Era pouco mais de 22 horas do sábado. Eu estava cansada e pensando com certa aflição no tanto de trabalho que teria pela frente pela cobertura do festival João Rock, em Ribeirão Preto. Tentava adiantar o que ainda precisaria fazer, quando uma amiga mandou uma mensagem dizendo que estava indo para o Palco Aquarela ver Ana Carolina cantar Cássia Eller.
Deixei meu computador guardado e atravessei metade do parque permanente de exposições para encontrá-la — não havíamos conseguido nos ver até então, e só se vive uma vez.
Depois de uma luta de muitos minutos para encontrar minhas companhias, consegui enfim respirar e olhar para o que estava à minha volta. Para a minha surpresa, apesar do cansaço, me senti no lugar mais confortável do mundo.
Digo com tranquilidade que nunca em minha vida estive tão cercada de pessoas com quem me identifico tão bem. Olhava ao redor e via vários casais de mulheres, de mãos dadas, se abraçando e esperando felizes pelo momento em que Ana Carolina entrasse no palco.
Minha amiga perguntou, em tom de brincadeira, se alguma vez na vida eu já havia visto tantas mulheres lésbicas por metro quadrado. Obviamente, a resposta foi não.
Ali, havia todos os estereótipos que você possa imaginar. Casais apaixonados, uma quantidade assustadoramente grande de mulheres usando chapéu de cowboy, uma variedade infinita de gorros e toucas. Carinhosamente, apelidei aquele público de "convenção de sapatão" — um termo que, vale ressaltar, você só pode usar se for da comunidade LGBTQIA+.
Quando Ana Carolina entrou no palco, vestindo seu terninho e óculos escuros e já entoando de cara "Malandragem", nenhuma daquelas vozes ficou em silêncio. De onde eu estava, não foram poucos os comentários que ouvi sobre o quanto a artista exalava beleza. Deixei o lado profissional um pouco de lado e cantei e me diverti. Vi casais se beijando e senti saudades da minha noiva pela segunda vez naquele dia.
Precisei sair do show antes do fim porque ainda havia um último compromisso a cumprir na minha agenda — compromisso esse que foi desmarcado e só fiquei sabendo quando estava na metade do caminho de volta para a sala de imprensa. "Não acredito que saí da convenção de sapatão à toa", lamentei.
Fiquei triste por não ver o show até o fim, mas vi o suficiente para já procurar a data da próxima apresentação em São Paulo na intenção de reservar dois ingressos. Quem puder, vá. Ana Carolina reinterpreta Cássia Eller com uma força tão absurda que é difícil tirar os olhos.
*A repórter viajou a convite do festival.
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