Ex-Globo, Fúlvio Stefanini revela 'quebra-pau' com filho por causa de peça
O ator Fúlvio Stefanini, 83, está de volta aos palcos com "O Pai", peça escrita pelo francês Florian Zeller que lhe rendeu, anos atrás, o Prêmio Shell de Melhor Ator. Na obra, ele interpreta André, octogenário que gera conflitos na família ao se descobrir vítima do mal de Alzheimer.
Trabalhar no espetáculo sob a direção do próprio filho, Leo Stefanini, foi um desafio à parte para Fúlvio. "Tentei amadurecer a ideia de que eu tinha que me comportar profissionalmente. O papel do pai não poderia aparecer naqueles ensaios. Depois, meu filho me confessou que a preocupação dele era muito parecida com a minha. Nos comportamos como dois profissionais - que se conhecem, mas não pai e filho - e conseguimos conduzir os ensaios de uma forma absolutamente profissional."
Embora eles tenham tirado de letra a questão, não houve como fugir do lado pessoal em alguns momentos. "Ocorreu tudo muito bem até o penúltimo dia. No final do ensaio geral, na véspera de estreia, tem um momento em que entra uma música, e o Leo considerou que ela precisava vir 'baixinha'. Falei: 'Leo, a música não pode entrar baixa, ela tem que crescer...' Virou um quebra-pau que você não faz ideia! O elenco ficou absolutamente assustado!", recorda o ator, aos risos.
Fúlvio acredita que o êxito da montagem está diretamente ligado à delicadeza com que aborda o tema central. "É uma peça tão interessante, tão realista. As pessoas acabam se identificando com os personagens, que são muito verdadeiros,. É impressionante o número de pessoas que estão [na plateia] chorando, em prantos, [muitas vezes] porque tem um problema [similar] dentro da própria casa."
"O Pai" chegou a ganhar uma versão para os cinemas: "Meu Pai", estrelada por Anthony Hopkins em 2020. "O filme é muito bom, é muito bem feito. [Mas] tenho a impressão de que a interação da plateia com o palco é maior do que no cinema - até porque aquele momento [da apresentação] é um momento único. No dia seguinte, é o mesmo espetáculo, mas já é outro momento.
Precarização da dramaturgia
Longe da televisão desde 2015, quando atuou na série "Questão de Família" (GNT), Fúlvio Stefanini parece não ter de pressa de voltar ao veículo.
Ele diz acreditar que a TV, atualmente, é muito diferente do que foi em seu auge - sobretudo, por conta da concorrência com o streaming. "É uma pena, mas a televisão mudou muito, no que se refere à teledramaturgia. Antigamente as novelas tinham a audiência muito fiel, estabilizada... Hoje já é uma coisa mais pulverizada, um pouco diferente."
Todo esse leque de opções, na visão de Fúlvio, acabou resultando no barateamento da dramaturgia. "Acho que ficou meio capenga. Até as grandes produções hollywoodianas ficaram mais escassas. As séries de televisão [também] ficaram mais baratas: as tomadas são muito em locação, muita cena dentro de automóvel... Tudo ficou muito mais barato, inclusive o trabalho do ator. Hoje não tem mais aqueles grandes salários [do passado]."
Políticas culturais
O teatro, na visão de Fúlvio, também saiu prejudicado em meio a todo esse contexto - que envolve, inclusive, políticas públicas de incentivo. "O governo precisa entrar de sola na cultura, porque agora pouca coisa funciona nesse sentido. O teatro sofreu muito com essas leis de 'meia entrada'. É uma ingerência na iniciativa privada, que nos abalou muito também no teatro."
Ele tem a esperança de que a presidência atual possa reverter todo o caos que tomou conta do setor nos tempos de Jair Bolsonaro. "No governo passado, virou uma bagunça tão grande - não só a cultura, mas o país de um modo geral. Agora vamos ver se começa a entrar nos eixos. É o que a gente espera, pelo menos."
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