Jorge Drexler explica 'dedo' brasileiro em música que o fez ganhar o Oscar
O cantor uruguaio Jorge Drexler, 58, conversou com o apresentador Zeca Camargo, 60, sobre a excelente relação que mantém com o público e com o mercado musical brasileiro. Ele é o convidado desta semana do programa Splash Entrevista.
Drexler recorda Paulinho Moska, 55, como o grande responsável por apresentá-lo ao país. "Ele recebeu de uma fã uma coletânea de músicas minhas, pegou esse CD, fez 40 cópias e repartiu por todos os colegas músicos [brasileiros]. Aí se abriram muitas portas."
A colaboração com a trilha sonora de "Diários de Motocicleta" (2004), dirigido por Walter Salles, também ajudou nesse processo. "Eu fiz uma música para um filme de diretor brasileiro e essa música ganhou um Oscar. No Brasil, isso foi percebido como um triunfo brasileiro. Daí em diante, a cadeia foi se prolongando."
Hoje, Drexler conta uma lista invejável de duetos com grandes nomes da MPB. "Acho que seria mais breve dizer com quem não cantei ainda, que é muito pouca gente [risos]. Tenho colaborações com Caetano Veloso, em um disco meu; com Ney Matagrosso, no disco dele; uma co-autoria com Marisa Monte, minha querida parceira, que ganhou um Grammy de melhor música em português ['Vento Sardo']", enumera, orgulhoso.
Disco em português
Com tamanha acolhida por aqui, não seria surpresa se Jorge Drexler resolvesse lançar um disco só com canções em português. Ele mesmo afirma que não descarta essa possibilidade.
Neste caso, porém, o cantor optaria por uma produção 100% autoral. "Não faria versões bilíngues das canções. Tenho muitas canções minhas que ganharam versões em português - mas, quando chego ao Brasil e começo a cantá-las em português, as pessoas cantam em espanhol", diverte-se.
Ele não vê a mudança de idioma como algo necessário para aprimorar o diálogo com a audiência estrangeira. "O público é mais inteligente do que a gente pensa. Ele tem capacidade de entender outras línguas. O Djavan fez um disco com traduções de suas músicas em espanhol - mas o público na Espanha preferia escutar as versões brasileiras, em português. Acho que, se você vai mudar de língua, mude por razões emocionais, estéticas, pessoais."
Drexler cita "Fina Estampa" (1994), de Caetano Veloso, com exemplo de transição de idioma que funciona artisticamente. "Foi um disco de lembranças da música em espanhol que ele ouvia quando era menino. Dá para entender a conexão emocional que ele tem com essas canções em espanhol."
Admiração por Rosalía e C. Tangana
No ano passado, Jorge Drexler faturou o Grammy Latino de Gravação do Ano com "Tocarte", parceria musical com o cantor espanhol C. Tangana, 32.
Segundo ele, a vontade de um dueto com o rapper era algo antigo. "Conheci-o em Las Vegas há quatro anos. Gosto muito das letras do disco da Rosalía, que ele tinha escrito junto com ela. Cumprimentei-o pelas letras, ele me devolveu o elogio e fiquei muito emocionado. Falei: 'vamos fazer alguma coisa um dia'."
Drexler enxerga Tangana e Rosalía como os grandes expoentes da música espanhola atual. "Não é habitual que apareçam [ao mesmo tempo] duas pessoas jovens com uma ideia tão clara, tão definida, tão carregada de raízes e ao mesmo tempo de contemporaneidade. Tem acontecido na música espanhola uma verdadeira revolução nos últimos anos, que eles lideraram", acredita.
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