Will Smith dá outro 'tapa na cara' em 2ª temporada da série 'Bel-Air'
A segunda temporada de "Bel-Air" finalmente chegou aos streamings brasileiros no final de maio. O reboot dramático da famosíssima sitcom "Fresh Prince of Bel-Air", estrelada por Will Smith, entre 1990 e 1996, e nacionalmente conhecida aqui como "Um Maluco no Pedaço", segue complementar à série original tocando em pontos sensíveis a toda comunidade negra, sendo uma espécie de "tapa da cara" do racismo.
Produzidas pelo próprio Will Smith, as duas temporadas de "Bel-Air" mostram uma série em evolução e que complementa o produto original sem ferir a memória afetiva dos saudosistas. É uma produção que deve ser assistida por negros mas principalmente por pessoas brancas, uma vez que provoca a autocrítica e sensibiliza o público de forma empática a refletir sobre questões raciais que envolvem países como o Brasil e os EUA.
Do cômico à intensidade
Para quem ainda não conferiu, a trama segue a mesma narrativa de "Um Maluco no Pedaço": após se envolver em uma confusão na Filadélfia, o jovem Will Smith (agora vivido pelo ator Jabari Banks) é enviado pela mãe para a Califórnia (EUA) para viver na luxuosa mansão da família Banks, formada pelos tios Phil e Vivian, e pelos primos Carlton, Hilary e Ashley. O leal Geoffrey Thompson também está presente, mas na versão Bel-Air abdica da função de mordomo e vive uma espécie de administrador familiar com ares de detetive particular.
Embora as questões raciais sempre tenham permeado "Um Maluco no Pedaço", a narrativa de 1990 ganhava tom cômico, mesmo abordando temas espinhosos como violência policial, relacionamentos inter-raciais, machismo e as diferenças sociais. Já "Bel-Air" é assumidamente uma série dramática. Aborda os mesmos temas, mas com intensidade e sensibilidade provocando em diversos momentos uma sensação de "tapa na cara" quando comparamos certas situações na série com a vida real.
Em um dos episódios da segunda temporada, por exemplo, os alunos negros da Bel-Air Academy encabeçam um protesto contrário a demissão da professora negra Mrs. Hughes, vivida por Tatyana Ali, a Ashley da série original.
A professora foi desligada da instituição por utilizar, em sala de aula, livros de intelectuais negras como a historiadora Robyn Spencer e a escritora Austin Channing Brown, inclusive emprestando os livros de ambas as autoras para a pequena Ashley.
Tal conduta foi encarada pela direção da escola como violação do conteúdo programático. Muito semelhante ao que já ocorreu aqui no Brasil com a discussão no Congresso do projeto de lei chamado "Escola Sem Partido". Seus autores justificaram que a lei seria necessária para evitar a doutrinação de alunos, mas freava a liberdade de expressão dos professores em trabalhar temas como racismo e questões de gênero em sala de aula.
A pluralidade negra dentro da mesma família
Esse mesmo episódio também demonstra ainda mais as diferenças entre Will e seu primo Carlton. O primeiro é letrado racialmente, tem uma origem periférica e mergulha de cabeça no protesto da escola. Já Carlton, oriundo de uma família rica, quer garantir um bom relacionamento com diretoria da escola e chega a questionar inúmeras vezes a sua própria participação no ato antirracista.
Na primeira temporada de "Bel Air", lançada em 2022, somos imersos na adaptação de Will em seu novo lar e na rivalidade com o seu primo Carlton, gerada pelas diferenças sociais de ambos. Tais diferenças são mais pesadas, embora contextualizadas tanto quanto em "Um Maluco no Pedaço". Na série original, as "tretas" entre Will e Carlton são centrais em determinados episódios, mas nunca se sobressaem à finalidade cômica da série.
Nesta nova versão, o contrário se torna regra. As rivalidades, inclusive raciais, de Will e Carlton - embora este vá, aos poucos, se encontrando nos ideias do primo- imperam na versão dramática, fazendo qualquer adolescente que vive esta realidade, aqui ou nos EUA, se reconhecer nas interrogações aguçadas entre os episódios.
Outros episódios dão um "quentinho no peito". No encontro anual da grandiosa família Banks na mansão em Bel-Air, por exemplo, entre uma competição de futebol americano, um concurso de tortas e um jogo de cartas, se aborda, de forma sutil, as masculinidades negras ao mostrar como pais e filhos negros são moldados pela ausência de afeto, seja pela masculinidade tóxica ou por dificuldades vividas pelo contexto social.
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