Ex-repórter critica Globo e não se arrepende de post sobre Deborah Secco

A repórter Flávia Jannuzzi foi uma das atingidas pelo grande corte de jornalistas que a Globo fez em abril.

Jannuzzi trabalhava na emissora havia 25 anos e estava havia 16 na Globo do Rio de Janeiro, em noticiários regionais e nacionais, como o Jornal da Globo e o Jornal Nacional, e na cobertura de eventos como o Carnaval carioca e o Rock in Rio.

Em entrevista a Splash, Flávia conta que sua saída da emissora foi "traumática" e "horrível". Segundo ela, uma lista de pessoas que seriam demitidas começou a circular entre os funcionários no WhatsApp e ela só soube que seria dispensada porque pessoas próximas começaram a se despedir dela de repente.

"No dia das demissões eram bolinhos de pessoas, ninguém trabalhando, todo mundo chorando. Os colegas iam sendo chamados um a um pra serem demitidos. Parecia uma lista de Schindler ao contrário, uma coisa horrorosa, [estavam] sendo abatidos pouco a pouco. Tem colegas que saíram de reportagens para serem chamados e foram demitidos fazendo reportagem. [Era] um clima horroroso, um clima de funeral", diz.

A reportagem entrou em contato com a assessoria da Globo, mas não obteve retorno. O espaço segue aberto.

O repórter Eduardo Tchao, que também era da Globo do Rio de Janeiro, já afirmou em entrevista que foi demitido enquanto gravava uma matéria. Segundo ele, foi uma situação "chata" e "constrangedora".

A forma como tudo aconteceu foi muito fria. Eu tive uma vida dedicada à emissora. Como todo jornalista que se empenha na profissão e que acredita no propósito que ele tem que cumprir, eu me dediquei muito, foram muitas renúncias. Teve muita entrega. Me dediquei demais a uma emissora que me descartou como se eu fosse um número e eu fui só mais um número. Flávia Jannuzzi

Flávia afirma que estava insatisfeita com o trabalho na emissora e já pensava em sair. A falta de crescimento e o que ela descreve como uma "política de relações" seriam os principais motivos. No entanto, diz que a demissão foi um "baque" e que não conseguiu buscar os pertences que deixou na empresa.

"Eu não tive estômago de voltar na redação. Eu não consigo passar pelo Jardim Botânico ainda. Me dá um mal-estar, um negócio que eu não consigo dizer o que é. Eu ainda não superei, mas vou superar", lamenta.

Crítica a figurino de Deborah Secco: "Apaguei, mas continuo pensando daquele jeito"

Em novembro do ano passado, Jannuzzi criticou abertamente os visuais escolhidos por Deborah Secco na cobertura da Copa do Mundo. A atriz participava do programa Tá Na Área (SporTV).

"Bora cortar a blusinha pra distrair a galera, né? Só Jesus" e "achei uó!" foram alguns dos comentários que a jornalista fez em seu perfil nas redes sociais sobre o figurino de Secco.

Jannuzzi diz que a atitude pode ter sido um "agravante" para sua demissão. Ela afirma que alguns dias depois de fazer as publicações, recebeu uma ligação de um superior pedindo que ela apagasse a postagem.

"Eu tirei a postagem, mas eu continuo pensando exatamente como eu botei ali. Pra quê? Num ambiente de trabalho, eu acho que tem um [código de vestimenta] de acordo com o lugar em que você está. [...] Agora, eu aprendi que ali eu não posso falar o que eu penso", diz, acrescentando que não achou que seus comentários repercutiriam tanto dentro e fora da emissora.

Apesar disso, ela afirma que o clima por trás das câmeras era similar: várias outras repórteres do esporte estariam "detonando" as roupas de Secco e teriam até elogiado a coragem da jornalista, mas não se manifestaram publicamente.

Talvez eu tenha sido mal entendida ali. [...] Fizeram uma leitura como se eu fosse a machista, como se eu estivesse detonando uma mulher. Não foi essa a ideia, porque eu acho a Deborah linda, ela é maravilhosa. Não é uma coisa contra a Deborah Secco. Foi uma coisa de código de vestimenta para um lugar que, no meu ponto de vista, não era adequado. Flávia Jannuzzi

Novo trabalho

Desde que saiu da Globo, Flávia está investindo em um hobby que virou negócio durante a pandemia: arranjos florais.

"Eu acho que pode ser uma inspiração para muitos jornalistas que, de repente, buscam uma segunda fonte de renda, um plano B. Uma inspiração pra realmente investigar internamente o que você gosta de fazer e começar realmente a produzir outros conteúdos, outras coisas", diz.

Apesar de sentir falta da televisão e afirmar ter recebido propostas de emprego após a demissão, ela diz que não pensa em voltar agora para o mesmo trabalho que fazia antes.

"Tenho saudade só de matérias gostosas, não de ficar plantão, sentada na calçada, como já fiquei algumas vezes. [...] Eu estou com vontade de fazer o que eu quero. O conteúdo que eu quero, no audiovisual", finaliza.