Antônio Fagundes sobre sexualidade do filho: 'Tive um certo problema'
Antônio Fagundes, 74, participou ao lado do filho Bruno Fagundes, 34, da gravação do programa Dois em Cena: Encontro de Gerações, que irá ao ar no Canal Viva em setembro.
Bruno falou que lamenta quando comparam dois seres humanos, mesmo que parentes, pois acredita que isso reduz o processo independente e íntimo de cada ator: "Tem muita luta, trabalho e dedicação. Somos formados por nossos filtros, nossas dores. Nossas vivências são diferentes e o resultado final é muito diferente. Não gosto quando reduzem meu talento à genética. Se fosse genético, eu sairia marcando gol de cara e ninguém marca. Não é DNA, eu tenho inspiração no meu pai".
Fagundes sobre a homossexualidade do filho e a dificuldade que teve para aceitar em um primeiro momento: "Foi uma surpresa, eu não imaginava. Confesso que tive um certo problema, não estava preparado. Tive uma formação machista e tenho tentado de lá para cá me educar nesse sentido. Com muito prazer e muito carinho, tenho conseguido".
Bruno elogiou o pai e diz entender seu processo: "Fico muito orgulhoso do caminho que meu pai percorreu e sei que também percorri. Eu também não sabia , ninguém nasce sabendo como lidar e andamos de mãos dadas. A maior satisfação da minha vida é ter um pai que é um aliado de verdade".
O filho conta que o personagem que Antônio viveu na novela "Amor à Vida", em 2013, um pai homofóbico que no fim aceita Félix (Mateus Solano), foi assunto de conversa entre os dois: "A gente celebrou o momento, que foi bonito para o Brasil todo. A gente já tinha atravessado e resolvido isso entre nós. Celebramos como uma extensão da conversa que tivemos sobre e também como um trabalho".
O veterano elogia o filho e diz que está feliz em vê-lo pleno: "O Bruno sempre foi um filho tão querido. A gente tem que entender que houve e ainda há uma formação misógina, patriarcal e tem que ser combatida com tudo que é contrário a isso, como carinho, compreensão, presença. Se a gente consegue perceber isso na gente, a mudança é fácil. É um processo de libertação, do tipo: 'Pronto, tô livre'. Agora o problema é dos outros. Feliz em ver meu filho pleno."
O rapaz revela que teve receio em tornar sua sexualidade pública: "Tinha todos os receios de tornar minha orientação sexual pública. Me faltava coragem, confiança, segurança e me sentir confortável na minha própria pele. Quando encontrei essa maturidade, percebi que não existia outro caminho que não fosse falar"
Bruno ainda completa dizendo que falar abertamente sobre homossexualidade é como respirar aliviado: "Me sinto bem em ser um pouco a revolução que sempre esperei nos outros. Em uma entrevista que dei, a jornalista me perguntou se falar minha orientação sexual era como respirar aliviado. Respondi que era muito mais que isso, era existir completamente",
Antônio destacou a emoção de trabalhar com o filho nos palcos: "Para mim foi uma emoção contracenar com ele. De repente, ver ali na minha frente uma outra existência. A gente tem uma coisa boa que é o camarim. Depois do terceiro sinal do teatro são dois atores, um respeitado o outro. Agora, acabou a peça, a gente se beija, abraça e volta a ser pai e filho. O aprendizado é mútuo e você vê algumas fragilidades que tem o reflexo do outro".
Ele ainda afirma que não foi um pai presente mas que teve boa vontade: "Pai presente? Eu acho que nunca fui muito presente nesse sentido, mas eu tinha muita boa vontade, né, filho? Já que eu não podia ficar junto, eu levava eles para o trabalho e para o set de gravação".
Já Bruno fala sobre como era ser filho de um famoso na infância: "A parte mais difícil de ser filho de ator é a fama. Quando criança é difícil elaborar isso. As pessoas são cruéis. Tenho sorte de ter um pai que tinha muito esclarecimento sobre isso e nos ensinou a lidar. Dependia dele a explicação. A gente tirou isso de letra e foi aprendendo junto. Me lembro até das pessoas perguntarem se eu era filho e eu dizia: 'Não sou não'. Não como quem nega, mas como quem quer sair do holofote".
Antônio diz que tipo de filho o Bruno é: "Carinhoso, querido, inteligente, ativo, tem um geniosinho, mas quem não tem? Continue assim, filho. Como colega de trabalho é bonito de ver e como pai então..."
Bruno responde que tipo de pai Antônio é: "Homem do mundo, generoso, inteligente. O domínio dele com as pessoas e com as palavras, a cultura que ele tem e como me ensina diariamente. Aprendo, vejo o livro que está lendo, série que está interessado, tenho muito orgulho. Eu digo obrigado, pai, de coração."
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