A nova temporada de "Black Mirror" chegou à Netflix no dia 15 de junho e, com cinco episódios, a antologia aborda diferentes temas, como a espetacularização de crimes reais, a relação que mantemos com a tecnologia e também a maneira como damos acesso às nossas informações sem termos a plena consciência do que estamos fazendo.
A série se tornou novamente assunto ontem, quando Anitta usou as redes sociais para reclamar da nova leva de episódios.
"Alguém mais assistiu Black Mirror e não entendeu nada do porquê a série não é mais o que era? Parece até outra série. Não é mais sobre tecnologia, agora é 'thriller' aleatório, os diálogos mal feitos, as histórias bobas sem propósito... Que doideira", escreveu a cantora, no Twitter.
"O único episódio que segue o estilo da série é o primeiro... O resto vai só ladeira abaixo", acrescentou.
Será que Anitta tem razão?
Criada em 2011 por Charlie Brooker para a emissora britânica Channel 4, a produção apresenta diferentes histórias em episódios individuais que exploram uma diversidade de gêneros, com a maioria delas se passando em uma distopia de um futuro próximo, com tecnologias dignas de ficção científica.
"Black Mirror", então, se consagrou como uma série que utiliza das inovações tecnológicas e da mídia como ponte para comentar questões sociais contemporâneas.
A reclamação de Anitta acontece, pois, na nova temporada, há episódios nos quais a tecnologia não é mote principal, e isso não seria a proposta inicial da série. Ela também reclama da piora na qualidade dos episódios.
Piorou mesmo?
Entre os fãs de "Black Mirror", é quase unanimidade que as primeiras temporadas — que ainda eram produzidas pelo Channel 4 — são as melhores. Com a compra da série pela Netflix, a partir da terceira temporada, muitos começaram a reclamar dos capítulos.
A partir do terceiro ano, houve episódios que se tornaram esquecíveis e irrelevantes, que se apoiam em uma história sem graça, com um desenvolvimento leto, para ter uma reviravolta chocante e, assim, ganhar o espectador.
No entanto, a quinta temporada "se superou" e chegou a um patamar baixíssimo quanto à qualidade da série. São três episódios chatos e forçados. Particularmente, as expectativas ficaram tão ruins que, ao assistir ao sexto ano, simpatizei.
Concordo que os primeiros, das temporadas iniciais, ainda são melhores. Mas, se compararmos com a última lançada, a nova é muito superior.
Isso é tão 'Black Mirror'?
Dizer que a produção deve sempre ser sobre tecnologia pode ser um pouco raso, principalmente se pensarmos no primeiro episódio de todos, o "The National Anthem". Nele, o Primeiro-ministro britânico é obrigado a estuprar um porco ao vivo, em rede nacional, ou um terrorista mataria a princesa da Inglaterra.
Ele nega o máximo possível se submeter a isso, mas se vê sem saída e comete o ato. A reviravolta do capítulo inicial da série é bastante impactante, pois a monarca foi solta meia hora antes do ato obsceno acontecer, mas como todos estavam focados em assistir ao político se sujeitando a isso, ninguém percebeu - ou ligou - para o fato da princesa estar a salvo.
Analisar este primeiro capítulo nos faz entender principalmente que "Black Mirror" não é - e nunca foi - exclusivamente sobre tecnologia. Ele também é sobre tecnologia, mas é ainda mais sobre mídia e sociedade.
Na nova temporada, o segundo episódio, "Loch Henry", é o que nos mostra isso. Na história, acompanhamos um casal que vai a uma pacata cidade escocesa e acaba descobrindo uma assustadora verdade sobre um antigo caso e assassino em série.
No caso deste capítulo, não há intervenções tecnológicas e a crítica presente é sobre como lidamos e consumimos produções de crimes reais. Novamente, o uso da mídia e comportamento da sociedade é o explorado.
Claro, há narrativas ao longos das seis temporadas que exploram o "lado ruim" dos avanços tecnológicos. No entanto, é possível interpretar que as inovações são uma espécie de lente de aumento para comportamentos humanos; elas são maneiras e meios para exacerbar como lidamos em comunidade.
Portanto, ao afirmar que "Black Mirror" não é mais o que era porque não aborda mais tecnologia, Anitta está equivocada. Por outro lado, não há como dizer que a cantora está errada ao classificar os novos episódios como "'thriller' aleatório, diálogos mal feitos e histórias bobas sem propósito". Gosto é de cada um.
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