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Lemmertz rasga o verbo sobre falta de filmes brasileiros: 'É pornográfico'

Colaboração para Splash

16/08/2023 04h00

Júlia Lemmertz, 60, é a convidada de Zeca Camargo na edição desta semana do programa Splash Entrevista. A atriz entra em cartaz em vários cinemas do país a partir desta quinta-feira (17) com "Tempos de Barbárie - Ato I: Terapia da Vingança", longa de Marcos Bernstein centrado em um tema mais que atual: a violência urbana.

Júlia interpreta Natália, que ajuda a protagonista, Clara (Cláudia Abreu), a superar uma tragédia com a própria filha, baleada em uma tentativa de assalto. "O que eu acho bacana no recorte do filme é que se trata de um longa de ação, cuja história se concentra em uma mulher. É uma ótica feminina, de duas mulheres que se atravessam em um mundo extremamente masculino."

Entusiasta do cinema nacional, Júlia critica o pouco espaço dado às produções brasileiras no circuito comercial. "Todos os cinemas têm 'Barbie', 'Oppenheimer', 'Transformers', etc., [mas] nossa cota de lugares está absurda. O espaço que tem para o cinema brasileiro é mais do que ridículo. É pornográfico!"

Ela lamenta que vários títulos nacionais tenham verdadeiras passagens-relâmpago pelas salas de exibição. "O filme lançou, tem que ir bem na primeira semana, senão ele some. Se na primeira semana tiver público, ele ainda fica mais um pouquinho [em cartaz]. É um absurdo!"

A atriz vê a criação de políticas públicas mais robustas como a principal saída para ampliar esse espaço. "Não dá para ter uma reserva de cota [tão ínfima]. O cinema brasileiro, para almejar ser a indústria que merece ser, precisa ser visto. Seja um filme pequeno, seja um filme grande, seja o filme que for, você precisa criar condições para que a plateia saiba que existem filmes brasileiros sendo mostrados."

Zé Celso

No início de julho, a classe artística brasileira chorou unânime a perda do diretor teatral Zé Celso - e Júlia não foi exceção. "O Zé é realmente daquelas pessoas que vão sem ir. Ele não foi, ele continua aqui. Ele deixou um legado que é para além do Teatro Oficina. É uma obra gigante."

A atriz expressou a infinita admiração que nutria - e ainda nutre - pelo diretor. "Tenho um profundo amor pelo Zé, pela quantidade de coisas que ele inspirou nas pessoas - e pelo cara absolutamente coerente e fiel a si mesmo [que foi]. É muito difícil você ser fiel a si mesmo nesse trabalho. Não abrir mão das suas convicções, do que você acredita, e ter que viver numa dramática dificuldade porque não faz concessões."

Foi nos bastidores de uma montagem de Hamlet, no Teatro Oficina, que ela começou a se relacionar com o ex-marido, Alexandre Borges. "Nossa vida [juntos] começou ali. O Teatro Oficina abriu um portal para mim, em certo sentido. Tenho uma semente no Oficina. Não sou pé fincado, mas minha raiz e meu coração estão ali."

Ativismo político

Como outros grandes nomes das artes nacionais, Júlia Lemmertz jamais se furtou a se manifestar politicamente - o que já lhe custou alguns desgostos. "Teve uma época, nesses quatro anos atrás [de governo Bolsonaro], que eu tive que sair [das redes sociais] porque comecei a ter taquicardia. Queria responder às pessoas que falavam barbaridades - Pessoas que não me conheciam, que eu nem sabia se eram reais, mas que me atacavam, me agrediam [verbalmente]."

Júlia entende que se posicionar é uma obrigação inerente à cidadania. "Esse lugar é algo que está em mim. Eu não consigo não me manifestar, porque quem se manifesta é a cidadã, que trabalha, paga imposto e vê as coisas acontecendo."

Ela acredita que seu status de pessoa pública não a exime desse dever. "Não sou melhor que ninguém por ser atriz ou por trabalhar em determinada empresa. Eu estou nesse lugar da comunidade, e isso me interessa. Porque não adianta a vida estar boa para mim e estar horrível para todo mundo, ou para a maioria das pessoas."

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