Como Harrison Ford fez de Indiana Jones seu reflexo no cinema
Não é novidade Harrison Ford retomar seus personagens emblemáticos no cinema. O astro voltou a interpretar Han Solo em 2015 no sucesso "Star Wars: O Despertar da Força". Dois anos depois, estava mais uma vez na pele de Rick Deckard em "Blade Runner 2049". Ford foi correto e fez seu trabalho.
Com Indiana Jones a história é outra. Não existe hesitação ou ironia. A possibilidade de viver o arqueólogo criado por George Lucas se reflete em satisfação genuína. Não por acaso, "Indiana Jones e a Relíquia do Destino", que estreia nos cinemas nesta quinta-feira (29), crava 42 anos de "casamento" em cinco filmes que ajudaram a definir a cultura pop contemporânea.
A verdade é que não era para ser. Uma das grandes anedotas em Hollywood é que George Lucas queria Tom Selleck como protagonista em "Os Caçadores da Arca Perdida". Outros atores fizeram testes na época, mas Selleck estava à frente da concorrência.
Como a história não existe sem ironia, os produtores do seriado de TV "Magnum P.I." não liberaram o ator de sua agenda, e Indiana Jones terminou com o preferido do diretor Steven Spielberg: Harrison Ford.
Não que Ford fosse algum desconhecido. No começo dos anos 1980 ele já havia ascendido ao olimpo dos astros cinematográficos graças a "Guerra nas Estrelas" e "O Império Contra-Ataca". Seu papel como Han Solo, contudo, carecia de carne nos ossos. O ator enxergava o personagem como um arquétipo de pouca complexidade emocional. Ele chegou a sugerir uma morte heroica em "O Retorno de Jedi".
Construindo uma lenda!
A história era outra com Indiana Jones. O roteiro de Lawrence Kasdan para "Caçadores" desenhava o personagem com exatidão. Mas foi Ford quem lhe injetou charme, fragilidade e, acima de tudo humanidade. Indy herdou de seu intérprete o senso de humor ácido, a atitude rebelde e a vontade de ir contra convenções. O ator também trouxe a fisicalidade e alguns improvisos que ajudaram a construir a lenda.
O sucesso de Indiana Jones nunca foi um entrave para Ford se destacar em outros papéis. Se alguns de seus pares temiam o estigma de ficarem presos a um personagem de sucesso, o astro usou o holofote para trabalhar em filmes mais diversos e desafiadores. Fez o policial "A Testemunha", o drama "A Costa do Mosquito", o thriller "Busca Frenética" e a comédia "Uma Secretária de Futuro" antes de coroar os anos 1980 com "Indiana Jones e a Última Cruzada".
Quando a trilogia foi supostamente encerrada, em uma aventura leve e cheia de charme em que Ford divide a cena com Sean Connery, o ator se mostrou ainda mais livre e aberto para arriscar outros desafios. Era como se o fim de Indiana Jones marcasse sua maturidade como intérprete. Perto de meio século de vida, Harrison sempre interpretou sua idade, fosse em projetos menos explosivos, fosse como herói de ação maduro nos dois filmes em que interpretou o analista da CIA Jack Ryan.
Sem problemas ao envelhecer!
Até a virada do século, Indiana Jones fazia parte de seu passado, um legado de "fortuna e glória" que não parecia encontrar espaço no repertório do ator à medida que ele navegava pelo oceano das vaidades hollywoodiano. Ainda assim, a fagulha estava lá, um chamado à aventura que nunca parecia apagado por completo.
Tudo que essa chama precisava era de um caminho, e ele reapareceu em 2008 com "Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal". Houve um breve debate entre fãs e cinéfilos se Harrison, aos 66 anos, não privaria o arqueólogo de sua vitalidade, consolidada na trilogia dos anos 1980. O ator, claro, deu de ombros para todo o ruído e, protagonizando uma aventura ambientada em 1957, mostrou que envelhecer não era um problema para o herói.
"Caveira de Cristal" seria um ponto final para a série, e Ford parecia ok com a possibilidade. Mas, então, veio "Star Wars: O Despertar da Força". E veio "Blade Runner 2049". E veio também uma onda irrefreável de nostalgia na segunda década do novo século. Mesmo diminuindo seu ritmo de trabalho, Harrison Ford finalmente disse, sim, para uma reunião com seu personagem mais famoso.
Um astro único!
Não existe em "Indiana Jones e a Relíquia do Destino" nenhum movimento para ignorar o peso dos anos — "É a quilometragem", diria Indy. Pelo contrário. Quatro décadas depois de ser apresentado ao mundo, o aventureiro ressurge novamente com a idade de seu protagonista, mostrando que, assim como Harrison Ford, Indiana Jones pode parar e respirar, mas está sempre disposto para ir atrás de seu prêmio.
Em entrevista a um jornalista britânico durante a maratona de divulgação do novo filme, Harrison Ford ouviu não uma pergunta, mas um agradecimento, pela generosidade em compartilhar com o mundo histórias tão fabulosas com um personagem tão inesquecível. "Isso significa tudo para mim", respondeu, sem esconder as lágrimas que brotavam. Existem muitos heróis de ação, mas nenhum é tão sensacional quanto Indiana Jones. Existem muitos astros de cinema, mas só um é Harrison Ford.
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