Como doença de Branco Mello tornou a nova turnê dos Titãs possível?
Os fãs dos Titãs acreditavam que era tarde demais para assistir à banda com sua formação original nos palcos. Com a saída de Arnaldo Antunes, em 1992, há 30 anos que os sete músicos não se juntavam para uma turnê. Desentendimentos internos, discussões e diferentes modos de seguir as carreiras os mantiveram afastados até 2023, quando Titãs Encontro fez o que parecia impossível: uniu todos para uma série de shows, dentro e fora do Brasil.
A turnê foi um sucesso tão grande que novas datas de apresentações foram anunciadas para outubro e dezembro deste ano.
Com o aniversário de 40 anos da formação da banda se aproximando, em 2022, havia uma vontade de comemorar, mas nada tinha sido resolvido. Àquela altura, os Titãs eram "apenas" Branco Mello, Tony Bellotto e Sérgio Britto.
Como trazer Charles Gavin, Paulo Miklos, Nando Reis e Arnaldo Antunes de volta?
Nunca houve uma briga pública, mas era notório que Nando e Arnaldo saíram da banda por divergências na maneira como queria comandar a carreira. Assim como Charles e Miklos, que também seguiram caminhos separados.
Em entrevista a Splash, o baterista Charles Gavin revela quem foi o responsável por fazer os Titãs deixarem as brigas de lado e se unirem mais uma vez. "Branco Mello. Sem dúvida."
Desde 2018, o músico passa por um tratamento contra um tumor na garganta. Ele se curou e se apresentou em todos os shows da turnê da banda, que contou com quase todas as apresentações com ingressos esgotados. "Não que os outros não tenham articulado, todos ali são articuladores. Mas, no primeiro momento, é o Branco Mello. Só lembrar do que ele passou nos últimos tempos, e do esforço dele para voltar ao palco, para voltar a tocar baixo, para voltar a cantar, que isso supera qualquer coisa."
Ideia nasceu de Nando Reis, que começou a conversar com os outros ex-membros. "O Nando [Reis] foi um grande articulador também. No ano passado, quando a produtora chegou com a ideia [da turnê], o Nando também ligou para mim, ligou para outras pessoas, tinham uma ideia de como deveria ser o show."
Charles acredita que Branco Mello era a peça que unia todos os integrantes. "A gente ia se encontrar, fazer a foto de divulgação e tinha uma expectativa do nosso encontro. Mas, quando a gente se reuniu e o Branco chegou depois dos outros, era o ingrediente que faltava. Estávamos fazendo um cozido e ele era o ingrediente que faltava para dar a liga final."
A gente viu a condição dele, deu aquele senso de urgência: temos que fazer isso agora. Não podemos deixar para depois porque estamos vivos e bem, e vamos fazer da melhor maneira possível.
Pelo cantor, as brigas foram superadas para que os shows acontecessem. "Essas diferenças profissionais, elas não tinham sido colocadas de lado, porque você não resolve essas questões assim, simplesmente deixando para lá. [...] O Branco estando ali e a gente se juntando ficou claro que as rusgas do passado, profissionais, coisas que a gente disse, o que cada um falou, não tinham mais importância."
Não era para passar uma borracha e deletar, mas não tinha mais a menor importância.
A voz do cantor foi afetada, ficando mais rouca, fato que virou brincadeira entre os amigos. "Foi um processo muito longo e muito doloroso, no qual ele poderia ter morrido. Ele poderia ter perdido a voz e poderia não falar mais. Ele fala isso agora: 'Eu tô com uma voz diferente, meio sexy'. Porque é uma voz rouca. E até tem brincadeiras, porque a gente leva o nosso humor ácido a sério. [...] Agora você tá cantando que nem se você fosse um membro do Sepultura ou do Ratos de Porão."
Charles Gavin explica que o processo de Branco para voltar a cantar acabou mudando até mesmo a maneira dos Titãs se prepararem. "Ele disse: 'Vou voltar a cantar e estou com um excelente preparador vocal, chama-se Gilberto'. E ele que acompanhou a gente na turnê. Ele é um cantor do Teatro Municipal de São Paulo e, além de preparador vocal, é um fisioterapeuta da voz, da garganta, um cara extraordinário. Ele apresentou um trabalho tão sério e tão competente que os outros vocalistas aderiram também, então a preparação vocal antes do show era com todos os Titãs, alguns separados, mas outros juntos."
No Som do Brasil, que será exibido hoje na Globo, Branco Mello falou sobre a mudança em sua voz. "[...] Eu estava totalmente sem voz, então foi muito impressionante, e a cada sessão comecei a fazer notas a mais. Quando formos ensaiar não sabia exatamente como seria, mas descobri na minha voz um novo timbre."
Todos juntos
Som do Brasil reunirá todos os integrantes e aborda a história dos Titãs. Segundo o baterista, todos os sete ainda pensam diferente e, durante a entrevista conduzida por Pedro Bial, isso fica claro.
Mesmo com as saídas da banda, Charles acredita que os Titãs nunca deixaram de existir. "Simplesmente algumas pessoas foram se desligando, que é o meu caso, o caso do Nando [Reis], do Paulo [Miklos] e do Arnaldo [Antunes]. Mas a instituição Titãs sempre permaneceu, desde que nasceu. [...] É a formação clássica, com o Marcelo [Fromer] espiritualmente, não presencialmente."
A falta de Marcelo Fromer
O guitarrista dos Titãs morreu em 2001 ao ser atropelado enquanto corria, em São Paulo. Para representá-lo, o produtor e músico Liminha tocou em seu lugar, e a filha, Alice Fromer, cantou Toda Cor e Não Vou Me Adaptar, canções escritas por Marcelo.
Perda nunca foi superada pelos Titãs. "Como homenagear o Marcelo devidamente? De uma forma correta, sem exagerar na dramaticidade? Porque é um tema muito delicado falar do Marcelo ainda para gente. Como ele partiu deste planeta ainda choca os Titãs. Quando a gente fala sobre isso e quando a gente lembra como foi... Ainda é muito difícil para nós."
Alice foi chamada para homenagear o pai. "A ideia veio do Tony [Bellotto], que sabia que a Alice cantava informalmente, em bares e festas, mas nada profissional. Ela, na verdade, é formada em psicologia.[..] O Tony colocou essa ideia para nós pensarmos na possibilidade, e falou com ela. No primeiro momento ela se assustou, mas ela herdou do pai o gosto pelo desafio."
Vê-la cantar foi bastante emotivo para Charles, assim como ver uma imagem do amigo. "Foi um momento muito emocionante do show, porque a hora que ela entra no palco tem uma foto do Marcelo tratada ali, no telão. Eu nem olho, porque acho que se eu olhar, vou me desestabilizar, não vou conseguir tocar, porque é muito forte."
Assista à entrevista completa com Charles Gavin, baterista dos Titãs, acima.
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