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Filha de pescador, periférica e mães: conheça os rostos do Miss Brasil 2023

Saiba quem são as 27 candidatas do Miss Universo Brasil 2023

Colaboração para Splash, em São Paulo

06/07/2023 13h20Atualizada em 06/07/2023 14h23

O concurso Miss Universo Brasil chega à sua 69ª edição no próximo sábado (8) com 27 mulheres reunidas em São Paulo. Pela primeira vez há três mães na disputa e isso só foi possível após o Miss Universo alterar regulamento como "passo natural de sua evolução". A partir deste ano, mães, casadas e divorciadas puderam competir junto com outras mulheres cis e transgêneros — estas são permitidas no internacional desde 2012.

Neste ano, o tema do concurso será brasilidade. "Organizar um evento como o MUB é sempre um desafio. Foram meses de trabalho, [...] todo o time vem se empenhando muito. O tema deste ano é brasilidade. Podem esperar muitos looks coloridos e boa música brasileira", diz Marthina Brandt, diretora nacional da franquia Miss Universo e Miss Brasil 2015, a Splash.

Marthina diz considerar esta edição o nível mais forte dos últimos anos, mas não há preferências. "Não procuramos nada em específico fisicamente. Se é loira, morena, negra... A beleza é muito importante, afinal estamos falando de um concurso. Porém, o que mais iremos prestar atenção nessa edição é a personalidade."

Splash conversou com 8 das 27 candidatas pré-selecionadas para que houvesse ao menos uma de cada região do Brasil, bem como aquelas que passaram por situações de hate na internet após vencerem e duas das mães.

O caminho de um sonho

1 - Reprodução/ Instagram @beatrizmilitao_ - Reprodução/ Instagram @beatrizmilitao_
Beatriz Militão é filha caçula de um pescador e uma dona do lar, do litoral do Ceará
Imagem: Reprodução/ Instagram @beatrizmilitao_

Beatriz Militão, Miss Ceará: "Meu pai é pescador e sou a caçula de 15 irmãos. Família grande que sempre me acolheu e apoiou em tudo. Sempre quis ser modelo e Miss. Assistia na TV os concursos de beleza e desfiles de moda e me imaginava ali. É um sonho realizado". A jovem é estudante de gestão financeira e que viajou pela primeira vez de avião para o concurso.

Sasha Benner Bauer, Miss Santa Catarina: "Foi uma preparação bastante intensa, que incluiu desde aulas de oratória, passarela, atualidades, conversação em inglês até cuidados com a parte estética. Carrego na bagagem uma grande experiência no esporte", conta. Ela é bacharela em direito e foi atleta de ginástica rítmica por 15 anos.

1 - Reprodução/ Instagram @annabeatrizpsouza - Reprodução/ Instagram @annabeatrizpsouza
Anna Beatriz é moradora da periferia de Vitória e ganhou um concurso de miss em sua primeira tentativa
Imagem: Reprodução/ Instagram @annabeatrizpsouza

Anna Beatriz Souza, Miss Espírito Santo: "O concurso do miss não é algo que sonho desde pequena", admite a capixaba. "Na verdade, eu sempre quis ser modelo. Trabalho como modelo desde os 17 anos. Comecei a estudar a franquia, acompanhar misses do meu estado e surgiu um grande interesse", diz ela que venceu o Miss Espírito Santo já na primeira participação em concursos.

Formada no Ifes (Instituto Federal do Espírito Santo), ela diz acreditar na educação como meio de transformar vidas:

Através da educação é possível fazer tudo e muitas vezes falta base na periferia. Sou periférica, vivenciei isso, e graças a Deus nunca faltou apoio da minha família. Por isso me sinto orgulhosa de representar o meu estado, ter crescido em um bairro que é periférico e ter chegado onde estou, fala a jovem do bairro Forte São João, em Vitória

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Gabriela Menezes abraça os dois filhos momentos após ser coroada Miss Piauí 2023
Imagem: Reprodução/ Instagram @missuniverso.piaui @jornalistadavid

A nova miss

A abertura do Miss Universo para abranger mais mulheres foi um passo importante para as inscrições do Miss Brasil, que já neste ano tem três mães na disputa: Renata Guerra, de Goiás; Lorena Maia, do Maranhão; e Gabriela Menezes, do Piauí.

