Quase com 50 anos, Fantástico já teve muita dor de cabeça com Silvio Santos
A Globo prepara uma série de comemorações para celebrar os 50 anos do Fantástico, atração dominical que só não é mais longeva que o sexagenário Programa Silvio Santos (SBT).
O dito Show da Vida foi uma criação de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, executivo mais importante da história da emissora e autor da música de abertura do programa. Estreou em agosto de 1973, quando a Globo já era líder de audiência em todo o país na maior parte do tempo.
Os domingos, no entanto, sempre foram o dia mais frágil da liderança da Globo, sobretudo em razão da tradição popular alimentada pelo próprio Silvio Santos, que já ocupava o 1º lugar em audiência desde a TV Paulista, canal de São Paulo que faria parte da rede de Roberto Marinho em 1967 e onde Senor Abravanel ficou até 1976.
Além disso, o domingo é o dia da semana em que o público mais se divide entre vários canais. Nesse contexto, a trajetória do Fantástico é vitoriosa no conjunto da obra, com liderança consolidada, mas não inabalável.
O programa enfrentou períodos de derrotas e grandes apertos. O mais conhecido deles veio em 2000, quando Silvio Santos (sempre ele) lançou, de surpresa, o primeiro reality show de confinamento da TV brasileira —Casa dos Artistas—, clone adaptado do Big Brother, até então desconhecido por aqui, mas já em fase de pré-produção na Globo.
Mesmo sem ter anunciado previamente a Casa dos Artistas — que misturava Supla, Alexandre Frota, Mateus Carrieri, Alessandra Scatena e Bárbara Paz sob o mesmo teto —, Silvio reverteu a liderança da Globo para o SBT já na estreia, em 28 de outubro de 2001, derrotando o Fantástico por um placar de 33 a 25 pontos.
Na época, vamos lembrar que o alcance da internet era infinitamente menor e nem se falava em serviço de streaming por aqui. A TV paga, que nunca abalou exatamente a audiência da TV aberta, estava longe do seu auge, o que resultava em um público bem maior diante da TV aberta a que chamamos de "linear", ou seja, aquela exibida em tempo real.
Daí os altos números em relação a hoje, quando o Fantástico solta rojões quando chega a 19 ou 20 pontos, contentando-se agora com média de 17 na Grande São Paulo, praça onde estão os maiores investimentos publicitários do país.
Em 2001, após a estreia da Casa dos Artistas, a Globo se preparou como pôde para os domingos seguintes, mas não teve jeito: a Casa dos Artistas seguiu vencendo a rede dos Marinhos ao longo da temporada, chegando a 55 pontos de pico na grande final, que consagrou Bárbara Paz vencedora, e Supla em 2º lugar.
Durante as sete semanas de sua 1ª temporada, a Casa dos Artistas manteve uma média de 25 pontos, derrotando então o Fantástico e o reality No Limite, que ia ao ar logo após o Show da Vida e chegou a amargar 23 pontos ante 41 do SBT. Mas aquela não seria a primeira derrota do Fantástico para o SBT.
Em maio de 1978, Flavio Cavalcanti bateu o Show da Vida ao reestrear na extinta TV Tupi, por 18 a 11 pontos. Na época, as métricas para aferição de audiência eram outras, ainda feitas por meio de cadernos de pesquisas formuladas pelo Ibope de porta em porta, o que não nos permite comparar os índices da época com os parâmetros atuais.
Em 1991, o Fantástico viu novamente sua média se reduzir, graças ao Topa Tudo por Dinheiro, outro fenômeno comandado por Silvio Santos, que chegou a ganhar três vezes da Globo. Oito anos depois, o dono do SBT incomodaria novamente a líder com o memorável Show do Milhão.
Nem toda a derrota do Show da Vida, no entanto, se reverteu em dinheiro para Senor Abravanel, já que o SBT perdeu para a Globo na Justiça os direitos sobre a Casa dos Artistas, reconhecida como uma cópia do Big Brother, cujos royalties pertencem à Endemol. Mas, para o dono do SBT, só o sabor de vencer a habitual líder em audiência já era fantástico.
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