Beth Goulart sobre seus pais: 'Talvez ainda me comunique com eles'
Beth Goulart, 62, em entrevista ao Estadão.
Opinião dos pais Nicette Bruno e Paulo Goulart sobre o teatro. "É engraçado, o que leva a gente a escolher um projeto e não outro, é uma coisa muito sutil, mas que começa com uma identificação. A escolha vem de uma relação pessoal com o tema. Tenho uma intuição forte, talvez de alguma maneira eu ainda me comunique com eles, mas a escolha é pessoal porque é você que vai viver aquilo. A arte é o ponto de vista do artista, é muito autoral. Interpretar significa o seu entendimento daquilo que você quer falar, então ninguém pode fazer isso por você. Nós trocávamos muito e era maravilhoso, mas a decisão final sempre era pessoal."
Com pais artistas, o teatro sempre fez parte da vida de Beth. "Entrei em cena pela primeira vez com três anos de idade para acompanhar meu pai. O teatro sempre fez parte do nosso cotidiano. Uma das coisas que eu mais gostava de fazer era acompanhar os meus pais nos ensaios. Talvez por isso a direção tenha vindo de uma maneira tão natural na minha trajetória artística, porque eu acompanhava as direções do Abujamra, por exemplo. O teatro sempre foi templo, casa e ninho, um ponto de ampliação do mundo."
Livro e peça de teatro sobre a morte do pai. "A escrita sempre esteve presente na minha vida e sempre foi uma maneira de me autoconhecer. Logo após a morte do meu pai, eu e minha mãe adaptamos Perdas e Ganhos para o teatro. Foi uma experiência muito forte, que nos ajudou muito no processo de superação da morte do meu pai. Isso me uniu muito mais à minha mãe, porque nós tivemos uma troca profissional intensa num momento em que vivíamos ao mesmo tempo essa perda. Houve uma entrega e uma cumplicidade até maior entre nós a partir daí. Depois fomos convidadas para escrever um livro sobre isso."
Perda da mãe para o covid. "Para você ver como a gente é surpreendida pela vida a cada momento, né? Nós começamos a escrever, só que no início do trabalho a mamãe pegou covid e partiu em 21 dias. Ela, que ia dividir comigo a escrita, acabou virando o tema do livro. Eu comecei falando da perda do meu pai e me surpreendi falando da perda da minha mãe. Perder a mãe é muito profundo, te joga naquele lugar 'bom, agora é com você'. Você se sente meio órfão mesmo, tem que rever tudo. Você, o mundo e você no mundo. A experiência foi muito dolorida e transformadora e eu acabei fortalecendo a minha voz interior através desse processo. A escrita foi um instrumento muito potente. Ao escrever eu elaborava determinadas sensações, sentimentos, e aquilo ia curando, de certa forma, as minhas feridas. Assim eu ia encontrando caminhos criativos para vivenciar um momento muito difícil."
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