Topo

MC Poze do Rodo tem show cancelado após pedido de deputados bolsonaristas

MC Poze do Rodo tem show cancelado após pedido de deputados bolsonaristas  - Reprodução/Instagram
MC Poze do Rodo tem show cancelado após pedido de deputados bolsonaristas Imagem: Reprodução/Instagram

De Splash, em São Paulo

09/08/2023 09h43Atualizada em 09/08/2023 13h32

A Funarj, fundação responsável pela promoção e administração de diversos espaços culturais do Estado do Rio de Janeiro, cancelou uma apresentação do músico MC Poze do Rodo, no Teatro João Caetano, após críticas de deputados estaduais bolsonaristas.

A informação foi publicada primeiro pelo colunista Ancelmo Gois, do jornal O Globo, e confirmada pela reportagem de Splash. O show, que estava marcado para o dia 22 de agosto, integrava a programação do projeto "Fim de Tarde". A instituição havia orçado uma despesa de R$ 40 mil com a apresentação.

Jackson de Oliveira Emerick, presidente da Funarj, cancelou a apresentação por meio de um ofício, na terça-feira (8). Segundo o colunista, Emerick justificou a decisão alegando "demonstrar amplo respeito em relação a todas as demandas".

O deputado Anderson Moraes (PL), que se define como "bolsonarista, conservador e cristão", acusou MC Poze de "apologia" ao crime organizado por meio das letras. A declaração foi feita durante a sessão ordinária no início de agosto. Segundo o jornal O Globo, também assinaram o pedido deputados como Rodrigo Amorim (PTB), Índia Armelau (PL), Fred Pacheco (PMN), Marcelo Dino (União Brasil) e outros.

"Eu oriento esse cidadão, o presidente [da Funarj], quando for autorizar recurso público, que ele pense com a cabeça das pessoas, do cidadão de bem do Estado do Rio de Janeiro, que paga seus impostos e que, com certeza, não concorda com esse tipo de aplicação do recurso público. É um verdadeiro absurdo", disse Anderson Moraes na Alerj.

Procurada por Splash, a Funarj afirmou que a responsabilidade da curadoria dos shows é do produtor Zé Ricardo. "O Projeto Fim de Tarde, que tem como objetivo promover a diversidade cultural e musical, é uma iniciativa da FUNARJ, que se dedica à promoção e desenvolvimento das artes no estado. A curadoria artística do projeto é responsabilidade do renomado curador Zé Ricardo, que desfruta de uma vasta experiência na cena musical."

A instituição, no entanto, confirmou que a apresentação foi cancelada "em respeito à solicitação apresentada" por "diferentes bases de deputados" da Assembleia do RJ. "Inicialmente, a FUNARJ emitiu um ofício informando o cancelamento do show, em respeito à solicitação apresentada. No entanto, em um cenário de intensa discussão e polêmica, a FUNARJ recebeu um novo ofício, desta vez de outra base de deputados, solicitando a continuidade do espetáculo. Diante desse contexto, o curador Zé Ricardo, em respeito à ALERJ, aos fãs do movimento TRAP e à própria essência do Projeto Fim de Tarde, tomou a decisão de realizar uma substituição no lineup do evento."

A reportagem também entrou em contato com a Secretaria de Cultura e Economia Criativa, que informou que a instituição é "uma fundação vinculada, mas independente e dotada de orçamento próprio e autonomia administrativa para deliberação dos eventos em seus equipamentos".

MC Poze do Rodo também foi procurado, mas não retornou até o momento. O espaço permanece aberto.

Quem é MC Poze do Rodo?

MC Poze do Rodo tem 5,8 milhões de ouvintes mensais no Spotify, e assina hits como Me Sinto Abençoado, Vida Louca e A Cara do Crime (Nós Incomoda).

Em 2021, a Polícia Civil do Rio de Janeiro pediu sua prisão por se apresentar durante a pandemia e por associação ao tráfico — este último porque, segundo a polícia, há tráfico de drogas nos bailes em que ele se apresenta.

Na época, o advogado criminalista Joel Luiz Costa apontou que essa interpretação da lei abre margem para o racismo: "Os MCs são uma espécie de bode expiatório do momento para que se mantenha um processo de criminalização da cultura produzida por pessoas negras. Como já aconteceu com a capoeira, o samba, as religiões de matrizes africanas", disse em entrevista a Splash.