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15 anos do caso Nardoni: os detalhes do crime que parou o Brasil

Documentário "Isabella: o Caso Nardoni" retoma crime que parou o Brasil há 15 anos - Netflix/Divulgação
Documentário 'Isabella: o Caso Nardoni' retoma crime que parou o Brasil há 15 anos Imagem: Netflix/Divulgação

De Splash, em São Paulo

04/08/2023 04h00

A Netflix divulgou o trailer e a data de estreia de seu novo documentário brasileiro, "Isabella: o Caso Nardoni". O filme estreia em 17 de agosto e promete trazer novas perspectivas e reflexões sobre o crime que completou 15 anos.

Como foi o caso?

Isabella de Oliveira Nardoni, de cinco anos, foi jogada da janela do apartamento do 6º andar de um prédio onde seu pai, Alexandre Nardoni, morava com a esposa, Anna Carolina Jatobá, e dois filhos do casal. O crime aconteceu na noite de 29 de março de 2008, em São Paulo.

Caso parou o Brasil e tomou conta dos noticiários. O choque inicial pela morte de uma criança foi se tornando mais urgente à medida que surgiam novas evidências contra o casal Nardoni —como, por exemplo, o cruzamento de dados de ligações telefônicas e do rastreador do carro de Alexandre, que possibilitou criar uma linha do tempo e derrubar a argumentação da defesa de que o casal estava na garagem no momento da queda da menina.

O pai e a madrasta foram considerados culpados por um júri popular, em 2010, por homicídio triplamente qualificado e fraude processual (por alterar a cena do crime). Inicialmente, eles alegaram que o crime teria sido cometido por uma terceira pessoa que invadiu o apartamento.

Alexandre e Anna Jatobá alegaram que o apartamento havia sido invadido, e que a menina teria sido jogada por um dos assaltantes. Na versão de Nardoni, ele teria colocado Isabella para dormir na cama, e voltado para a garagem do prédio para ajudar a esposa a subir com as outras duas crianças, de 11 meses e 3 anos. Ele disse que, ao voltar para o apartamento, já encontrou a tela cortada e Isabella caída no gramado.

Dados preliminares coletados pela perícia não batiam com a versão do pai e da madrasta. No dia 2 de abril de 2008, a polícia pediu a prisão temporária do casal.

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Ana Carolina Oliveira Francomano, mãe de Isabella, dá depoimento inédito para documentário da Netflix
Imagem: Netflix/Divulgação

Queda ou asfixia? Alguns detalhes incriminavam o casal. A perícia declarou que Isabella tinha marcas no pescoço e manchas no pulmão, e que marcas de sangue no quarto indicavam que ela teria sido agredida antes de ser jogada. O laudo do Instituto Médico-Legal (IML) revelou que ela teria morrido mesmo se não tivesse sido atirada da janela. Os médicos concluíram que a causa da morte foi asfixia seguida de politraumatismo.

Marcas no pescoço da menina indicavam que ela foi esganada por cerca de três minutos, e desmaiou com dificuldades de respirar. Caso ela tivesse recebido ajuda, com massagem cardíaca e respiração boca a boca, poderia ter se recuperado.

A junção de três laudos indicou a autoria do crime. Além do laudo do IML, um da criminalística, sobre o horário da entrada do carro de Alexandre e Anna Jatobá no prédio, e um sobre a cena do crime, realizado pelo Núcleo de Crimes Contra a Pessoa, concluíram o que aconteceu na noite do crime.

Segundo as investigações, o assassinato de Isabella ocorreu entre 23h30 e 23h50. As marcas de esganadura no pescoço da menina eram compatíveis com as mãos da madrasta. Com Isabella desmaiada, Alexandre teria sido quem arremessou o corpo da filha pela tela de proteção do quarto dos outros dois filhos — cortada com uma faca e uma tesoura.

Julgamento, condenação e como estão hoje

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Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá em entrevista à Globo
Imagem: Reprodução

Julgamento em júri popular e condenação. Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá foram julgados em cinco dias em março de 2010, dois anos após o assassinato de Isabella. Os dois foram considerados culpados por homicídio triplamente qualificado e fraude processual. Alexandre foi condenado a 31 anos e 10 dias de prisão, e Anna Jatobá a 26 anos e 8 meses.

Alexandre Nardoni obteve progressão ao regime semiaberto em 2019, e cumpre pena na Ala de Progressão da Penitenciária 2 de Tremembé, no Vale do Paraíba.

Anna Carolina Jatobá obteve progressão ao regime semiaberto em 2017. Neste ano, ela obteve a progressão de pena para o regime aberto, e deixou a prisão em junho. pedido para progressão de pena de Anna Jatobá estava em análise pela Justiça de São Paulo. Em maio, a 5ª Turma do STJ (Superior Tribunal de Justiça) determinou, por unanimidade, que a Justiça de São Paulo apreciasse o pedido da defesa.

O regime aberto permite que a detenta trabalhe durante o dia e apenas durma em um local chamado Casa de Albergado, uma espécie de casa de hospedagem prisional coletiva.

Documentário da Netflix promete detalhes inéditos do caso e novos depoimentos. Segundo comunicado, o filme conta com entrevistas inéditas da mãe e dos avós de Isabella, além de jornalistas, peritos e advogados de defesa que estiveram envolvidos no caso e em sua ampla projeção nacional.

A plataforma conta que o documentário detalha como foi o trabalho da perícia, quais provas atestaram a culpa do casal e o que os fez descartar outras hipóteses. A equipe analisou 6.000 páginas de processo, gravou 118 horas de entrevistas e reuniu mais de 5.000 itens do arquivo fotográfico da mídia e do acervo da família.

"A produção traz ainda reflexões sobre a nossa sociedade, sobre a Justiça criminal — na verdade, sobre o nosso sistema como um todo — e ainda sobre o sensacionalismo. Além, é claro, de resgatar uma história que não pode ser esquecida. Essa garotinha poderia estar hoje aqui com a gente, aos 21 anos de idade, cursando uma faculdade, traçando seu futuro", diz Claudio Manoel, diretor do projeto ao lado de Micael Langer.