Andréa Beltrão lamenta perseguição a cultura e artistas: 'Visão estúpida'
Andréa Beltrão está feliz por voltar a um set de filmagens após superar a pandemia da covid-19 e "o pior momento dos últimos 20 anos em termos de política e cultura no Brasil".
A atriz recebeu Splash durante as filmagens de "Avenida Beira-Mar", filme rodado em Niterói, na Região Metropolitana do Rio, e comentou sobre o momento de "reconstrução" que vive o país após período de perseguição à cultura e artistas, fruto de polarização que marca a política nacional.
Para ela, é perigoso não enxergar o potencial da cultura para o desenvolvimento social e econômico de um país. Entre 2016 e 2022, durante os governos de Temer e Bolsonaro, o Brasil não teve Ministério de Cultura. A pasta foi recriada em janeiro pela gestão de Lula.
Qualquer reforma é bem-vinda, mas é preciso conversar daqui para a frente sobre mudanças em leis como na Lei Rouanet. Não é possível mais que a cultura fique numa portinha. É uma visão burra, estúpida e ignorante do que a cultura pode representar para um país e para a humanidade.
"Nesses quatro anos, era uma estratégia (demonizar a cultura). Mas pronto, acabou. Agora a gente tem uma nova grande chance. É melhor a gente pensar no que tem para fazer, sem se lamentar, porque o que passou, passou."
Desafios do cinema brasileiro
Carioca da gema, Andréa cresceu frequentando os cinemas de rua de Copacabana e arredores. Hoje, ela lamenta o fechamento desses espaços. Ao caminhar pelas ruas da zona sul do Rio, não encontra mais os cinemas queridinhos da sua infância, como o Cinema Ria e o Miramar — ambos demolidos nas décadas de 70 e 80.
"Passo por vários lugares onde falo: 'Aqui era o cinema Metro'. Hoje é uma academia de ginástica. É melhor que seja uma academia do que uma igreja. Isso é muito pessoal, mas é triste... É uma pena. Os tempos mudam, sem nostalgia, mas era bom ter muito cinema, muito teatro. Lembra do Cine Caruso? Foi todo reformado e ficou incrível. Pouco tempo depois, virou um banco. Quando fechou, não acreditei."
Quem sabe a gente não abre novos cinemas, entendeu? Tenho sempre essa esperança meio tola de se abrir novos cinemas e teatros.
Além do número limitado de salas, Andréa também reflete sobre o desafio de voltar a encher esses espaços. Dona do Teatro Poeira, ao lado de Marieta Severo, ela enxerga que as salas de teatro estão cheias, enquanto as de cinema não.
"O cinema sofreu um esvaziamento. Está numa luta muito com regulação, com as leis, de novo. Sempre voltando para o mesmo lugar: tempo de tela. O streaming vem de maneira muito forte. Tem que haver uma conciliação. Senão não é possível. Fica uma luta muito injusta. Um acordo injusto."
Você estreia um filme numa quinta-feira e, se no sábado não bateu (bilheteria), tira. Segunda-feira já está na sessão de 1h15 da tarde no centro da cidade. É preciso aproveitar a volta do Ministério da Cultura e de todo um movimento saudável na política para tentar uma organização regular.
"Avenida Beira-Mar"
O filme quer discutir a questão da diversidade de gênero na adolescência a partir da história de amizade entre duas meninas de 12 anos. Rebeca nasceu com o corpo de menina. Mika luta para ser reconhecida como uma.
O mais importante é o encontro das duas amigas, da Rebeca e da Mika. Isso é o que move a história... Fala diretamente de assuntos muito importantes da nossa vida: respeito, amor, afeto, correspondência, pessoas diferentes, o amor entre pessoas diferentes.
Além de Andréa, as atrizes Isabel Teixeira, Milena Pinheiro e Milena Gerassi completam o elenco principal do filme dirigido por Maju de Paiva e Bernardo. O longa é uma coprodução da Elo Studios e Viralata, com apoio do Telecine.
As filmagens começaram na última semana em uma casa de Piratininga, na cidade de Niterói, no Rio de Janeiro.
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