PM réu por matar músico ironizou assassinato: 'Queria dormir, agora dormiu'
O policial militar Lucas Torrezani, 28, preso por matar o músico Guilherme Rocha em um condomínio em Vitória, no Espírito Santo, ironizou o assassinato em um grupo de mensagens no WhatsApp. O agente afirmou que agora a vítima, morta após reclamar do barulho em prédio, poderia dormir.
No dia seguinte ao crime, o PM mandou em um grupo de WhatsApp a seguinte mensagem: "Ele queria dormir, agora dormiu", segundo consta na decisão do Tribunal de Justiça do Espírito Santo.
A juíza Lívia Regina Savergnini destacou que a atitude de Lucas demonstra total frieza. "A forma de execução do crime demonstra que o acusado conta com personalidade desprovida de sensibilidade moral, sem um mínimo de compaixão humana, não valorizando, destarte, o semelhante de forma a ser possível a convivência social."
Sobre a troca de mensagem, Lívia declarou que Lucas "demonstrou total desapego à vida da vítima Guilherme". A juíza menciona que, logo após os tiros, Lucas ficou acompanhando Guilherme agonizar até morrer enquanto terminava de ingerir a sua bebida alcoólica.
O comportamento do PM, segundo a juíza, fortalece a decisão de mantê-lo afastado da sociedade. "A imposição de sua custódia cautelar se mostra necessária para preservação da ordem pública e da instrução processual, pois presente a possibilidade de repetição da conduta em virtude do acusado novamente consumir de bebida alcoólica na posse de arma de fogo e, com isso, perder o autocontrole e voltar sua frustração contra outra pessoa por mero desentendimento."
A juíza ainda reforça que o réu ocupa um posto de trabalho que difere totalmente do ocorrido. "No ponto, registro que o acusado Lucas ocupa o cargo de policial militar e, a meu sentir, tal função é incompatível com a conduta que lhe é atribuída nos presentes autos, porquanto o exercício desse nobre e heroico mister exige estrita observância aos ditames legais e incansável atuação para preservação da ordem pública, justamente o contrário do narrado nos autos. Além disso, nota-se que o denunciado é pago com limitados recursos públicos para combater o crime e não para praticá-lo."
A defesa de Lucas Torrezani disse que ainda não foi intimada em contato com Splash. "Entretanto, restou provado ao longo do inquérito policial que o aludido não colocará em risco o andamento do processo, tendo em vista que no atual cenário não se encontram presentes os requisitos da prisão preventiva".
"Tal decisão será combatida no intuito de demonstrar que não há fundamentos para se sustentar uma segregação prisional, e espera-se que o Judiciário faça essa reparação. Cabe ressaltar que a presente ação se encontra na fase embrionária e no momento oportuno será esclarecida a realidade dos fatos", afirmou o posicionamento assinado pelos advogados Taylon Gigante e Carlos Pagiola.
O que aconteceu?
Lucas Torrezani de Oliveira atirou contra Guilherme Rocha, 37, em uma área comum do prédio em que moravam na madrugada de 17 de abril, no bairro Jardim Camburi.
A síndica do prédio chamou a polícia e o PM se apresentou como autor do disparo quando os colegas de farda chegaram.
O PM alegou legítima defesa e foi liberado após se apresentar à delegacia, deixando a arma apreendida no local.
Imagens de câmeras de segurança, contudo, mostraram que não houve legítima defesa e o PM foi preso de forma temporária. Lucas se manteve em silêncio no momento da prisão.
No vídeo, é possível ver que outro homem estava com o policial no momento em que Guilherme entrou na área comum do condomínio. A vítima manteve as mãos para trás durante a discussão, mas foi empurrada pelo amigo do PM e caiu após levar um tiro.
Guilherme desceu do apartamento em que morava para reclamar da música alta e do barulho feito pelo PM, segundo investigação da polícia. Lucas consumia bebida alcoólica no momento do crime, segundo boletim de ocorrência.
"Tive acesso a duas ocorrências do próprio condomínio informando esse tipo de algazarra. Salta os olhos esse tipo de conduta. A vítima estava muito incomodada. Vi que era bem próximo do apartamento dele [o barulho]. Isso realmente incomoda às três da manhã. Isso foi o estopim", disse o delegado Marcelo Cavalcanti, titular do DHPP de Vitória.
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