Conteúdo publicado há 10 meses
OpiniãoCrítica

A única parte divertida de 'Agente Stone', com Gal Gadot, são os créditos

"Agente Stone", o novo filme de ação da Netflix estrelado por Gal Gadot, prometia inovar a fórmula dos filmes de espionagem com uma história que fala de relações humanas e disputas de poder, sem deixar de lado a diversão das explosões e dos efeitos especiais. Na prática, no entanto, nem inova e nem diverte.

Para não ser injusta, começo citando o único momento em que me peguei genuinamente sorrindo diante da televisão: os créditos de abertura, exibidos sobre uma animação linda e colorida ao som de uma música pop empolgante da israelense Noga Erez. É uma abertura digna de um filme que vai nos manter vidrados do começo ao fim — pena que não foi o caso.

Na história, Gal Gadot interpreta a espiã Rachel Stone, funcionária de uma instituição secreta e poderosíssima formada por agentes insatisfeitos com as limitações dos governos de seus países de origem. Essa entidade, chamada A Carta, é guiada por uma inteligência artificial onipotente: ninguém explica como, mas a máquina chamada de Coração consegue hackear qualquer sistema e calcular a probabilidade de sucesso de tudo o que seus espiões fazem.

A motivação dessa entidade não fica muito clara - mas, em defesa da Carta, não sabemos direito o que guia ninguém nesse filme. Por exemplo: o grande dilema de Rachel Stone com seu trabalho é a proibição de criar laços e relacionamentos. Só que, como público, aprendemos tão pouco sobre as pessoas ao redor dela que fica difícil se importar, mesmo quando isso se torna um tema central do filme.

A protagonista também passa o filme inteiro sendo perseguida por um assassino interpretado pelo espanhol Jon Kortajarena. Perceba que eu não disse o nome do personagem, e isso é porque ele simplesmente não tem nome. Nos créditos finais, é citado como "O Loiro". O que custava dar um nome para o coitado?

Talvez custasse o tempo precioso que os personagens passaram fazendo uma verdadeira Eurotrip. São cinco países em duas horas de filme: eles começam nos Alpes italianos, passam por Londres, Lisboa, dão um pulo na África para visitar um deserto senegalense e retornam à Europa para uma universidade islandesa. Isso sem contar um flashback da guerra na Chechênia e uma sequência de luta num dirigível em pleno voo.

Se você piscar por muito tempo, corre o risco de abrir os olhos e ficar sem entender como (e, principalmente, por que) eles estão no deserto, se há alguns segundos estavam na neve. Os cenários, ainda por cima, não fazem diferença para a história: a impressão que fica é que o diretor Tom Harper escolheu sacrificar o tempo que poderia ser usado para desenvolver o enredo só para nos mostrar paisagens bonitas.

O resultado é que Agente Stone é um filme que fica entre as duas principais funções dos filmes na Netflix: não vai prender a sua atenção por duas horas, mas também não pode ser deixado de fundo enquanto você faz outra coisa.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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