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Após câncer, Branco Mello, dos Titãs, abre o jogo: 'Achei que estava indo'

Branco Mello fala sobre câncer em entrevista para o jornal O GLOBO - Globo/ Bob Paulino
Branco Mello fala sobre câncer em entrevista para o jornal O GLOBO Imagem: Globo/ Bob Paulino

Colaboração para Splash, em São Paulo

28/07/2023 07h47

O músico Branco Mello, 61, em entrevista ao jornal O Globo:

Sobre mais de 20 shows com os Titãs após ter um tumor agressivo na laringe: "Ótimo, não paro de trabalhar e fazer exercícios. Fico com os meus equipamentos de fono cantarolando pela casa. Gosto muito da minha nova voz. Estou descobrindo nova maneira de cantar, coisas de respiração, timbre, densidade. Algumas canções ficam com mais profundidade nessa nova voz. Fico emocionado, parece que trazem minha vida nelas."

O medo da possibilidade de não voltar mais a cantar após o câncer: "Teve uma hora em que eu, realmente, achei que não voltaria a cantar. Tirei metade da laringe. Muita gente não consegue voltar a falar, comer. Fiz um trabalho grande de fono que me devolveu a voz. Quando estava com traqueostomia, falava por WhatsApp com a Ângela. Achava mais ágil que escrever em caderno. Era estranho. Coisas que você tem que falar com naturalidade? Ao usar frases curtas, não dá para aprofundar a conversa. Foi um alívio voltar a falar."

O apoio da companheira durante os momentos difíceis: "Um amigo a chama de "Ângela da guarda" (risos). Ela viveu comigo as incertezas do que ia acontecer com minha voz, minha vida. A gente fica sem saber se está caminhando para um final mesmo ou um final feliz."

Como achar que iria morrer modificou sua vida: "Numa das cirurgias, tive uma intercorrência pós-cirúrgica e quase morri. Achei que estava indo, parecia despedida. Foi uma sensação interessante. Senti uma suavidade. Mas voltei. E parece que entendi o que é estar indo embora. Modificou minha maneira de ver as coisas, as pessoas. Sem querer romantizar, acho que amadureci legal.

A relação com as drogas: "Sempre fui fundo nas drogas. Quando era jovem, não tinha barreira. Não me arrependo. Foi momento importante de descobertas, crescimento, experiências. Fiz muita coisa legal nesse período louco e muita coisa ruim também. Não é fácil conviver com essa loucura toda. Mas passei por isso e estou pleno. Hoje estou sem nada, limpíssimo."

O reencontro dos Titãs: "Tivemos uma vida intensa juntos, as separações... Fica amizade, amor, mas cada um foi para um lado. Não sabíamos como seria reencontrar todos. Foi surpreendentemente fácil. Vimos que a coisa toda estava em algum lugar dentro de cada um. A turnê foi só felicidade, como se a gente não tivesse vivido rupturas, brigas e situações difíceis."

A relação com os fãs: "O carinho que recebi foi muito emocionante. "Tive um retorno lindo, gente feliz em ver que é possível superar algo tão difícil. Um tumor na garganta em um cara que passou a vida cantando? Tem gente que vem chorando falar comigo, dizer como foi importante me ver no palco porque têm pessoas na família ou elas mesmas perderam a voz."

Sobre a ligação com o cinema e a possibilidade de um novo filme: "Foi incrível fazer o filme dos Titãs. Comecei a filmar intuitivamente, no começo da carreira. Fiquei seis anos montando o longa. Depois, não tive mais vontade de filmar. Começou a ter a internet, celulares... Faço vídeos curtos no meu iPhone, mas não tenho vontade de contar outras histórias. Tem outras pessoas para fazer isso. Cinema é complicado, dá muito trabalho. Fiz o meu filme, me realizei, fiz o documentário que eu sonhei. Aliás, ele será relançado na Netflix. Acho que vale a pena trazê-lo para o grande público agora."