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Como disputa entre Zé Celso e Silvio Santos influenciou Castelo Rá-Tim-Bum?

Dono do SBT influenciou ator Pascoal da Conceição na construção do Dr. Abobrinha, vilão do programa da TV Cultura - Reprodução
Dono do SBT influenciou ator Pascoal da Conceição na construção do Dr. Abobrinha, vilão do programa da TV Cultura Imagem: Reprodução

De Splash, no Rio

06/07/2023 17h46

Fundado em 1958 por Zé Celso, o Teatro Oficina é um marco cultural do Bixiga, bairro no centro de São Paulo. Também é objeto de uma disputa imobiliária entre o dramaturgo morto hoje e Silvio Santos. O imbróglio que se arrasta desde 1980 influenciou a construção do personagem Dr. Abobrinha, vilão do programa infantil Castelo Rá-Tim-Bum (TV Cultura).

O Teatro Oficina foi tombado em 1981 pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico) por ser uma referência artística e cultural. Silvio, dono de terrenos vizinhos ao teatro, tem o desejo construir um prédio para o Grupo Silvio Santos no bairro desde o início da década de 1980.

Zé Celso alegava que a construção do edifício prejudicaria as atividades culturais e levou o caso para a Justiça. Além disso, queria construir um parque cultural no entorno do Teatro Oficina, conforme projeto criado pela arquiteta Lina Bo Bardi.

O duelo que se arrasta por décadas influenciou, ainda que inconscientemente, a criação de Dr. Abobrinha, do Castelo Rá-Tim-Bum, vilão com intenções parecidas as do dono do SBT. O personagem era interpretado por Pascoal da Conceição, ator conhecido por seu trabalho no Teatro Oficina.

Zé Celso e Silvio Santos em reunião em 2017 - Reprodução - Reprodução
Zé Celso e Silvio Santos em reunião em 2017
Imagem: Reprodução

Pascoal contou sobre essa inspiração ao livro "Raios e Trovões", obra do jornalista Bruno Capelas que narra a trajetória de sucesso do programa infantil da TV Cultura.

"Só percebi que tinha feito o Dr. Abobrinha inspirado no Silvio Santos anos depois, quando o Zé Celso me disse... Disseram que ele (Dr. Abobrinha) era um cara que queria derrubar o Castelo para fazer um estacionamento e um prédio de cem andares. A-há! Essa história eu já conhecia", disse o ator em entrevista ao livro "Raios e Trovões".

Quando ofereceram o papel do vilão a Pascoal, ele já estava familiarizado com a disputa imobiliária no Bixiga, tanto que Capelas narra no livro que o Dr. Abobrinha "é um raro personagem que quebra a quarta parede, fala com a câmera e com o telespectador, muito a ver com a linguagem do Silvio Santos, independente do juízo de valor sobre as ações do apresentador".

"Tem um lado que é consciente, o tema da especulação imobiliária, um dos grandes temas do Castelo. Mostra para a criança essa disputa. E tem a coisa inconsciente (do Pascol imitar) o Silvio Santos", diz Capelas em conversa com Splash.

Bruno Capelas, autor do "Raios e Trovões - A história do fenômeno Castelo Rá-Tim-Bum" - Divulgação - Divulgação
Bruno Capelas, autor do "Raios e Trovões - A história do fenômeno Castelo Rá-Tim-Bum"
Imagem: Divulgação

A disputa segue até hoje, mesmo após a morte do dramaturgo, que já chamou Silvio Santos de "inimigo público" do Teatro Oficina. Como Silvio Santos é dono dos terrenos em volta do local, não é possível desenvolver a obra do Parque do Rio Bixiga. Por outro lado, a partir do tombamento do teatro em 1981, não é permitido ao dono do SBT construir em volta do Teatro Oficina.

"A vida imita a arte, a arte imita a vida. O Pascoal usou algo da vida real para colocar no Castelo. Mas, ao mesmo tempo, é engraçado que hoje se veste de Dr. Abobrinha para discutir Plano Diretor. Ele usa como ferramenta em manifestação", completa Capelas em conversa com Splash.

O ator Pascoal de Conceição durante manifestção em apoio a estudantes de escola pública em São Paulo em 2015 - Marcio Ribeiro/Brazil Photo Press/Estadão Conteúdo - Marcio Ribeiro/Brazil Photo Press/Estadão Conteúdo
O ator Pascoal de Conceição durante manifestção em apoio a estudantes de escola pública em São Paulo em 2015
Imagem: Marcio Ribeiro/Brazil Photo Press/Estadão Conteúdo

Sem acordo

Silvio Santos e Zé Celso se reuniram em 2017 com o então prefeito de São Paulo João Dória e o vereador Eduardo Suplicy (PT) para tentar um acordo. No entanto, o teatro divulgou imagens da reunião em suas redes sociais e deixou o apresentador incomodado. Silvio Santos passou a tratar do assunto apenas na Justiça.

No mesmo ano, o dono do SBT conseguiu reverter judicialmente a decisão do Condephaat.

Eduardo Tuma (PSDB) — prefeito em exercício em São Paulo em 2020 — vetou o projeto de lei de autoria do vereador Gilberto Natalini (PV) que permitia a construção do parque. À época, a prefeitura disse que o projeto vai além do poder do Executivo, então, não poderia tornar lei.

Já em 2022, a Justiça proibiu a prefeitura de São Paulo de autorizar a construção do Grupo Silvio Santos, pois o empreendimento atingiria o rio que corre sob o terreno e o lençol freático, a quatro metros do solo. Foi considerado que o prédio causaria danos aos patrimônios históricos da cidade.

Presente de casamento

Em 2023, quando Zé Celso casou com ator e diretor Marcelo Drummond, foi enviado um convite de casamento a Silvio Santos.

O casal pediu ao apresentador o terreno em volta do Teatro Oficina como presente de casamento. "Acho que o melhor presente que o Silvio Santos pode dar a Zé e Marcelo é um acordo em forma da criação do parque do Rio Bexiga", disse Eduardo Suplicy (PT) durante a cerimônia. O pedido não chegou às mãos do empresário, pois ele não foi encontrado.

Em junho deste ano, a empresa Residencial Bela Vista, do qual o Grupo Silvio Santos é dono, entrou com uma liminar que impede qualquer tipo de ação no terreno, com multa de R$ 200 mil.