De Taylor Swift a Municipal: por que é tão difícil comprar ingresso online?
Assistir a um show era algo feito apenas para diversão, mas recentemente o ato de lazer tem se tornado uma "operação de guerra". Ingressos esgotam em segundos, pessoas precisam acampar para conseguir tíquetes e até mesmo o Congresso dos EUA foi envolvido para investigar a maneira como o comércio tem funcionado.
Os principais problemas para a compra de ingressos online são: uso de ferramentas digitais que simulam ações humanas, ação de cambistas, demanda e oferta inadequadas.
Ferramentas digitais simulam ações humanas e facilitam ação de cambistas
As empresas desenvolvem as próprias etapas e requisições para a comercialização de ingressos online. Daniel Barbosa, especialista em Segurança da Informação da ESET, explica que quem tem interesse em uma compra precisa acessar um site, se autenticar com usuário e senha, eleger o produto que quer comprar e selecioná-lo. Esse processo é descrito como interface gráfica e permite que qualquer pessoa realize a compra, mas "existe uma série de requisições que acontecem sem que os usuários vejam entre o navegador e o servidor do site de venda de ingressos".
É aqui que bots entram em cena e podem simular o comportamento humano, isto é, eliminar a interface gráfica e usar softwares que apenas enviam tais requisições ao servidor solicitando a compra de determinada quantidade de ingressos. Essa requisição pode ser validada automaticamente e nem sequer entrar no processo da fila virtual para a sua aquisição. Dessa forma, os criminosos se aproveitam para comprar ingressos muito mais rápidos que o público geral, pois os bots podem ser usados peer-to-peer (P2P) ou me sites de revenda de ingressos, muitas vezes com lucro enorme.
A ação de cambistas é inimiga de quem busca por entradas, fora da bilheteria oficial, por um preço superior ao pago originalmente. Embora não tenha uma lei específica no Brasil para o crime de cambismo, os vendedores podem ser enquadrados nos crimes contra a economia popular, descritos na Lei nº 1.521, que pune com detenção de seis meses a dois anos, multa o ato de obter ou tentar obter ganhos ilícitos mediante especulações, ou processos fraudulentos.
A venda de ingressos da turnê The Eras Tour", de Taylor Swift, é um exemplo. No Brasil, o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) instaurou inquérito para apurar eventuais práticas abusivas ao consumidor adotadas pela TF4, empresa responsável pela venda, além da ação predatória de cambistas em frente às bilheterias. Já nos EUA, os fãs alegaram que foram ludibriados pela Ticketmaster, que teria facilitado a compra por cambistas, que revendiam as entradas por preços exorbitantes em sites de revenda.
As dificuldades, no entanto, não são exclusividade dos grandes espetáculos internacionais. Frequentadores do Sesc-SP e do Theatro Municipal relatam problemas e falta de bilhetes em publicações nas redes sociais. Em alguns casos, as entradas se esgotaram em poucos minutos após a abertura do período de venda, como a apresentação única da peça "Eu de Você", estrelada por Denise Fraga, no Municipal em 1º de agosto. "Esperei até a abertura das vendas, entrei minutos depois e 'curiosamente' só tinha ingresso ruim, e bem poucos", conta Ana Pereira, nas redes sociais. "Ingressos esgotados. Aí não vale", lamenta Andrea Vale.
Demanda e oferta inadequadas
Outro fator que dificulta a compra online é a lei da oferta e da demanda. Em 9 de junho, quando a T4F abriu as vendas para os shows de Taylor Swift, a fila digital chegou a 1 milhão de pessoas por volta das 10h. Os ingressos se esgotaram em apenas 10 minutos. Ainda que exista a ação ilegal de cambistas, a alta procura foi observada pela empresa e os fãs da artista.
O episódio não está isolado. A farmacêutica Vanderleia Sepulvida, 33, não conseguiu comprar ingressos para um show de Roberto Carlos na categoria desejada. Além de enfrentar problemas com a Eventim, os lugares desejados esgotaram rapidamente. "Fui tentando até conseguir, porque é um sonho meu conhecer o Roberto Carlos. Depois de mil tentativas, eu consegui. Era página não encontrada. Outra hora não carregava. Aí eu saía, esperava alguns minutos e tentava", explica, em conversa com Splash.
A Eventim aparece em primeiro lugar na lista de reclamações do Procon-SP, de acordo com informações apuradas pela reportagem. Ela soma mais de 1.400 queixas só em 2023. Na sequência, vem a T4F (1.161), a Ingresse - Ingressos para Eventos S/A (226) e a Live Nation Brasil Entretenimento (195).
"A maior parte dos questionamentos dos consumidores relacionadas à compra de ingressos online referem-se a: ausência de oferta de meia-entrada, taxa de conveniência, indisponibilidade de ingresso; compra efetivada e cancelada pelo cartão", revela a autarquia.
De modo geral, a Eventim explica que as filas são organizadas segundo a ordem de chegada. "A liberação gradual dos clientes para terem acesso ao sistema de compras obedecerá ao critério de quem chegou primeiro, compra primeiro. Isso ocorre de maneira sucessiva até que a fila virtual ou o inventário de ingressos se esgotem."
A empresa argumenta que trabalha com a empresa Queue-IT, companhia dinamarquesa "desenvolvedora de sistemas para lidar com o congestionamento do tráfego de sites, direcionando os visitantes para uma fila de espera até que o acesso seja facilitado."
Procurada, a T4F não se quis se manifestar sobre o assunto.
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