Sem saber, youtuber é vinculado a massacre no Brasil em documentário da HBO
Na última semana, o youtuber Core descobriu que seu canal foi citado num documentário sobre o massacre de Realengo como um "prato cheio para os aliciadores".
Core é citado nominalmente no terceiro episódio da série 'Massacre na Escola - A Tragédia das Meninas de Realengo'. Um entrevistado, identificado como "consultor educacional", afirma: "Core, né? O maior canal brasileiro de conteúdo infantil, que não é infantil".
O suposto especialista exibe em seu computador um vídeo em que Core fala sobre o jogo de terror Five Nights At Freddy's. "É um jogo que parece bobo, mas ele vem de um massacre também numa lanchonete americana, e fizeram um joguinho que não é infantil, nunca foi infantil. A criança vai para lá e vira um prato cheio dos aliciadores".
O problema: o jogo não é inspirado no massacre, e o canal não é para crianças. Em um vídeo postado em seu canal após a polêmica, Core afirma que a teoria de que o jogo teria sido inspirado no episódio que ficou conhecido como Chacina de Aurora foi criada por outro youtuber, e já foi negada pelo criador do game. Ele diz, também, que faz o possível para que crianças não tenham acesso ao seu canal, impedindo sua exibição no YouTube Kids, e reforçando que as regras da rede social proíbem o acesso por pessoas menores de 13 anos.
É triste ver o seu trabalho sendo colocado num negócio completamente trágico e real, que feriu a vida de várias famílias, um negócio com o qual eu não tenho nada a ver. E não faz nem sentido o argumento dele. Mais uma vez querendo colocar videogames como os causadores das violências, dos problemas que acontecem na nossa sociedade. Core
Tanto Core como os fãs de games apontaram que o jogo e o canal foram criados anos depois do massacre. O episódio é sobre os chans, fóruns onde extremistas atuam e propagam ideais misóginos e violentos. No entanto, o entrevistado inclui nesse meio quem joga e quem produz conteúdo sobre videogames, o que foi visto como uma generalização: "O problema real é uma sociedade que, além de não entender o preconceitos, é uma sociedade que não consegue perceber o benefício do lazer", diz o youtuber.
Depois da denúncia, o público passou a questionar a veracidade do título do consultor educacional entrevistado pelo documentário. Em suas redes sociais, ele não dá informações sobre sua formação como "especialista" em segurança online. Além disso, ao falar sobre massacres em escolas, descumpre as recomendações básicas sobre a cobertura desses casos, divulgando fotos e cartas dos autores dos crimes.
Core afirma que entrou em contato com a HBO Max, mas não obteve resposta. Procurada por Splash, a empresa diz que não fará comentários. A redação também entrou em contato com a produtora Giros Filmes, e aguarda resposta.
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