo todo, chorou muito em frente à câmera e precisou até mesmo se ausentar de um episódio.
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