O que Barbenheimer tem a ensinar sobre IA e computação gráfica no cinema?
Superando as expectativas mais otimistas, o lançamento da dobradinha Barbenheimer (corruptela de "Barbie" e "Oppenheimer") nas telonas arrastou milhões de pessoas para os cinemas. Em paralelo ao sucesso de ambos os filmes, que seguem lotando salas em todo o mundo, a indústria hollywoodiana vive uma crise sem precedentes: roteiristas e atores estão em greve há semanas, reivindicando melhorias nas condições de trabalho e aumento de remuneração.
Fran Drescher, famosa por estrelar o clássico noventista "The Nanny", é a voz da paralisação e atual presidente do Screen Actors Guild (SAG), o maior sindicato de atores dos Estados Unidos. O SAG, junto ao Writers Guild of America, associação dos roteiristas, alega que seus membros "correm o risco de ser substituídos por máquinas e grandes empresas", como aponta o discurso da atriz.
Com os avanços tecnológicos recentes e o desenvolvimento desenfreado da Inteligência Artificial (IA), os profissionais temem que suas funções sejam desvalorizadas ou até mesmo extintas. Os atores e figurantes, que convivem com versões digitais de si, buscam um acordo com os estúdios para que o uso de suas imagens seja regulamentado.
Um exemplo recente e polêmico é a abertura da série "Invasão Secreta", da Marvel, cuja animação foi gerada com o auxílio de IA. Quando o público questionou a escolha, a Method Studios, empresa contratada pela Disney para realizar o projeto, revelou que nenhum profissional foi prejudicado. Segundo o estúdio, a IA serviu apenas como uma das ferramentas usadas pelos designers e animadores, e todos eles tiveram seus empregos mantidos.
A greve reflete uma tendência da indústria que, ao longo das últimas duas décadas, tem optado por um uso excessivo de "atalhos tecnológicos" em seus produtos, com o intuito de otimizar tempo e, principalmente, dinheiro. Cidades cenográficas são substituídas pelo chroma key, o famoso "fundo verde". Os efeitos práticos dão lugar à computação gráfica que, por muitas vezes, é criticada pelo público por comprometer o realismo de algumas superproduções.
Porém, na contramão da "revolta das máquinas", estão os fenômenos "Barbie" e "Oppenheimer". Sim, apesar de a vida plástica da boneca e das explosões atômicas serem um prato cheio para os artifícios digitais, os diretores Greta Gerwig e Christopher Nolan fizeram questão de manter as antigas tradições em seus sets.
No caso de "Barbie", houve um impacto na indústria de tintas, que sofreu com a escassez de tons de rosa em todo o mundo, utilizados para pintar a Barbielândia com as cores da boneca.
Já "Oppenheimer", que conta a história do físico teórico que inventou a bomba atômica, recriou o primeiro teste da arma nuclear com efeitos práticos, dispensando toda e qualquer intervenção digital.
O esforço das equipes envolvidas se reflete na experiência proporcionada por ambos os filmes, que conseguem, de forma gráfica, transportar o público para seus universos. E no que diz respeito aos lucros, as produções também vão de vento em popa: até agora, mais de US$ 1,2 bilhão foi arrecadado, somando a bilheteria dos dois filmes.
As estreias de "Oppenheimer" e "Barbie" marcaram o quarto melhor final de semana da história da sétima arte, perdendo apenas para os lançamentos de "Vingadores: Ultimato" (2019), "Vingadores: Guerra Infinita" (2018) e "Star Wars: O Despertar da Força" (2015), segundo a revista Variety.
O épico de Nolan já ocupa a 11ª posição no ranking das maiores bilheterias do ano, enquanto o filme da boneca segue em terceiro. A expectativa é que, ainda nesta semana, "Barbie" ultrapasse a barreira de US$ 1 bilhão, se aproximando de "Super Mario Bros. - O Filme", maior arrecadação das telonas em 2023 até o momento.
Além disso, a dupla de filmes também caiu no gosto da crítica, que deu notas altíssimas para ambos em agregadores como o Rotten Tomatoes e o Metacritic - -"Barbeheimer" é, sem sombra de dúvida, o fenômeno comercial e cultural mais significativo da atualidade.
Seus impactos e tantos números incríveis têm muito a ensinar a Hollywood: será que a tecnologia é, de fato, capaz de substituir a mão de obra e a criatividade humana? Mesmo antes da pandemia da covid-19, há anos os cinemas não eram palco de um encontro entre públicos tão grandes e diversos.
Enquanto o próprio cinema já refletiu sobre o avanço perigoso das máquinas e dos robôs na sociedade, como em "O Exterminador do Futuro" (1984) e "Blade Runner - O Caçador de Androides" (1982), agora ele também se manifesta como um produto que se destaca quando desenvolvido por artistas de carne e osso, e não por algoritmos e repetições programadas.
Até Tom Cruise alfinetou os novos tempos, quando escolheu uma Inteligência Artificial como principal vilão do novo "Missão: Impossível - Acerto de Contas Parte Um". Estamos vivendo uma revolução da indústria cinematográfica, que voltará a valorizar seus profissionais, ou teremos um droide à frente da direção dos próximos blockbusters?
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