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De 'casa nova' Globo de Ouro promete mudanças, mas reúne novas polêmicas

Gabriel LaBelle, Steven Spielberg e Michelle Williams, de "Os Fabelmans", no Globo de Ouro - Daniele Venturelli/WireImage
Gabriel LaBelle, Steven Spielberg e Michelle Williams, de "Os Fabelmans", no Globo de Ouro Imagem: Daniele Venturelli/WireImage

De Splash, em São Paulo

19/06/2023 12h00

Rodeado de polêmicas desde fevereiro de 2021, quando o jornal LA Times publicou uma reportagem escancarando os bastidores controversos das votações, o Globo de Ouro agora está de casa (e cara) nova. Isso significa que, a princípio, tudo pode mudar. Mas será que essas mudanças existem mesmo, na prática?

O que aconteceu?

Os ativos do Globo de Ouro foram adquiridos pela holding Eldridge Industries, de Todd Bohely, e pela multinacional Dick Clark Productions, que já produzia a premiação.

Antes, o Globo de Ouro era de posse da HPFA (sigla para Associação de Imprensa Estrangeira em Hollywood), organização sem fins lucrativos composta por 95 jornalistas de entretenimento internacionais.

Uma nova organização sem fins lucrativos, chamada Golden Globe Foundation, vai manter os trabalhos filantrópicos e gerenciar os recursos existentes da HFPA.

A HFPA é composta por 95 membros. Sob a nova diretriz, todos os que permanecerem agora receberão um salário, sendo funcionários no cargo de votantes e publicitários. Antes, a função não era remunerada.

Mudança foi criticada por criar divisão entre votantes

Além dos 95 membros, o corpo votante foi expandido nos últimos anos, para incluir membros da imprensa internacional fora da área de Los Angeles e dos EUA.

Isso aconteceu após uma investigação revelar a falta de diversidade e ausência de membros negros na HFPA. A organização lucrava em pagamentos aos seus próprios membros e utilizava práticas que levantaram preocupações sobre a ética e a idoneidade financeira do grupo.

O pagamento feito aos 95 membros "originais", não será estendido ao corpo internacional, trazido justamente para levantar a moral da premiação.

Para o jornalista americano Mark Harris, autor de três livros sobre a história do cinema estadunidense e com passagens por veículos como Entertainment Weekly, Slate e New York Magazine, a manutenção dos mesmos votantes não é algo positivo.

"São os mesmos membros, mas não é mais a HFPA? Bom saber que o Globo de Ouro vai manter suas duas tradições mais sagradas: procedimentos questionáveis e caos desconcertante."

Empresa que adquiriu o Globo de Ouro é dona de grandes veículos de mídia especializados em Hollywood

A Dick Clark Productions (DCP) faz parte da Penske Media Corporations (PMC), uma empresa de mídia digital que é dona de veículos como The Hollywood Reporter, Variety, Deadline, IndieWire, TVLine, Billboard e Rolling Stone - para citar apenas alguns.

Conflito de interesses pode manchar ainda mais. Um dos problemas que acende um alerta é que parte destes veículos (sobretudo as chamadas trades, revistas especializadas em Hollywood) lucra com anúncios durante a temporada de premiações. As séries e os filmes que buscam uma indicação pagam por anúncios em grandes veículos para serem notadas por votantes.

Com tudo fazendo parte da mesma empresa, a realidade é que as mudanças podem não melhorar muito a relevância do Globo de Ouro. A marca agora é de posse de pessoas que apenas pretendem monetizar a atração televisionada.

Para o empresário Todd Bohely, que se tornou CEO interino da organização em 2021 e é o dono da Eldridge Industries, mudar de uma organização sem fins lucrativos para algo que visa o lucro atrela mais responsabilidade e pode ser um caminho para acabar com os escândalos e a má-fama.

"Como você responsabiliza as pessoas? Você faz a transição de uma organização que não visa lucros e tem má administração para uma organização em que o funcionário precisa demonstrar responsabilidade", declarou em entrevista ao LA Times em dezembro do ano passado.

Quais foram as denúncias contra o Globo de Ouro?

A investigação publicada pelo LA Times em 2021 revelou a ausência de membros negros e que alguns jurados ganharam uma viagem de luxo para o set de "Emily em Paris", série que foi posteriormente indicada. Além disso, os membros costumavam aceitar outros presentes, como relógios de luxo e outros.

No mesmo ano, o então presidente foi demitido após compartilhar por e-mail um artigo que categorizava o movimento "Black Lives Matter" como "movimento de ódio". Ele foi substituído por Todd Boehly.

A cerimônia foi boicotada e ficou sem transmissão televisionada em 2022. Ela voltou para a TV este ano.