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Eleitor de Bolsonaro, Carlos Alberto diz que foi 'infeliz' ao criticar Lula

Carlos Alberto de Nóbrega apresenta A Praça é Nossa - Lourival Ribeiro/ SBT
Carlos Alberto de Nóbrega apresenta A Praça é Nossa Imagem: Lourival Ribeiro/ SBT

Cristina Padiglione

Colaboração para Splash, em São Paulo

08/07/2023 04h00Atualizada em 08/07/2023 09h24

O roteirista e apresentador Carlos Alberto de Nóbrega, 87, diz que talvez tenha sido "infeliz na maneira de falar" sobre a formação pedagógica do presidente Lula. Em entrevista ao Roda Viva exibida na segunda passada (3), ele disse que questionaria a falta de um diploma por parte do presidente, caso pudesse entrevistá-lo para o seu podcast.

Em entrevista exclusiva a Splash, o anfitrião de A Praça É Nossa reafirma que não é petista, como afirmou no programa da TV Cultura. Tampouco bolsonarista. Admitiu, no entanto, ter votado no ex-presidente na última eleição. "Mas não concordo com muita coisa do que ele fez", esclarece.

No Roda Viva, Carlos Alberto falou que se Lula topasse participar de seu podcast, faria a seguinte pergunta a ele: "O que o senhor me explica de um presidente da República, no dia em que recebe o diploma de presidente, chora e diz que aquele é o primeiro diploma que ele tem na vida? Um homem que não tem um curso ginasial, universitário, contábil, qualquer coisa, ser presidente da República?"

"Mas o voto é livre, a pessoa pode votar em quem quiser", justificou a âncora, Vera Magalhães, na ocasião. "Por isso é que o país está desse jeito", replicou Carlos Alberto no programa. "Temos dúvida quanto a isso", emendou a jornalista, mudando de assunto em seguida.

"Fui talvez infeliz na minha maneira de falar, porque quando a Vera falou que 'todo mundo tem direito ao voto', eu quis falar, mas quando percebi que eu tinha dado uma pisada, quis mudar de assunto", explica o apresentador a Splash, em entrevista por telefone.

"O que eu quis dizer, quando eu disse 'como é que ele se sentia naquele momento [de receber o diploma de presidente] é que eu acho que é a primeira vez na história da civilização que uma pessoa tem um trajeto tão vitorioso como Lula teve, sem ter um alicerce. Isso é a minha opinião. Ele não teve o diploma, mas ele teve a vivência, ele é um homem que viveu, veio do zero."

Carlos Alberto de Nóbrega no banco do programa A Praça É Nossa - Lourival Ribeiro/ SBT - Lourival Ribeiro/ SBT
Carlos Alberto de Nóbrega no banco do programa A Praça É Nossa
Imagem: Lourival Ribeiro/ SBT

"Ele aprendeu com a vida, que é a maior escola", afirma. "Eu não falei do direito de voto, voto é igual para todo mundo. Mas sabe aquele negócio que quanto mais mexe, mais vai feder? Preferi parar e mudar de assunto", explica o apresentador sobre a ordem das argumentações no Roda Viva.

O efeito negativo sobre a declaração veio dois dias antes de Daniela Beyruti, filha número 3 de Silvio Santos, ir a Brasília na companhia da irmã Patrícia Abravanel para ser apresentada como nova presidente do SBT. Tratou-se de um ato diplomático de reaproximação da emissora com o atual governo, após quatro anos de apoio a Bolsonaro, cuja gestão contava até com um membro da família Abravanel. O então ministro Fábio Faria, genro de Silvio Santos, casado com Patrícia, foi titular da pasta das Comunicações.

Carlos Alberto diz a Splash que não sabia da ida das herdeiras a Brasília nem que Silvio Santos havia conversado com Lula por telefone na ocasião. "Ah é?", reagiu. Surpreso com a repercussão do Roda Viva, o chefe da Praça conta que foi elogiado por Beyruti por sua participação no programa.

Nas redes sociais, logo após a entrevista à Cultura, não faltou quem o provocasse com uma comparação entre Lula e Silvio Santos, que também chegou a se candidatar a presidente da República em 1989, e não tem diploma universitário. "Eu não falei de Silvio porque ele não chegou a ser candidato", justifica o apresentador, "mas o ginásio ele tem", completa, referindo ao que hoje se entende por ensino fundamental 2.

A reportagem o lembrou que Silvio Santos foi, sim, candidato, participando do horário eleitoral por dez dias, até ter a candidatura impugnada por mais de uma irregularidade. Na conversa com Splash, Carlos Alberto lembra ainda do avô, que era autodidata, reforçando admiração pelas conquistas de Lula. "Meu avô aprendeu a ler e a escrever na Ilha da Madeira um pouquinho de nada, e tinha uma sabedoria muito além do normal."

O apresentador repetiu mais de uma vez que não discute política, e que o personagem João Plenário, interpretado pelo ator Saulo Laranjeira no humorístico A Praça É Nossa, é crítico a qualquer partido. "Outro dia ele entrou coberto de joias", observa Carlos Alberto, em referência ao escândalo das joias enviadas pela Arábia Saudita a Bolsonaro e Michele.

"Eu sou uma pessoa extremamente democrática, principalmente porque vivi na ditadura, sei o que é não poder falar e expressar os seus direitos, eu sei o que é aquilo e não quero mais aquilo para mim."

"Votei em Bolsonaro, é uma opção minha. Agora, não concordo com muitas coisas que Bolsonaro falou e fez, mas eu só sou grato a ele pela homenagem que ele fez a mim, que foi na Câmara, e ele atravessou do Palácio até lá a pé para me cumprimentar", lembra-se Carlos Alberto, sobre cerimônia ocorrida ainda antes da pandemia.

Advogado formado em uma época em que não se exigia prova da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Carlos Alberto, nascido em Niterói, foi diplomado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. "Mas veja só, nunca exerci." Adepto do pensamento de Voltaire, cita como lema de vida a frase "Não concordo com uma só palavra do que você diz, mas defenderei até a morte o direito de dizê-la".

A respeito de "o país" estar "do jeito que está", como falou a Vera Magalhães no Roda Viva, Carlos Alberto menciona a violência e falta de segurança pública, fome e "crianças pedindo esmolas nas ruas". "[Sergio] Cabral, [ex-governador do Rio], tinha 260 anos de prisão, é réu confesso e está tomando banho em Mangaratiba. Isso me incomoda", diz. "E aí um senhor ser arrastado porque roubou uma caixinha de biscoito é de doer."

"O que eu não quero é depois de velho achar que eu estou querendo aparecer, não é nada disso, quero ficar no meu cantinho, ver meus netos, bisnetos. Não tô mais em idade de criar polemica."