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Ana Thaís sobre crise de ansiedade por haters: 'Não fui a mesma pessoa'

Ana Thaís Matos diz que amadureceu diante dos comentários negativos nas redes sociais - Divulgação/TV Globo
Ana Thaís Matos diz que amadureceu diante dos comentários negativos nas redes sociais Imagem: Divulgação/TV Globo

Colaboração para Splash, no Rio de Janeiro

10/07/2023 08h20

Ana Thaís Matos, 38, em entrevista ao jornal O Globo:

Primeira mulher a comentar um jogo de futebol na TV Globo, a jornalista celebra que irá ser comentarista em sua terceira Copa do Mundo. "O que construí na Globo me afeta pelos lados individual e coletivo. Em 2019, eu era a única comentarista. A Nadja (Mauad), uma grande repórter, foi improvisada como comentarista. Agora, vejo vitórias coletivas: teremos a Renata Mendonça, que batalha na área há muito tempo; a Renata Silveira, que vai ser o carro-chefe da transmissão; a Denise Bastos, uma mulher negra da periferia de São Paulo na reportagem; a Natália Lara; a Isabely Morais; a Gabi Moreira", iniciou ela.

Ela avalia como ela se vê diante do seu trabalho no jornalismo esporitvo. "É um processo que começou sem sabermos o que vinha pela frente, sem referência, parâmetro. É uma vitória minha, porque pavimentei esse caminho. Fico muito feliz com o momento que estamos vivendo."

Primeiro escalão de comentaristas na TV aberta. "Consegui me firmar nesse rol restrito aos homens. Mas é importante não só por ser mulher. Sou jornalista num espaço que sempre teve muitos ex-jogadores. Isso traz uma uma visão plural, e respondo pela classe ali."

Em seguida, ela destaca que o machismo não deixou de existir no ambiente de trabalho. "Tenho mais respeito por ser a primeira mulher e tal. Mas é uma nova forma, como aceitam o que quero dizer... Somos uma geração de transição. Não sofro mais ataque da classe como em 2019, já incorporaram. Faz parte do processo, pois para eles também é uma novidade. Só em 2022, tivemos uma mulher na linha de frente. Está melhorando, mas vamos sofrer mais um pouquinho."

Haters com as narradoras: "Não acho que seja pior para elas, mas estão mais em evidência. Há muito hater para quem está na opinião ainda. Esse papel nos foi negado por muito tempo. É um lugar onde o homem consumidor de futebol desautoriza a mulher. 'Como uma mulher está falando que meu time não é o favorito?' E a narração tem a questão técnica. Por muito tempo, só ouvimos homens."

A jornalista afirma que já levou em consideração comentários da internet. "Diziam que eu falava muito nas transmissões. Isso me pegou, e passei a falar mais rápido para fazer o comentário que queria em menos tempo e em menos entradas. Até que minha fonoaudióloga me chamou a atenção, eu não precisava falar correndo, eram muitas palavras em poucos minutos. Resolvi fazer uma pesquisa. Analisei algumas narrações. Os homens tinham mais entradas e falavam por mais tempo. Percebi que era a minha voz que incomodava."

Ela conta como os comentários negativos das redes sociais a afetou. "Desde 2016, eu também sou pioneira em ataques haters. Mas o caso Robinho (em 2020) teve outra proporção. Eu escrevi no Twitter que o Santos não deveria trazê-lo de volta por causa da condenação por estupro. Meu número de telefone vazou. Recebi muitas mensagens de ódio", disse.

Tive crise de pânico, ansiedade, meu cabelo e minha sobrancelha caíram. A terapia me ajudou muito. Ainda tenho um pouco de ansiedade. Nunca mais fui a mesma pessoa. Ana Thaís Matos

Desde então, ela diz que mudou a relação com as redes. "Amadureci um pouco e me distanciei. Entendi que eles engajavam em cima de mim, estavam me usando. Bloqueei comentários, fechei o Twitter na Copa do Mundo, fechei o Instagram por um tempo. Há um Twitter fake verificado com o meu nome que critica as pessoas e acham que sou eu. Já fiz boletim de ocorrência, mas não adianta muito", finalizou.