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Bridi se emociona ao lembrar da tragédia Yanomami: 'Não queria botar no ar'

Sônia Bridi, 59, em entrevista para a Revista Quem, falou sobre sua jornada com reportagens especiais que entraram para a história do jornalismo no Brasil.

A tragédia Yanomami foi a pior coisa que já viu na vida: "Foi a pior coisa que já vi na minha vida. Já cobri campo de refugiado, já cobri conflito, já cobri tragédias e nunca vi nada tão horrível antes. A aldeia virou uma ilha no meio do garimpo. Nós estávamos com o helicóptero da Força Aérea Brasileira e os garimpeiros vinham para cima da gente, nos encarando, nos desafiando, sem respeitar a autoridade. Uns mostrando armas. Vi um cara com uma arma apontando para a gente"

A criança que carregou no colo em imagem emblemática: "Nunca vi criança desnutrida daquele jeito, eram velhos, idosos, e sem estrutura para o atendimento deles. Não carreguei criança porque queria aparecer na televisão carregando criança. Carreguei porque alguém tinha que levar. Eram nove crianças e um adolescente, mas tinha pouca gente e alguém tinha que carregar e carreguei também"

Sônia não queria colocar a imagem no ar: "Eu não queria botar no ar. Porque eu achava que chamaria atenção para mim e não queria isso, eu achava que você [o repórter] não pode chamar atenção. Depois fui convencida de que a imagem mostraria a falta de estrutura"

A relação dos filhos com suas viagens a trabalho desde cedo: "Se por um lado viajo com meu marido, meus filhos ficavam sem pai e sem mãe. Isso é uma coisa que eu converso muito com eles. Fui ser correspondente quando a Mariana tinha 11 anos de idade. Aí você estava em um país estranho, Mariana ficava em Nova York com 11 anos e eu lá no Ártico no meio do gelo, fazendo não sei o quê. Fui para o México porque aconteceu um atentado... Os dois passaram muito por isso. Pedro mais ainda porque começou mais cedo"

A culpa que toda mãe carrega: "Falo sobre isso com eles, porque, claro, né? Toda mãe carrega culpas. Eles falam assim: 'que isso?!' O Pedro é mais tímido, mais quieto, mais o jeito do pai dele. A Mari é mais falante. Mas é difícil [lidar com a distância]. Meu pai sofreu um infarto e eu estava na Antártica, dentro de um navio da Marinha. Entrou um furacão e a única coisa que eu recebi foi um e-mail da minha irmã dizendo assim: 'o pai teve um infarto, é muito grave, volte'. Consegui chegar uma semana depois. Ele morreu na noite que eu cheguei. É foda!"

A relação com os netos hoje em dia: "Mariana me mandou hoje um meme que era assim: 'a mãe: um tiranossauro rex; a avó: o Horácio (risos). Sou super derretida com a Aurora e o Tintim, mas não sou uma avó permissiva que deixa as crianças correrem risco, eu tento ensinar a comer bons alimentos, cozinho com eles, passo conceitos de sustentabilidade. O Tintim é meu ajudante de cozinha"

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