Leandra Leal abre coração: Houve criminalização dos artistas por Bolsonaro
Atriz desde os 8 anos, Leandra Leal tem o DNA artístico no sangue e herdou o Teatro Rival, no Rio de Janeiro, de sua família. Nos últimos anos, o relevante espaço cultural passou por um período de dificuldade, seja pela pandemia da covid-19 ou pelo desmonte cultural provocado pelo governo de Jair Bolsonaro (PL).
Em conversa com Splash, a atriz e diretora de "A Vida Pela Frente" (Globoplay) reforçou que a cultura é um mecanismo importante para formar cidadãos e ajudar a atravessar momentos difíceis — como a recente emergência sanitária — mesmo sem apoio governamental. Agora, ela analisa que o setor volta a ocupar lugar de destaque na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"A gente passou por um luto coletivo. Muitas pessoas perderam suas vidas durante a pandemia. São muitas famílias afetadas... E a nossa saúde mental após tudo isso? A gente passou um período longo vivenciando traumas. Uma das coisas que fez as pessoas suportarem esse período foram as janelas abertas a partir da arte, da música, do cinema, da literatura."
Ao mesmo tempo, a gente vivia um período de criminalização intensa dos artistas por um projeto público. Com a minha mãe, ali no Teatro Rival, foi um período muito difícil porque a gente não sabia se ia voltar, se existiria essa experiência coletiva, e sem apoio (financeiro). O segmento cultural não era tratado com prioridade pelo governo.
A filha de Ângela Leal reforça que o setor cultural impacta positivamente a economia brasileira, principalmente quando atua por meio de editais e leis de incentivo, como a Lei Rouanet e a Lei Paulo Gustavo, para produtores de pequeno e médio porte. Estudo da Fundação Getulio Vargas, no ano passado, mostrou que a cada R$ 1 investido na cultura, R$ 1,67 retornou para a economia paulista.
"As pessoas esquecem que para você fazer uma série ou uma música, você tem que ter muitas outras pessoas envolvidas.Quantas pessoas estão por trás das câmeras? Quantos empregos são gerados, diretos e indiretos? O quanto a gente contribui para o PIB do país? Tudo isso foi ignorado e tratado num debate ideológico e muito rasteiro."
A gente sofreu muito, ainda estamos nos reerguendo. Os desmontes não são resolvidos de uma hora para outra, mas a cultura é muito importante.
Sem medo de haters
Leandra também é conhecida por se posicionar sobre questões políticas e assuntos ainda sensíveis à sociedade, como legalização das drogas e direito ao aborto. Na série idealizada por Leandra para o Globoplay, outros temas sensíveis, como suicídio e descoberta das sexualidades na adolescência, são destaques.
"A arte tem vários papéis, não pode ser uma coisa. Uma das funções é debater assuntos importantes. Sinceramente, a função mais bonita da arte é através da emoção provocar isso. É muito mais fácil levantar o debate de um tema sensível através da empatia. Isso é transformador na trajetória de quem está assistindo."
No papo com Splash, a atriz diz que ser atriz apenas amplifica os holofotes sobre o que ela pensa. Se seguisse outra carreira, pensaria da mesma forma. "Falo desses assuntos desde que tinha 16 anos, quando começou a dar entrevistas. Recebo hates, mas sou essa pessoa".
Em um ambiente digital polarizado politicamente, há mais espaço para críticas por você simplesmente esboçar um pensamento? Leandra acredita que sim, além de haver "uma admiração por falar mal" dos outros.
"Há uma confusão das pessoas ao pensar que é mais inteligente quem critica mais. É um comportamento muito disseminado. A gente vive em um momento de polarização só crescente. É um problema gigante. Milhões de outras coisas que influenciam nesse lugar das redes sociais: a educação, a formação, a capacidade de interpretação de texto."
Você recebe amor e hate nas redes sociais, mas tudo tem limite. A internet não é terra de ninguém... Em nossa sociedade, não falo só do Brasil, as redes sociais diminuem muito nossa experiência social.
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