Ex-repórter descreve bastidores da Globo: 'Quem não está na panela é frito'

Flávia Jannuzzi foi uma das profissionais demitidas no grande corte de jornalistas que a Globo fez em abril.

Em conversa com Splash, a repórter elencou alguns possíveis motivos para sua demissão, que descreveu como "horrível" e "traumática". Entre eles, os comentários negativos que fez sobre os figurinos de Deborah Secco na cobertura da Copa do Mundo.

Ela afirma também que há uma "política de relações" nos bastidores da emissora, uma "panela" da qual disse não participar, o que a teria prejudicado.

"É uma panela. Se você não está naquela panela, você é cozido ou frito. A verdade é essa", diz Jannuzzi. "Os projetos não passam. Você não consegue aprovar a pauta. Você vai sendo desidratado. Vai sendo deixado, esquecido de lado", continua.

Tudo a que você se dedicou ao longo dos anos, é tudo esquecido. É como se você tivesse que começar do zero e validar o seu valor todos os dias. [...] Se você não se adapta ou se você não faz o jogo de relação vigente, você está fora. Você está ali na escala. Mas você está fora do jogo. Flávia Jannuzzi

"É um joguinho de futebol que você vai em grupo. É um chopinho ali. Você tem que fazer aquele meio de campo. Claro que tem mérito. Tem pessoas que têm mérito ali, que crescem independente disso. Eu já não tinha uma boa relação. Essa é a questão", completa.

"A Globo saiu da Globo"

Jannuzzi também tem críticas à busca de diversidade e uma suposta priorização de profissionais mais novos dentro da emissora. Para a jornalista, o "gosto da conquista" está se perdendo dentro da Globo e as redações estão sendo dominadas por novatos.

Ela exemplifica dizendo que profissionais com pouco tempo de casa, mas que representam uma "bandeira" levantada pela Globo, conseguem espaço em grandes jornais sem muita "batalha", o que vê como algo negativo.

"Talvez seja uma questão de nova ordem mesmo, de uma agenda globalista. [...] Não é demérito nenhum. Tem grandes jornalistas que se enquadram nos requisitos que eu estou falando. Tem colegas brilhantes, maravilhosos, mas quando isso é um determinante para você conquistar um espaço no Jornal Nacional ou ser contratado, isso deprecia tanto os colegas quanto a profissão. [...] O gosto de você ter conquistado coisas dentro da Globo, isso se perdeu", avalia.

É uma outra empresa. Não fui eu que saí da Globo. A Globo saiu da Globo. Isso é muito diferente. Flávia Jannuzzi

Além da diversidade, Jannuzzi acredita também que a idade foi um critério nas demissões e que, apesar de achar que "todos merecem oportunidade", a mistura de profissionais mais novos e mais velhos, que ela considera valiosa, também está sendo prejudicada.

Em entrevista, o âncora Fabio William, demitido no mesmo corte que dispensou Flávia, também criticou a decisão da emissora de demitir veteranos, o que definiu como um "equívoco".

"Eu acho que tem que ter também o verniz de quem tem a experiência. Isso faz toda a diferença. Se a gente tem uma redação só de novatos, que não é o caso, mas está caminhando para isso [...], a mescla está se perdendo", finaliza Jannuzzi.

Splash entrou em contato com a assessoria da Globo para comentar as falas da jornalista, mas não obteve retorno. O espaço segue aberto.