Dias em fila, 'banho de gato': fãs de Taylor acampam para comprar ingressos
Ser fã de divas pop nem sempre é fácil. É o que mostram os fãs de Taylor Swift, cantora norte-americana que se apresenta em São Paulo e no Rio de Janeiro em novembro deste ano.
Alguns deles estão acampados há dias nas bilheterias do Allianz Parque (SP) e do Engenhão (RJ) para comprar os ingressos dos shows extras no Brasil e conseguir realizar o sonho de ver a cantora de perto.
Splash foi até os estádios nas duas cidades para conhecer esses fãs. Eles dividem muitos perrengues, mas também fazem novos amigos e criam histórias para guardar o resto da vida.
As primeiras
Na Allianz Parque, a primeira barraca estava com duas ocupantes, que preferiram não se identificar. A Splash, elas contam que a barraca está no local desde janeiro deste ano, quando já imaginavam que Taylor Swift viria ao Brasil.
Mesmo com a antecedência, algumas das ocupantes não conseguiram comprar as entradas desejadas; por isso, continuam na luta.
Elas avisam que, uma vez que conseguirem os ingressos, não vão embora. Continuarão no local até novembro para também conseguirem um lugar privilegiado no show.
No Rio, quem chegou primeiro foi Leticia Monteiro, 20, estudante Medicina Veterinária. Ela vai passar mais de 60 horas na fila ao lado da mãe, que também vai ao show, e do pai, que está ali para ajudar na segurança e comprar os tickets de quatro sobrinhos.
Não é fácil manter a higiene e fazer as necessidades básicas. Ela conta a Splash que toma "banho de gato" e usa banheiros da região. Ela, aliás, já tem um "mapa" dos melhores e piores banheiros.
"Tem um banheiro químico ali atrás. Tem o banheiro do posto, mas tá estragado. Na semana passada funcionava. Tem o da Igreja e o da (escola) NAVE, o melhor, o mais certinho. Gosto de lá", disse ela, enquanto a mãe chegava com água renovada do bebedouro da NAVE.
Lá de longe
Alejandro, 42, não mediu esforços para acompanhar o filho, menor de idade, no show da Taylor Swift e veio do Paraguai para São Paulo. A Splash, ele conta que a ideia inicial era estar presente no show marcado para 2020, mas foi adiado em decorrência da pandemia.
Acampando no Allianz Parque desde terça-feira, o paraguaio nem tentou comprar pela internet. "É impossível, mas fácil dormir aqui."
Bem acompanhado
Mateus Albuquerque, 27, técnico em edificações, está revezando na fila para comprar ingressos para a amiga da esposa. Ela já conseguiu as desejadas entradas, mas a amizade fala mais alto e o casal tenta comprar para elas.
No entanto, o homem não está sozinho: o cãozinho Paçoca o faz companhia. O shitzu de quatro anos virou mascote das pessoas da fila em São Paulo. "Estamos desde segunda-feira nos revezando para ficar aqui, e o Paçoca está tranquilo. Fazemos trilhas e costumamos levá-lo com a gente."
Sem ingresso?
Ao conversar com os presentes na fila para comprar ingresso, é possível perceber que o problema não é a falta de entradas, mas o que muitos relatam é não ter o ingresso específico que queriam.
Em São Paulo, os valores vão de R$ 190 (com visão parcial) até R$ 1.050 na pista premium. Há também entradas vips, com direito a entrar mais cedo no dia do show, pelo valor de R$ 2.200.
É o caso do confeiteiro Richard Sanches, 24, que chegou à fila no domingo. "Estávamos em uma posição boa da fila, era quase certeza que ia rolar os ingressos. A gente começou a andar e apareceu uma fila de preferencial com zilhões de pessoas."
"Dez minutos depois, tinha vip de R$1.250, R$1.750 e R$2.200. A gente até ia pegar, mas eu não conseguia pagar esse valor. Quando olhei para trás, já tinha essa fila, e a gente ficou."
O mesmo aconteceu com a autônoma Sara Beltrin, 42. "Passaram muitas pessoas na frente. Quando eu fui perguntar, só me foi dito que era preferencial. Estávamos parados no sol. Ninguém ia ao banheiro ou tomava água. Estamos fazendo vários sacrifícios e fomos abandonados."
"Quando estávamos na fila ainda, avisaram que os ingressos meia-entrada estavam acabando e só teriam os mais caros."
Sara veio de Registro, interior de São Paulo, e está dormindo na barraca desde então. Para usar o banheiro, ela diz ir até o shopping Bourbon. Já para tomar banho, ela conta recorrer ao lenço umedecido e "fazer o que dá" também no banheiro do centro comercial.
Última chance
A venda dos ingressos de hoje é a última esperança da estudante Stephany Camyle, 18, que saiu de São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, para acampar no Engenhão ao lado da mãe.
Cheguei aqui na terça-feira, às 6h, e vou passar 48 horas na fila.
Ela tentou comprar ingresso na primeira venda geral, mas quando chegou à bilheteria só havia ingresso para a pista premium e o valor bem salgado — R$ 975. O acesso mais barato no Rio custa R$ 240 (meia-entrada no setor cadeira superior)
"Eu ia sair da fila quando soube que não tinha mais meia-entrada da arquibancada superior porque só tinha R$ 240, mas minhas irmãs e família me mandaram dinheiro e continuei na fila. Chegou a R$ 600, mas o valor da inteira da pista premium era R$ 975. Por isso, decidi acampar agora"
Na divisão de perrengues e alegrias, Stephany encontrou a estudante Rebeca Fernandes, 18, que tem apreensão com a segurança ao redor do estádio de futebol, em especial, a noite quando não há policiamento, segundo a jovem.
"Dormi com a carteira dentro da calcinha e boto várias roupas pra disfarçar e não fazer volume. Não quero ser roubada e perder minhas coisas."
Ela conta com o apoio de uma tia que mora perto do estádio para receber lanches e biscoitinhos. Em tom de brincadeira, ela diz: "Nunca mais, não faço isso por mais ninguém. É muita humilhação."
Acampar na porta do Allianz Parque, em São Paulo, não estava nos planos da estudante Julia Bonin, 21. "Eu estava na fila da pré-venda e foi esgotando, sobrando só pacote vip e pista inteira - não eram valores viáveis. Então eu falei que vinha na venda geral e com sorte conseguiria pegar."
Eu pensava: nunca vou acampar. Quando vi que não consegui ingresso, pensei: vou ter que acampar.
O mesmo aconteceu com Naunay, 18, moradora de Guarulhos (SP), que não conseguiu ingressos para os outros dias e viu a oportunidade no show extra. "Eu tô aqui em alma, porque estou aqui desde sexta e não consegui na pré-venda. Essa é minha última chance. Só quero estar lá dentro. A Taylor é minha mãezinha."
Cambismo
Fãs de Taylor disseram a Splash que agentes da organização estão trabalhando ativamente para tirar os cambistas da fila em São Paulo. O mesmo não aconteceu no Rio de Janeiro.
Seguidores da artista que preferem não se identificar relataram que em torno de 50 cambistas estavam na fila para comprar ingressos dos shows extra ontem. Eles ainda disseram que foram intimidados pelos supostos criminosos durante a madrugada de terça-feira durante apagão na iluminação externa do estádio.
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