'Temos uma missão': como Fat Family volta aos palcos após morte de Deise?
Era 2017 quando as irmãs Deise, Suzete, Katia e Simone começavam a imaginar as comemorações de 25 anos do Fat Family, grupo formado originalmente por oito irmãos que explodiu em 1998 com o hit "Jeito Sexy". Deise não conseguiu esperar e morreu aos 39 anos em 2009, vítima de câncer no fígado.
A ideia não ficou perdida e, agora, Suzete, Katia e Simone estão de volta aos palcos para cantar sucessos e músicas inéditas, conforme adiantam em papo com Splash. A estreia da turnê acontece no dia 26 de agosto, no Festival Sarará, em Belo Horizonte (MG), mas a ideia é levar aos quatro cantos do país.
"A gente ainda tem a sensação de propósito a ser cumprido. Tem uma missão, algo que precisamos fazer e que, na verdade, ela sabia. Mas a gente nunca ia sonhar com tudo isso aqui. Para gente, foi muito difícil tomar a decisão da retomada. Fomos incentivados por uma palavra que está em Isaías (na Bíblia) e que carrego comigo: 'Levanta-te e resplandece'. No momento em que estamos mais fragilizados, o Senhor sabe o nosso limite", diz Suzete.
A pré-estreia da turnê aconteceu em São Paulo no mês passado. Na plateia, estavam a irmã e ex-integrante Celinha e os pais, Célio e Nelita Cipriano, que subiram ao palco e foram aplaudidos pelos fãs.
"A casa [estava] lotada. Os fãs cantaram todas as músicas. Todas as músicas! Foi muito maravilhoso. Então a gente tá preparando tudo com muito carinho", lembra Katia.
"Pra gente, foi uma injeção de ânimo, os pais estarem ali, aprovando e torcendo. Eles são os maiores incentivadores. 'São vocês três agora, vão com tudo'. Nos deram parabéns. Até me arrepio'", completa Simone
Originalmente, o grupo era formado por oito irmãos. Sidney, que morreu em 2011, e Celinha deixaram o grupo em 2001 para seguir carreira solo. Já Sueli deixou o grupo em 2016. Celinho participou de programas de TV ao lado das irmãs até 2019, mas recebeu proposta para trabalhar nos Estados Unidos e decidiu seguir outro caminho.
"Jeito Sexy", "Eu Não Vou", "Para Onde For, Me Leve" e "Fim de Tarde" são músicas confirmadas no setlist do show, assim como "Desengano", que faz as irmãs lembrarem Deise, e "Pudera", que remete a Sidney.
"São músicas que trazem uma lembrança forte. A gente quer não só trazer a história de 25 anos, mas a [importância da] família. Hoje, nós somos três, mas o grupo já teve oito. Queremos trazer ao palco a importância de cada um deles. O Fat Family só chegou até aqui porque oito pessoas deram a voz", diz Suzete.
Deise também será homenageada por sua filha, Talita Cipriano. "Ela vai estar com a gente no Sarará. É a quarta geração. A nossa história continua. Quando as três bonitas tiverem 'veinhas', já cansadas, a Talita vai estar aí na estrada, continuando a história", orgulha-se Suzete.
Desafios
"Fat Family - 25 anos" será a primeira turnê sem Deise. A morte da irmã, uma das maiores vozes do país, desanimou o grupo e interrompeu as atividades em 2019. Eles tentaram retornar meses depois com aparições em programas de TV e algumas apresentações, mas a pandemia impediu. Agora, as três irmãs se organizam, de fato, para retomar os trabalhos.
Na entrevista a Splash, elas contam que estão se esforçando para aprimorar o desempenho ao vivo e superar a insegurança. Afinal, antes eram oito no palco, agora, são três. Suzete, Katia e Simone não tinham o sonho de cantar. Elas entraram no grupo por influência dos irmãos mais velhos e Deise, a caçula da família.
"As três que continuam a história do Fat Family não cantavam antes. Não tínhamos esse sonho de fazer sucesso. Os nossos irmãos mais velhos, sim, cantavam na noite. Sempre buscaram ser reconhecidos", garante Suzete, antes de Simone reforçar: "É um desafio".
Voltar aos palcos também é uma resposta a quem desacreditou que o Fat Family seguiria na ativa. "Por mais que vinha uns 'funfarrão' na nossa vida, querer bagunçar o negócio, vinha aquele desânimo e a vontade de desistir. No fundo, a gente sabia que ainda tinha algo", desabafa Suzete.
É uma história que não vai acabar e não dá para apagar. A gente achando que ia aposentar. Deus deu um 'chacoalhão, acorda, minha fia'! A gente leva a palavra de amor, a mensagem de família para todos os lares.
Katia, em conversa com Splash
Rompendo padrões
Por meio da música, o Fat Family conseguiu levar representatividade de pessoas negras e gordas à TV em um tempo que não se discutia racismo, machismo, nem gordofobia.
"Ajudamos pessoas depressivas que falavam que não saiam de casa, não tinham autoestima e não socializavam. Não só o gordo e o negro, mas o magro demais, o baixo demais. Chegava tudo pra gente, né? A gente começou a trazer a importância de se gostar, mas cuidar da saúde. Aceitar que é gordinho, mas dar uma atenção pra saúde", afirma Suzete.
O grupo conquistou o Brasil no final da década de 1990 e lançou quatro discos entre 1998 e 2003. Os oito irmãos conviviam juntos na estrada o tempo inteiro. Era intenso, mas sempre houve muito respeito entre eles, graças à educação dos pais. Mas, como toda família, havia aqueles momentos de discussões mais acaloradas — e elas continuam até hoje.
Claro que os debates de família, amor, isso aí acontece, mas não voa a panela, não voa a cabo de vassoura.
Simone, aos risos
"Eram viagens, compromissos, TV, rádio, uma rotina louca. A gente se divertia. Nem soava como trabalho. Soava como diversão mesmo. Pensa: povo que vivia no interior, não viajava, minha mãe não deixava dormir nem na casa das amigas, então, a gente aproveitava", completa ela.
Serviço - Festival Sarará 2023
Quando: 26 de agosto, a partir das 12h
Onde: Esplanada do Mineirão, em Belo Horizonte (MG)
Ingressos a partir de R$ 120 (meia-entrada para pista comum no primeiro lote)
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