'Tudo por grana: Silvio é escroto e não mudará', diz viúvo de Zé Celso
Marcelo Drummond, viúvo do dramaturgo Zé Celso, não acredita em uma mudança de postura do empresário Silvio Santos, 92, na disputa judicial relativa à área onde está localizado o Teatro Oficina, na cidade de São Paulo.
O dramaturgo, que morreu há exato um mês, vítima de complicações provocadas por um incêndio no apartamento em que vivia, travava uma batalha com o dono do SBT há mais de 40 anos.
Silvio é dono do terreno em questão e, desde o início da década de 1980, pretendia construir um prédio no local. Zé, no entanto, alegava que o edifício prejudicaria as atividades culturais e levou o caso para a Justiça.
"Eu não acredito em mudança de postura do Silvio Santos. Não acredito em mudanças de postura das filhas do Silvio Santos. Eles querem dinheiro. É tudo por dinheiro. Dê o dinheiro e eles entregam", disse o ator, em entrevista a Splash.
Drummond lembra que Zé, assim como ele, não era fã do apresentador. "Essa coisa de 'maior comunicador.' Caralho! Não é porra nenhuma. Ele é um escroto que conseguiu uma televisão, uma concessão de televisão durante a ditadura militar. Era um puxa-saco do ditador militar", avalia a ator.
Silvio Santos, que à época já era dono da TVs e de parte da Record, teve novas concessões aprovadas durante o início dos anos 1980, ainda durante a ditadura militar brasileira (1964-1985). O período representou uma fase importante de ampliação dos canais no sentido da criação de uma rede nacional.
Em entrevista à colunista Mônica Bergamo, em 2017, Zé Celso afirmou que recebeu e recusou uma oferta de R$ 5 milhões do apresentador para que desistisse da disputa. À época, a assessoria do comunicador afirmou que desconhecia a conversa e que o empresário "não se pronuncia, não dá entrevistas e não dá depoimentos".
A Splash, Marcelo Drummond contou sua versão sobre a ligação telefônica. De acordo com o ator, o apresentador também teria oferecido a divulgação da peça "O Rei da Vela" na programação da emissora e que faria de Zé um homem rico.
"Eu vi o Silvio Santos ligando lá para casa. Eu atendi o telefone e passei para o Zé. Era a secretária do Silvio. O Silvio Santos oferecendo dinheiro para ele desistir. E o Zé respondeu: 'Você já foi mais elegante'. Foi antes do O Rei da Vela. Aí sugeriram que ele dava dinheiro e dava muita propaganda no SBT. Para o Zé ficar rico. E o Zé não aceitou."
Procurado pela reportagem, o Grupo Silvio Santos não retornou até o momento Se o fizer, o texto será atualizado. O espaço permanece aberto.
Sem acordo
Silvio e Zé se reuniram em agosto de 2017 com o então prefeito de São Paulo João Dória e o vereador Eduardo Suplicy (PT) para tentar um acordo. A divulgação de um vídeo com imagens da reunião, nas redes sociais do Oficina, teria deixado o apresentador incomodado. A insatisfação levou Silvio Santos a tratar o assunto apenas na Justiça, sem envolver mediadores.
O dramaturgo queria concluir o projeto criado por Lina Bo Bardi, que visava construir um parque cultural e público no entorno do teatro. Entre as décadas de 1980 e 1990, a famosa arquiteta comandou uma reforma no interior do teatro.
Como Silvio Santos é dono dos terrenos em volta do local, não foi possível colocar em execução a obra do parque. No entanto, a partir do tombamento do local em 1981, também não era permitido ao apresentador construir em volta do local. O dono do SBT não desistiu e, em 2017, conseguiu reverter na Justiça a decisão do Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico).
Medo, luto e legado
José Celso Martinez, o Zé Celso, morreu aos 86 anos, no dia 6 de julho de 2023. O dramaturgo teve 53% do corpo queimado em um incêndio no apartamento em que vivia. Após ser encaminhado para a UTI do hospital, Zé Celso foi sedado, entubado e, posteriormente, submetido à hemodiálise.
De acordo com Drummond, eles decidiram oficializar o relacionamento de 37 anos, um mês antes, porque Zé tinha medo de morrer e deixar a obra de toda uma vida solta.
"O Zé se sentia próximo da morte. Ele falava de vez em quando. Só que não era para ser desse jeito. Era uma coisa que ele imaginava, eu imaginava, que uma hora pudesse ter algum problema no coração, uma parada cardíaca. Uma coisa do gênero, porque ele sofria do coração", contou.
Para o viúvo, o dramaturgo foi o responsável por nortear a vida e a carreira de muita gente. "Eu acho que essas pessoas carregam consigo o que aprenderam. É uma importância grande, porque essas pessoas estão num dito mercado de trabalho, de teatro, e que vão continuar com o que aprenderam. Então a importância é a continuação de um tipo de trabalho."
Marcelo Drummond atribui a Zé a criação do teatro brasileiro e que o espaço do Oficina foi construído após muitos anos de trabalho. "Todo mundo tinha horror ao Zé, nos anos 1980. O Zé não conseguia fazer teatro, entendeu? Até que ele conseguiu. Ele conseguiu comigo, enfim. E, no que ele conseguiu fazer teatro, veio acontecendo. E, hoje em dia, o teatro é um sucesso, de um trabalho que foi feito."
Ele acredita que a maior homenagem ao dramaturgo é dar continuidade ao trabalho realizado pelo diretor desde sempre: "Eu vou continuar o trabalho que eu sempre vim, que eu já fazia com ele, que venho fazendo há 37 anos. Eu vou continuar fazendo isso que eu faço. Eu vou sempre pensar nele, homenagear, ter carinho, cuidar das coisas que ele deixou. Isso eu vou fazer. Pela vida afora".
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