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OPINIÃO

Por que executivos da Mattel estão entendendo errado o sucesso de 'Barbie'

Barbie: união entre mulheres salva a Barbielândia - Divulgação
Barbie: união entre mulheres salva a Barbielândia Imagem: Divulgação

De Splash, em São Paulo

07/08/2023 04h00

Antes mesmo de "Barbie" pintar as telonas de rosa mundo afora, a Mattel já estava mostrando sinais de entender de forma completamente equivocada o frenesi que rondava o filme. Um artigo publicado pela revista New Yorker já listava assustadores 45 projetos em variadas fases de desenvolvimento que a empresa de brinquedos pretende levar para o cinema.

Para quem já viu esse filme, a perspectiva é de um futuro triste caso essas projeções se concretizem. Quando James Cameron mostrou do que o cinema em 3D era capaz, com "Avatar" (2009), não foram poucos os filmes que tentaram repetir o feito de Pandora com resultados trágicos. Choveram filmes em 3D que não tinham funcionalidade alguma para a tecnologia, e outros que tentaram construir mundos inteiros em CGI que eram simplesmente... chatos.

Não que isso seja novidade. Depois de "Lost", surgiram dezenas de séries cuja premissa era um mistério envolvendo a queda ou desaparecimento de um avião —e a maioria delas também sumiu no ar após uma única temporada. A mesma coisa aconteceu depois do lançamento do primeiro "Toy Story" (1995), e levou um tempo até os estúdios entenderem que o sucesso do filme não era necessariamente o CGI, mas o quanto a história era carinhosa com os personagens e levava um coração gigantesco.

O que os executivos da Mattel parecem não entender é que o feito bilionário de "Barbie" não significa que o público esteja se apinhando em filas para conferir adaptações de Uno, Hot Wheels e Barney. Existe, na verdade, alguma coisa muito mais pontual que justifica o poder do longa de Greta Gerwig.

A "onda rosa" com toques de feminismo do filme se cruza com um fenômeno da hiperfeminilidade (ou seja, o uso sem culpa de cores, objetos e elementos vistos tradicionalmente como femininos) ser vista como um empoderamento das mulheres, algo que cresceu nas esquinas do TikTok e encontra 'momentum" de forma mais ampla. O zeitgeist cultural movido pelo filme também tem relação com o fato de ter atrelado a ele uma cineasta autora, que imprimiu sua voz ao roteiro ao invés de servir como mera produtora executando um papel.

Soma-se a isso, ainda, o fato de se tratar de uma história original, que não demanda o conhecimento prévio de outra meia dúzia de filmes ou séries e não é a refilmagem de algum sucesso de décadas atrás. Se levarmos em consideração a dominância cultural do Universo Cinematográfico Marvel até "Vingadores: Ultimato" (2019), e o inegável declínio dali em diante, com um excesso de filmes e séries medianos que só serviram para escancarar a crise criativa da marca, é seguro dizer que o público está um pouco exausto de multiversos tão elaborados e pronto para algo diferente.

Por isso, é incongruente o sonho da Mattel de fazer sua própria versão de um Universo Cinematográfico, até mesmo porque eles parecem ter esquecido que a própria "Barbie" passou anos no "inferno do desenvolvimento" antes de vir ao mundo.

O que o cinema deveria aprender com "Barbie" é que talvez, apenas talvez, o público esteja interessando em histórias que não subestimam a inteligência de quem está diante das telas. Ao invés disso, parece ter entendido que todo mundo está interessado em Lily Collins interpretando a Polly Pocket em um filme de Lena Dunham.