'Ainda é tabu': artistas do universo gospel que revelaram ser LGBTs

O cantor gospel Jessé Aguiar, 21, usou as redes sociais nesta semana para revelar que é homossexual. O anúncio aconteceu dias após o pastor André Valadão ser criticado por radicalizar seu discurso contra a comunidade LGBTQIA+.

"Meu nome é Jessé, tenho 21 anos de idade e sou gay. Não estou aqui pra confirmar boatos, não estou aqui pra afirmar teses, nada disso. Estou aqui, mesmo, pra cumprir e fechar um processo que acho que estou vivendo desde meus 12 anos, quando descobri minha sexualidade."

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Em seu relato, disse que a religião dificultou o processo de autoaceitação e que chegou a sofrer de depressão em meio a essa situação.

Começou uma luta dentro de mim, uma luta interna. Nenhum método conseguiu arrancar esse lado. Isso começou a desgastar minha alma, meu coração. E foi onde desenvolvi a depressão e ansiedade. Mas não queria contar o porquê.

Mas Jessé não é o primeiro artista do universo gospel a revelar que é da comunidade LGBTQIA+. Confira outros nomes:

Ella

Em abril de 2022, a ex-cantora gospel Ella se afirmou mulher trans e a notícia repercutiu ao redor do Brasil — antes de fazer a transição, era conhecida como Jotta A, menino que cresceu se apresentando no programa do Raul Gil no SBT. Recentemente, mostrou o resultado final da transição de gênero.

No ano passado, prestes a lançar a música pop "Éden", ela falou sobre seu processo de libertação e o que esperava representar para outros jovens da comunidade LGBTQIA+ em papo exclusivo com Splash.

A questão da sexualidade e gênero na igreja ainda é um tabu muito grande a ser quebrado. Usam a religião como arma para justificar o preconceito. Fico feliz de ser uma pessoa que gera debates. Empatia é a melhor representação de Cristo... A transexualidade é existente mesmo quando você não tem uma peruca na cabeça, um salto nos pés ou o poder de comprar um vestido. Me entender como mulher vem desde a infância.

Sam Alves

Filho de pastores, Sam Alves gravou um disco independente de música gospel "Chuva Serôdia", com sua irmã Samara. Em 2017, já em fase pop, o vencedor do The Voice Brasil 2013 revelou ser homossexual.

O cantor, que vive nos Estados Unidos e compartilha momentos ao lado do namorado, o influenciador Leo Moura, lançou dois álbuns após vencer o reality musical global.

"Jesus disse: 'A verdade vos libertará'. Eu me aceitei como um homem gay há alguns anos já, mas não tinha contado à minha família até recentemente. Eu quis ter a oportunidade de poder dizer a verdade e, ao mesmo tempo, tentar explicar que não é tão fácil quanto pensam expor publicamente sua sexualidade, especialmente para alguém que trabalha no meio artístico, e filho de dois pastores. E eu não queria projetar uma carreira, e a minha vida toda, envolta de uma imagem de uma pessoa que eu não sou", escreveu ele no Instagram.

Gil Monteiro

Católico, o cantor Gil Monteiro viu os convites diminuírem após dizer que é gay em 2022. Em conversa com Splash, denunciou sofrer boicote em razão da sua orientação sexual e falou da importância de espaços de música cristã serem abertos à população LGBTQIA+.

"Nós não vamos desistir, o Brasil é o país que mais mata LGBTs no mundo. A arte tem relevância social. Jesus ensinou que o Evangelho que não se vive não existe. Eu tenho que contar a minha história e cantar as minhas músicas para acolher quem se identificar com elas", disse.

Eu não sou um erro de Deus. Eu sou um acerto. Deus me criou intencionalmente como um homem gay.
Gil em entrevista a Splash em julho de 2022.

Lanna Holder e Rosânia Rocha

A pastora Lanna Holder e a cantora gospel administram juntas uma igreja evangélica aberta à comunidade LGBTQIA+. No entanto, nem sempre foi assim. Lanna ficou famosa por pregar a "cura gay" em seus cultos e dizer que havia sido "curada" da homossexualidade e ser uma ex-lésbica. Chegou a ser casada com o pastor Samuel David, com quem tem um filho, Samuel, 21.

Rosânia Rocha também foi casada com um pastor, mas as duas se conheceram em 2002 e se apaixonaram. Elas se divorciaram e assumiram o relacionamento anos depois.

Minha primeira paixão por uma menina aconteceu na escola aos 12 anos. Junto veio o meu primeiro contato também com o preconceito, já que, por esse motivo, eu fui expulsa da escola. Minha mãe me trazia palavras muito duras sobre essa questão, porque ela já tinha duas irmãs lésbicas. Ela me dizia que se descobrisse que eu estava me envolvendo com outras meninas, eu iria sofrer as consequências, com ela e com Deus.
Lanna Holder em relato pessoal ao site Terra em 2013