Morre Zé Celso: criador do Teatro Oficina que revolucionou as cênicas
Morreu hoje, dia 6 de julho, o dramaturgo José Celso Martinez, o Zé Celso, aos 86 anos. A informação foi confirmada por Splash pela assessoria e também nas redes oficias do Teatro Oficina.
O dramaturgo estava internado no Hospital das Clínicas, em São Paulo, após ter 53% do corpo queimado em um incêndio em seu apartamento. Após ser encaminhado para a UTI do hospital, Zé Celso foi sedado, entubado e, posteriormente, submetido à hemodiálise.
A principal suspeita é que o incêndio tenha ocorrido por um aquecedor elétrico na madrugada de 4 de julho. As chamas do fogo teriam se alastrado por peças de roupas, livros e outros objetos do apartamento do dramaturgo, localizado no Paraíso, na zona sul da capital paulista.
No hospital, Zé Celso recebeu visita de familiares e amigos, como a do deputado Eduardo Suplicy. Ele explicou que o dramaturgo teve queimaduras de terceiro grau nas costas, nádegas, ombros e no rosto.
O cirurgião plástico Leonardo Caetano, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, explicou ao UOL que as queimaduras comprometem a camada mais profunda da pele e podem levar a consequências sérias. Segundo ele, em queimaduras acima de 30%, como no caso de Zé Celso, existe uma liberação muito grande de substâncias inflamatórias, que entram na circulação e causam inflamação sistêmica, ou seja, em todo o corpo.
Trajetória artística
Uma figura irreverente, José Celso Martinez Corrêa nasceu em Araraquara, interior de São Paulo, em 1937. Desde a década de 1960, ele se destacou por sua presença de palco e por sua inovação cênica. Porém, sua personalidade começou a ser lapidada pouco tempo depois para nunca mais ser esquecida.
O movimento contracultura dos anos 1970 foi uma grande força motriz para que Zé Celso mostrasse a que veio: peças disruptivas, movimento coletivo no palco e liberdade para que o corpo de cada pessoa, artista ou não, pudesse ser a mais pura expressão do que é arte.
O Teatro Oficina, foi fundado por Zé Celso em 1958 com colegas da Faculdade de Direito do Largo São Francisco e vive até hoje com atrações pulsantes em seus palcos. A proposta sempre foi contra o estilo de encenação trazido por peças europeias da época. Além disso, o principal objetivo do Oficina era e é fazer com que o público tenha participação ativa em suas apresentações.
Polêmicas e resistência
Considerado um dos diretores de teatro mais revolucionários do Brasil, Zé Celso teve sua postura no palco questionada por muitas pessoas, que o colocaram como radical ou extravagante demais. Em 1966, a sede do Teatro Oficina pegou fogo em São Paulo. Na ocasião, Zé atribuiu o incêndio a um golpe de militares que perseguiam o grupo desde 1964.
No auge da ditadura militar brasileira, em 1968, alguns membros abandonaram o grupo Oficina ou foram obrigados a se exilar. Em 1974, Zé Celso foi um dos nomes a serem presos. Ele se exilou em Portugal, onde conseguiu gravar o filme "O Parto". Sua volta para São Paulo aconteceu em 1978.
Com o gradual restabelecimento da democracia no Brasil, o Teatro Oficina empenhou-se em reabrir e reconstruir seu espaço, seguindo um audacioso projeto arquitetônico concebido por Lina Bo Bardi. Já em 1993, o grupo renasceu como Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona e entrou em uma fase altamente produtiva, culminando na emocionante encenação da obra-prima do romance jornalístico de Euclides da Cunha, "Os Sertões".
Desde então, o Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona tem se destacado como um centro cultural vibrante e provocador, explorando novas abordagens artísticas e desafiando os limites convencionais das artes cênicas. Sua trajetória pós-ditadura reflete a resiliência e a determinação em preservar a liberdade de expressão e promover o diálogo social por meio da arte.
Peças famosas
Os primeiros textos de Zé Celso foram levados ao palco do Teatro Oficina desde o início do projeto. "Vento Forte para Papagaio Suvir", de 1958, e "A Incubadeira", de 1959, são alguns exemplos.
Outros roteiros ganharam sucesso conforme o trabalho do diretor foi ganhando o gosto de um público mais ligado a propostas artísticas revolucionárias. São eles: "Pequenos Burgueses", um texto de Máximo Gorki que estreou em 1963, e "O Rei da Vela", de Oswald de Andrade, levado ao palco em 1967.
Para coroar a proximidade de Zé Celso com o movimento tropicalista e antiditadura, temos como referência até hoje a montagem de "Roda Vida", de Chico Buarque, em 1968. Considerado o grande herdeiro da tradição modernista, ele influenciou Os Satyros, uma companhia teatral fundada por Ivan Cabral e Rodolfo García Vázquez em 1989, também influenciados pelo movimento tropicalista.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.