Topo

Plano Geral

Bate-papo sobre tudo o que rola no cinema do Brasil e do mundo


Barbenheimer causa choque de realidade no público jovem: não é apenas meme

De Splash, em São Paulo

25/07/2023 22h12

O Plano Geral desta semana traz uma análise do Fenômeno 'Barbenheimer' e como, em um episódio único no cinema mundial, as redes sociais e os memes alavancaram um duplo lançamento de dois filmes completamente diferentes.

A brincadeira funcionou e "Barbie" teve a melhor e maior estreia de um filme no Brasil pós-pandemia, vendendo 1,2 milhão de ingressos no seu primeiro dia em cartaz, ficando somente atrás de "Vingadores - Ultimato", que estreou em 2019, pré-pandemia, levando 1,6 milhão de pessoas aos cinemas no primeiro dia.

Já "Oppenheimer" se tornou a maior estreia de um filme de Christopher Nolan no Brasil, e levou 500 mil espectadores às salas de cinemas, conquistando mais de R$ 13 milhões em bilheteria. Flavia Guerra e Thiago Stivaletti analisaram os pontos fortes e fracos do filme que está dominando as atenções.

Flávia: "É um movimento que nasceu espontâneo e foi crescendo. Agora até camisetas com todo tipo de brincadeira com os logos e cenas dos filmes, de Cilliam Murphy (ator de "Oppenheimer) e de Margot Robbie (Barbie) estão sendo vendidas na internet."

Thiago: "Há quem comenta, como o crítico Inácio Araújo, que 90% dos filmes de Hollywood hoje são feitos para pessoas com idade mental de até 12 anos, mas, pela primeira vez a cultura dos memes, a internet, que tanto jogou contra o cinema num certo sentido, deu uma real força para que um filme adulto, como "Oppenheimer" (talvez o mais adulto e mais sisudo do Christopher Nolan), este filme vai ter um público de até 30 anos que dificilmente teria. Achei este fenômeno todo bacana", analisa Thiago.

Oppenheimer - Divulgação - Divulgação
Cillian Murphy vive J. Robert Oppenheimer no filme dirigido por Christopher Nolan
Imagem: Divulgação

Já que o assunto de "Barbie" é incontornável, os apresentadores também analisam o filme e como a diretora e roteirista Greta Gerwig conseguiu imprimir seu estilo sempre crítico e inteligente em um filme que também promove a boneca mais célebre da história e sua criadora, a Mattel.

Geração Barbie

"Sempre há um aspecto ou outro que podemos apontar e que merecem ajustes, mas gostei muito! Gosto mais da primeira metade, por ser a apresentação do universo da Barbie, Cresci brincando com a Barbie, sou total a geração Barbie no Brasil, ganhei a minha na segunda metade dos anos 1980, a primeira geração que teve a boneca, pois ela chegou aqui em 1982", comenta Flavia.

"Por mim, o filme poderia ser um pouco mais adulto, mas entendo a escolha de Greta Gerwig, que estava fazendo um filme para toda a família. Ainda assim, achei delicioso, gosto das piadas, que, para mim, não atrapalham o fluir do roteiro. Se Ryan Gosling não levar uma indicação ao Oscar de Ator Coadjuvante, vai ser injusto", completa ela.

babrie - Reprodução - Reprodução
Cena do filme "Barbie"
Imagem: Reprodução

Thiago observou que, ao contrário de Margot Robbie, que estava em uma fase ótima da carreira, Gosling há um certo tempo não emplacava um personagem forte como o de "Blade Runner 2049",de 2017, com direção de Denis Villeneuve.

"Talvez seja o filme dele em que ele está melhor. O papel de Ken exige demais. Ele tem de puxar uma verve cômica que não tem em filmes como 'La La Land', por exemplo. Ao contrário da Margot Robbie, que tem feito papéis incríveis. O papel dela em 'Babilônia' é um negócio. Fiquei triste por ela não ter recebido uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz neste ano", observa Thiago.

"Já 'Babilônia' traz Margot muito mais interessante até do que em 'Era Uma Vez em Hollywood', que traz uma visão machista do Quentin Tarantino, em que ela vive uma Sharon Tate que é quase um bibelô. Ela está em cena quase para ser apenas bela. E este não é o caso de 'Barbie', em que ela se problematiza o tempo inteiro, vive uma crise existencial. Quando ela fala 'vocês já pensaram em morrer', isso causa um mal-estar absoluto", completa ele.

"Não gosto de alguns pontos, mas o todo curti demais. Sinto falta de um grande musical para a Barbie. Se Ken (Gosling) tem uma grande cena musical, ela também teria de ter. Mas amei a questão de que o tema do filme é também um pouco a morte. A gente entende que é uma criatura que, da forma como sempre foi, não tem mais lugar neste mundo. Ela é a loira que vendeu um ideal de corpo perfeito, de beleza, e padrão de vida feminino que esmagou as mulheres do mundo todo por tantos anos e, em 2023, esse mudo não comporta a Barbie como ela é", analisa Thiago.

Flavia aponta que um "Barbie 2" deve ser lançado com um grande musical da Barbie e até com temas que podem ser mais aprofundados devem pintar na continuação deste grande sucesso, que equilibra muito bem temas como o machismo estrutural, as pressões que as mulheres reais vivem, feminismo, sororidade e diversidade, sempre com muito humor.

barbie - Warner Bros/Divulgação - Warner Bros/Divulgação
Ryan Gosling e Margot Robbie, protagonistas do filme 'Barbie'
Imagem: Warner Bros/Divulgação

Oppenheimer

Na outra ponta do meme,"Oppenheimer" é a primeira biopic de Christopher Nolan, que retrata o pai da bomba atômica numa trama mostrando os conflitos gigantes de interesse entre o mundo da física e o da política, num episódio que inaugurou a Guerra Fria e a corrida armamentista.

Trazendo nele o ator irlandês Cillian Murphy na pele do cientista que coordenou o projeto Manhattan, que desenvolveu o chamado "artefato" durante a Segunda Guerra Mundial com o propósito inicial de derrotar os nazistas.

Fora da grande máquina de Hollywood, o diretor Dominik Moll fala sobre o premiado "A Noite do dia 12", sobre o caso real de feminicídio na França, também nos cinemas.

Christopher Nolan - Divulgação - Divulgação
Christopher Nolan dirige equipe de "Oppenheimer" e filma o longa em IMAX
Imagem: Divulgação

"Eu estava interessado neste caso particular, de como um investigador fica obcecado com um caso que ele não pode resolver. Então, muito rapidamente a gente começou a trabalhar e sentiu que, por conta de ser o assassinato de uma jovem mulher, a questão da violência masculina poderia ser o assunto, o tema do filme", comentou o cineasta, que levou o Prêmio César 2023 (considerado o Oscar do cinema francês) de melhor filme e melhor direção.

"E então a gente queria descrever como este personagem, este investigador, evolui ao longo do filme, como ele também muda sua visão ao longo do filme, sua visão das coisas, e como ele vai começar a se questionar, questionar seu trabalho, a si mesmo e sua própria masculinidade", completou o diretor de "A Noite do Dia 12", que também levou o Cesar de Melhor Ator Estreante para Bastien Bouillon, Ator Coadjuvante para Bouli Lanners e Melhor Roteiro Adaptado.