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Filho de Tim Lopes descobriu que pai conhecia assassino 20 anos após crime

Documentário "Onde Está Tim Lopes?" foi produzido pelo filho do jornalista, Bruno Quintella - Reprodução
Documentário 'Onde Está Tim Lopes?' foi produzido pelo filho do jornalista, Bruno Quintella Imagem: Reprodução

De Splash, em São Paulo

11/07/2023 04h00

Bruno Quintella é filho de Tim Lopes, o jornalista da Globo assassinado em 2002 por traficantes a mando de Elias Maluco, no Rio de Janeiro, ao fazer denúncias sobre o crime organizado. Mais de 20 depois, "Onde Está Tim Lopes" chega ao Globoplay, e, criado e dirigido por Quintella, aborda a história e o legado do repórter, mas também toca e retoma assuntos que antes abordados pelo pai, como a violência nas favelas do Rio.

Com a trágica morte de Tim Lopes, era de se esperar que Quintella - que também é jornalista - trabalhe o tema com bastante cautela. "Fiquei um pouco preocupado em falar sobre milícias e tráfico, porque eu também sou pai", contou em entrevista a Splash.

"Houve receio, pensei muito no meu filho e pensei muito no meu pai também. Mas ao mesmo tempo, a gente estava explicando a todos qual era o nosso objetivo e mantivemos o contato com os moradores da favela e com os criadores de conteúdo locais."

O filme "Histórias de Arcanjo - Um documentário sobre Tim Lopes" foi lançado em 2013 e também sob o comando de Quintella, mas as preocupações eram outras porque, segundo ele, "há dez anos, eu era 'apenas filho'".

Agora, com a série documental, o objetivo é ir além de relatos sobre o repórter. A produção aborda não apenas o crime, mas principalmente a história da vida e da carreira de Tim Lopes, e faz isso por meio de entrevistas e imagens de arquivo.

Mesmo com todo o cuidado, o jornalista fez questão de dizer quem era e quais eram suas intenções para todos que participaram do documentário. "Quando a gente começou a produção e começou a fazer os contatos, eu pedia para todo mundo dizer que o Bruno Quintella, filho do Tim Lopes, estava fazendo um documentário sobre o pai para falar um pouco do legado e também sobre o trabalho dele. Mas a gente também queria falar um pouco da violência urbana e essas forças ocultas, forças de segurança que na verdade sao criminosoas, como as facções e as milicias."

Entre as descobertas sobre seu próprio pai, Quintella conta que não sabia que Elias Maluco, o homem que mandou matar Tim Lopes, e o próprio jornalista já se conheciam antes do crime. "Isso realmente me surpreendeu, mas faz parte fazia da cobertura criminal da época."

Quanto ao legado do pai, o Quintella acredita que Tim Lopes mudou a maneira que a imprensa lida com reportagens que abordam assuntos mais delicados e perigosos. "Foi preciso repensar a maneira que são feitas essas coberturas."

Os milicianos pensam duas vezes antes de atacar os jornalistas, mas os repórteres também pensam duas vezes antes de fazer uma matéria perigosa.

"Eles [repórteres] tem a percepção que a vida é mais importante que a reportagem. Hoje há esse debate do que é mais importante, o compromisso moral com a notícia ou com a nossa vida? Essa ferida foi aberta e nunca fechou. As redações entenderam que cobrir a violencia do Rio é um como cobrir uma guerra."

Tim Lopes deixou um legado, e ele é para sempre.

Bruno Quintella entrevistando Leandro Demori (de blusa preta) para o documentário 'Onde Está Tim Lopes?' - Divulgação/ Globoplay - Divulgação/ Globoplay
Bruno Quintella entrevistando Leandro Demori (de blusa preta) para o documentário 'Onde Está Tim Lopes?'
Imagem: Divulgação/ Globoplay