Cambistas x swifties: fila tem 'guerra de tendas', intimidação e churrasco
Não tem frio, garoa ou cambista que tire os cerca de 50 fãs de Taylor Swift de um acampamento montado em frente ao Allianz Parque, na zona oeste de São Paulo. São jovens à espera de um novo lote de ingressos para o show da cantora, que acontecerá em novembro.
Eles dizem dividir a "área de camping" com cambistas e afirmam estar sob as regras de quem quer comprar os bilhetes para revender. A disputa por um bilhete tem até uma espécie de "código de conduta", e fãs relatam intimidação. A prática de cambismo é ilegal.
Segundo afirmam os swifties (como são chamados os fãs da cantora), os cambistas estão dormindo no local e fizeram até um churrasco na noite desta segunda-feira — pouco depois da agitada venda de ingressos que acabou em confusão, gritaria, gente frustrada e até polícia para conter os mais emocionados.
Os fãs alegam que a fila não foi respeitada, o que fez com que nem todos os que estão dormindo ali há dias conseguissem garantir os ingressos para os setores desejados.
Já na internet, a venda se esgotou em 10 minutos, após uma fila on-line com mais de um milhão de pessoas se formar.
Todas as expectativas agora estão na data extra dos shows. E os fãs pretendem manter as barracas ali, pelo menos até o próximo dia 22, quando uma nova leva de ingressos deverá ser vendida na bilheteria física.
Acampamento de fãs... e cambistas
As primeiras barracas surgiram no Allianz no dia 2 de junho, quando a turnê de Taylor Swift foi anunciada. Nesta terça, já eram cinco — cada uma com dez fãs, que se revezam para não perder o lugar.
Segundo eles, esse número máximo foi imposto pelos supostos cambistas que também estão na frente do estádio.
"Se tiver mais gente, eles derrubam a barraca", disse uma jovem que não quis se identificar.
Enquanto as "regras" são respeitadas, é possível viver em harmonia. Já foi acordado, por exemplo, que, no dia 22, os fãs que estão nas cinco primeiras barracas terão prioridade na compra.
Já quem chegar a partir de hoje vai ter de esperar — pelo menos é o que diz a diplomacia que se instalou ali. Nesta terça, os supostos cambistas já ocupavam 12 barracas, segundo os fãs.
"Eles [cambistas] entram e contam quantas pessoas têm em cada barraca de fã. E a gente prefere não entrar em conflito com eles", completam. A turma de jovens admiradores da Taylor não foi chamada para o churrasco, segundo disseram.
Segundo os fãs, a organização do evento não informa quantos ingressos serão liberados para a venda presencial. Isso dá um clima de incerteza para quem dorme ali — mesmo com tanto sacrifício, o ingresso não está garantido.
Eles ainda temem pela própria segurança, mas não pensam em abandonar as amizades feitas no "camping" nos últimos dias.
Quem tem o cartão do banco patrocinador do evento terá uma chance no dia 19 (quando um lote específico será aberto). Quem não tem vai pedir emprestado ou tentar a sorte no dia 22.
Barracas itinerantes
Em meio às barracas, também há os "acampados profissionais" — que até migram de show.
"Vou desfazer a minha barraca no dia 17 e montar do outro lado, já para o show do RBD", diz uma das jovens que já garantiu o ingresso para ver Taylor Swift e agora arma a estratégia para ter um bom lugar na apresentação da banda mexicana.
Serão cinco meses debaixo de sol, chuva, vento. Os shows do RBD acontecem nos dias 16, 17 e 18 de novembro no Allianz, uma semana antes das apresentações da Taylor.
Alguns dias antes, no dia 10 de novembro, a jovem que preferiu não se identificar ainda vai acompanhar o show do Red Hot Chili Peppers no estádio do Morumbi.
Vale tudo por um ingresso
Os fãs fazem de tudo pela "loirinha", como chamam carinhosamente a cantora. Uma das meninas acampadas no Allianz na manhã desta terça contou que conseguiu um atestado médico para apresentar no trabalho e conseguir ficar lá.
Minha chefe não pode saber. Mas é isso: ou dá um jeito ou não tem barraca
Ela contou que ficou dois dias sem tomar banho. Para fazer xixi e comer, usam o posto de gasolina que fica próximo ao acampamento e funciona 24 horas.
Das 10 horas às 22 horas, dois shoppings na região fortalecem a base: ali, elas carregam os celulares e as baterias extras.
Para comer, fast food. "Aqui é tudo superfaturado, um pedaço de torta é R$ 10. É salgadinho e o 'combão' do McDonald's", conta uma das jovens. Se a chuva apertar, elas têm lona para proteger a barraca. "Às vezes dá conta", completa a outra fã.
A compra presencial tem algumas vantagens: pode passar no débito e não tem a taxa de 20%. Mas, para a maioria, é só uma "chance extra" de conseguir o ingresso.
"No site, sem chances, é completamente impossível", avalia o estudante Gustavo Cardoso, de 18 anos.
Ele chegou à barraca na terça-feira passada e conseguiu comprar o ingresso na quinta, na pré-venda do banco patrocinador. Gustavo continua na fila para ajudar duas amigas a conseguirem o ingresso — e, quem sabe, um extra para ele.
[Acampar] não é uma experiência aterrorizante como parece. Vale tudo pela Taylor, sou apaixonado por ela. E é a única pessoa para quem eu faria isso
Já a estudante Giullia Siqueira, de 18 anos, chegou nesta terça à barraca de Gustavo. Ela tentou comprar o ingresso pela internet na segunda-feira e se deparou com 530 mil pessoas na frente dela.
"Estou confiante que vou conseguir."
O que diz a polícia
Procurada pela reportagem sobre a presença de cambistas no Allianz, a Polícia Militar afirmou que "reorientou e intensificou o patrulhamento, com pontos de estacionamento, rádio patrulha, rádio patrulha com motocicletas, base comunitária Móvel e emprego de policiamento da atividade diária especial por jornada de trabalho policial militar (Dejem)".
Já a Polícia Civil ressaltou que o 23º Distrito Policial, responsável pela região, investiga a possível atuação de cambistas.
Splash procurou Tickets 4 Fun e o Allianz Parque para saber sobre as vendas dos ingressos e também sobre os relatos de insegurança. O texto será atualizado se houver retorno.
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