Gabriela Menezes, Miss Piauí: "Fico feliz que a organização do maior concurso de beleza trouxe esse exemplo para que possamos de fato impactar a nossa comunidade de uma maneira positiva, para que todos de todas as idades saibam que o tempo da sociedade machista e patriarcal passou e agora é tempo de sermos livres e sobretudo de ser de fato aquilo que já somos". Ela é advogada, mãe de dois meninos, Pedro e Gael, e está noiva.

1 - Reprodução/ Instagram @milenajgomes @yancoimbrafoto - Reprodução/ Instagram @milenajgomes @yancoimbrafoto
Milena Gomes é bióloga e tem na defesa da Amazônia uma de suas bandeiras como miss
Imagem: Reprodução/ Instagram @milenajgomes @yancoimbrafoto

Milena Gomes, Miss Pará: "Quando eu entendi que os concursos não eram somente sobre beleza, mas tinham propósitos de vida reais, comecei a amadurecer a ideia, eu me apaixonei. Me encontrei ali e segui a minha vida sendo não apenas mais a Milena, mas a Milena que é miss. Isso me trouxe um crescimento pessoal". A paraense é formada em biologia pela UFPA (Universidade Federal do Pará) e moradora da Ilha do Marajó.

A abrangência de mais mulheres também se faz presente na eleição de negras, ainda que sejam poucas. O Miss Brasil teve até hoje apenas quatro mulheres que se reconhecem como pardas ou pretas eleitas nas 68 edições anteriores: Deise Nunes, em 1986; Jakelyne Oliveira, em 2013; Raissa Santana, em 2016; e Monalysa Alcântara, em 2017.

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Zozibini Tunzi quando foi coroada Miss Universo em 2019
Imagem: Elijah Nouvelage / Reuters

A vitória da sul-africana Zozibini Tunzi, em 2019, chamou a atenção de Isalu Souza, Miss Minas Gerais e estudante de jornalismo na UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto).

"Eu que sempre fui muito ligada a questões raciais pensei 'nossa, que bonito ter uma mulher que me representa nesse espaço'. Querendo ou não a gente sabe as distâncias em que o racismo estrutural coloca as pessoas negras no geral. Muitas vezes alguns espaços em que mulheres brancas conseguem acessar, é mais difícil para nós negras", explica a jovem que passou em 1º lugar no vestibular.

1 - Reprodução/ YouTube/ Miss Universo Brasil - Reprodução/ YouTube/ Miss Universo Brasil
Isalu Souza quando venceu o Miss Minas Gerais
Imagem: Reprodução/ YouTube/ Miss Universo Brasil

Demanda por aumento de idade. Apesar das recentes mudanças, quase todas entrevistadas pela reportagem, inclusive a diretora nacional, apontam uma demanda: seria um passo importante aumentar o limite de idade do concurso internacional, que hoje é de apenas 28 anos.

Como lidar com haters

A maioria das candidatas disse que ganhar um título estadual as deixa expostas na internet, e, consequentemente, a comentários desagradáveis e até mesmo ataques contra elas.

1 - Raffael Cesar Rodrigues/ Miss Universo Brasil @raffarodriguess @missuniverso.brasil - Raffael Cesar Rodrigues/ Miss Universo Brasil @raffarodriguess @missuniverso.brasil
Miss Santa Catarina 2023, Sasha Benner Bauer
Imagem: Raffael Cesar Rodrigues/ Miss Universo Brasil @raffarodriguess @missuniverso.brasil

"As redes sociais facilitam a propagação de discursos de ódio e infelizmente temos que enfrentar situações como essa quando nossa imagem é exposta. Eu busco sempre o autoconhecimento para saber lidar com essas situações", explica Sasha.

