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Pioneira na TV, Ana Thaís sofreu com ataques machistas: 'Meu cabelo caiu'

De Splash, no Rio

16/07/2023 04h00

Ana Thaís Matos, 38, se tornou a primeira mulher a comentar um jogo da seleção brasileira em Copa do Mundo na TV aberta em 2022. Apesar da alegria em romper essa barreira, ser a pioneira não é fácil. A jornalista já recebeu ataques machistas que põem em xeque sua capacidade para comentar futebol.

Ainda hoje, ela lê vários comentários maldosos por ocupar um espaço dominado historicamente por homens. Em conversa com Splash, Ana Thaís conta como aprendeu a lidar com as críticas nada construtivas após ter a saúde mental abalada.

Eu levava muito a ferro e fogo, sofria muito, fiquei muito abalada durante um tempo, meu cabelo caiu, tive ansiedade e pânico. Mas quando comecei a entender que esse comentário mais agressivo, esse famoso hate, não tinha que acontecer, percebi que ele precisava mais de mim do que eu dele.

"Comecei a me distanciar um pouco, entender que cada um oferece aquilo que pode. Continuei sendo a mesma profissional, trabalhando da mesma forma, errando, acertando, mas acreditando muito no que fazia. E que as pessoas que estavam comigo também. O hater vai continuar acontecendo, feliz ou infelizmente, as redes sociais não controlam isso, as denúncias não surgem efeitos", prossegue.

Ana Thaís se prepara para comentar sua terceira Copa do Mundo e torcer pelas meninas da seleção feminina. Em 2018, quando começou a desempenhar essa função nos canais da Globo, ela era a única. Ao seu lado, apenas homens como narradores e comentaristas.

Ela vai dividir a tela da Globo e SporTV durante a Copa do Mundo feminina com outras 11 profissionais: as narradoras Renata Silveira, Natália Lara e Isabelly Morais; as comentaristas Alline Calandrini, Renata Mendonça, Rafaelle Seraphim; as repórteres Gabriela Moreira e Denise Thomaz Bastos; a apresentadora Bárbara Coelho; e as convidadas Erika e Formiga.

Ser pioneira, falo com muito orgulho, mas lembrando dos percalços que passei: ocupar um lugar que nunca foi ocupado por nenhuma outra mulher, responsabilidade de influenciar outras mulheres. Foi tudo muito difícil, mas muito prazeroso ao mesmo tempo. Enquanto sofria individualmente, eu percebia que as coisas estavam acontecendo, que estávamos indo atrás de narradoras, de outros comentaristas.

Além da representatividade feminina na tela, a jornalista afirma que escalar mais mulheres na cobertura esportiva contribui para que as histórias sejam contadas por perspectivas diversas. "Nós temos a nossa forma de enxergar o mundo. A gente parte de outros lugares. Tenho batido nessa tecla... É você modificar a forma de contar histórias, trazer outras experiências, outra forma de enxergar o mundo. Não vou ser igual a [Alline] Calandrini, não vou ser igual a Renata, mas juntas a gente tem uma forma de conduzir, de pensar o futebol, acrescentando muito ao ambiente que durante muito tempo foi contado sempre a mesma história, do mesmo ponto de vista."

Antes de chegar à TV, Ana Thaís passou oito anos como repórter das rádios Globo e CBN São Paulo. Em 2020, foi ganhadora do troféu Aceesp (Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo), na categoria Comentarista de TV.

O primeiro jogo da seleção brasileira acontece em 24 de julho, às 8h, e terá transmissão da TV Globo.