Pais fugiram de genocídio: coisas que você não sabia sobre Aracy Balabanian
A atriz Aracy Balabanian, que morreu hoje, aos 83 anos, no Rio de Janeiro, brilhou em uma profissão que contrariava a vontade do pai. Ela também viveu uma personagem marcante que causou a ira de uma comunidade e viu seu sonho de infância ser podado por uma professora.
Mas nada impediu que se tornasse uma das artistas mais conhecidas do Brasil. Confira sua trajetória!
Pais estrangeiros
Os pais de Aracy Balabanian são armênios e vieram ao Brasil para fugir do genocídio promovido pelos turcos otomanos. Com sete irmãos, ela nasceu já no Brasil, em Campo Grande (MS)
Sonho de criança
Antes de colocar o seu nome no hall da fama da história da dramaturgia, Aracy Balabanian sonhava com voos bem mais simples ainda no Mato Grosso do Sul. No programa "Persona Em Foco", da TV Cultura, ele revelou que, durante a infância, o seu grande sonho era ser anjinha na igreja para coroar Nossa Senhora. "Mas a professora de Catecismo dizia que eu não podia ser anjinho, porque tinha cara de turca", contou na ocasião.
Mudança de planos
Os sonhos mudaram de rumo, quando ela, já em São Paulo, foi ao teatro com as irmãs mais velhas para ver uma peça de Carlo Goldoni com a atriz Maria Della Costa. "Eu chorei muito. Estava emocionada, porque era aquilo que eu queria. É muito difícil para uma criança de 12 anos, ainda mais naquela época, querer ser atriz e já perceber que ia ter muitas dificuldades", relembrou ela no programa "Persona Em Foco".
Para seguir a carreira que sonhava, ela precisou enfrentar o preconceito do próprio pai, que não aceitava a profissão: "Eu comecei numa época em que não era bonito fazer televisão, nem teatro".
Indicação e inspiração
Já em São Paulo, Aracy conheceu Augusto Boal, que a indicou para um teste, que, por sua vez, resultou em sua estreia como atriz em "Almanjarra". Logo após a sua aparição, uma crítica de Décio de Almeida no Estadão apontava que "nascia uma estrela".
Ela contou que Beatriz Segall pedia para que ela não deixasse de estudar e aprender. "Até hoje estou fazendo isso. Eu tinha a Beatriz como meta... Eu queria ter os gestos e a elegância dela. Ela me ensinou o princípio de tudo."
Aos 15 ela começou a fazer teatro e, aos 18, entrou para a Escola de Arte Dramática de São Paulo (EAD).
"Antônio Maria" e o orgulho do pai
Se no início o pai não simpatizava com os rumos da filha, um trabalho dela conquistou o coração do genitor: "Antônio Maria", na TV Tupi.
"Essa novela teve grande importância na minha vida, porque conquistou meu pai... Ele levava bolos de fotos para eu autografar e saia distribuindo. E dizia: 'Você sabe de quem eu sou pai?'. Foi durante essa novela que meu pai morreu", relembrou com carinho em entrevista ao "Persona Em Foco".
Na imagem abaixo, ela aparece ao lado do ator Sérgio Cardoso, com quem contracenava na trama.
Papel xodó
Apesar do sucesso da personagem, em conversa com o "Vídeo Show", a atriz revelou que o seu grande motivo de orgulho é outro trabalho: a Vila Sésamo, nos anos 70: "As crianças aprendiam a ler, muita gente dizia 'meu filho não falava e começou a dizer um, dois, três, quatro, cinco'. Já me chamaram de 'a minha Xuxa'"
Dona Armênia
Entre as personagens de maior destaque está Dona Armênia, das novelas "Rainha da Sucata" (1990) e "Deus nos Acuda" (1992).
"Eu aprendi a escrever e a falar armênio com meus pais. E sabia porque eles trocavam o masculino pelo feminino", contou ao programa "Persona Em Foco".
Mas a personagem não teve a melhor das repercussões entre determinado público. "Os armênios eram contra. [Para eles] era um deboche, diziam que não falavam daquele jeito", disse ao "Vídeo Show".
Sobre como seria a repercussão hoje em dia, era da internet, ela imaginou: "Eu ia ser crucificada".
Pediu para sair do "Sai de Baixo"
De 1996 a 2001, Aracy esteve em outro dos trabalhos que representam um marco em sua carreira, o humorístico "Sai de Baixo", exibido pela Globo nas noites de domingos. Ao "Vídeo Show", ela contou que não se sentia confortável com sua performance, pois não conseguia se concentrar o suficiente para segurar as risadas.
"No início, quem dirigia era o Daniel Filho. Eu pedi para sair, porque estava feio. Eu não aguentava e dava risada na hora", contou. "Fui sempre considerada a trágica brasileira. Até que o Silvio de Abreu começou a me chamar para papéis de comédia. Mas não cheguei lá, sou dramática."
Ao site Memória Globo, a atriz revelou que gostava de se lembrar da divertida Cassandra e que o humorístico representava "o sonho de todo ator", pois misturava teatro com televisão: "O público gostava quando a gente errava", afirmou sobre a possibilidade de explorar o improviso.
Aracy também refletiu sobre os desafios da sua profissão ao site Memória Globo: "O ator é um contador de histórias. Mas ele tem que contar bonito para as pessoas terem vontade de ouvir".
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