Quando eu venci, muitas pessoas não se sentiram confortáveis com a minha vitória por não me conhecerem, por terem suas favoritas, mas até aí tudo bem. O que extrapolou essa situação foram os ataques racistas que recebi, bem como ameaças pelo Instagram. Infelizmente as pessoas não sabem lidar com pessoas pretas ocupando espaços de lideranças, de visibilidade. Muita gente questionou a veracidade do concurso, minha beleza e capacidade, Isalu Souza, Miss Minas Gerais

Ela diz que esses ataques eram bem intensos assim que foi eleita há dois mesesapenas a terceira miss negra eleita em Minas Gerais na história. Eles continuaram no decorrer da preparação do Miss Brasil, mas hoje ela diz lidar melhor com a situação: "Quando sabemos quem somos e nossa missão, não deixamos opiniões alheias me afetarem. Eu sei o que eu sou, o que eu quero, sei o que eu busco no mundo miss".

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Miss Sergipe 2023, Gabriela Botelho
Imagem: Raffael Cesar Rodrigues/ Miss Universo Brasil @raffarodriguess @missuniverso.brasil

Quem também afirma ter recebido vários ataques foi a Miss Sergipe. Ela chegou a publicar um vídeo na internet em que exibiu mensagens, algumas de teor gordofóbico, sem que ela sequer estivesse acima do peso.

"Todo trabalho tem seu lado positivo mas também tem pontos negativos. Sofri e sofro diversos ataques na internet, leio coisas absurdas, muitas inclusive dignas de processo judicial e acredito que a melhor forma de lidar com isso é não deixar que as vozes do lado de fora falem mais alto que as de dentro", declara Gabriela Botelho.

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Renata Guerra e a filha Samira,
Imagem: Reprodução/ Instagram @renataguerraotoni

Comentários injustificáveis contra a aparência também foram feitos contra a Miss Goiás, Renata Guerra, a primeira das três mães eleitas para o concurso: "Eu sou muito tranquila em relação a críticas construtivas, mas não posso negar, por exemplo, que quando criticaram minhas pintas, que considero a marca que representa minha genética e ancestralidade, eu fiquei chateada".

"Temos que ter muito discernimento para dar valor aos comentários que realmente importam, mas nem sempre é fácil, muitas pessoas não se importam com o que dizem, principalmente nas redes sociais", admite Renata, que é vista como uma das favoritas ao lado da representante de Sergipe, que possui uma forte torcida.

Mas há quem não seja alvo de torcidas fanáticas. Contudo, a cobrança passa a ser por requisitos que explicitam a desigualdade de nosso país, como a exigência de um segundo idioma.

Não recebo mensagens deselegantes, mas há sim uma cobrança enorme por conta do inglês. Realmente, não falo o idioma. Venho de uma família humilde. Exigir que uma candidata tenha inglês, oratória, etiqueta e tantos atributos que só uma parcela de mulheres se privilegiam é ceifar o sonho de meninas carentes e humildes que sonham em ser Miss. Ou você escolhe o pão, ou ter aula de inglês, desabafa Beatriz Militão, do Ceará, que nasceu no povoado de Cana Brava, em Trairi (CE) e é marisqueira. Ela diz que se vencer, o inglês será uma das prioridades para o Miss Universo

E, se por um lado os ataques e cobranças excessivas que afetam as candidatas é uma realidade, por outro também é formada uma rede de apoio muito necessária: "Tenho fãs maravilhosos que se tornaram amigos e sei que estarão comigo depois do miss, porque eles se identificam com quem eu sou. Percebo também como eles se espelham na minha essência de serem leves e, mesmo me vendo como favorita, não desmerecem outras candidatas. E isso é o que eu espero de toda a minha torcida", finaliza Renata Guerra.

1 - Reprodução/ Instagram @missuniverso.brasil - Reprodução/ Instagram @missuniverso.brasil
Em ordem: Miss Piauí, Miss Santa Catarina, Miss Ceará, Miss Espírito Santo, Miss Minas Gerais, Miss Sergipe e Miss Goiás
Imagem: Reprodução/ Instagram @missuniverso.brasil