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Fernanda Montenegro diz não querer ser unanimidade: 'Unanimidade é burra'

Fernanda Montenegro, 93, em entrevista ao O Globo:

Ser unanimidade. "Nelson é o dramaturgo que mais encenei. E, alinhada ao que ele preconizava, eu não sou uma unanimidade. Nem quero. Porque toda unanimidade é realmente burra".

Personagens premiadas. "O acaso me levou às circunstâncias de ter sido premiada com personagens que retratam os conflitos éticos e morais por que passam as pessoas no subúrbio. Mas, na verdade, Zulmira, Dora [Central do Brasil] e Picucha [Doce de Mãe] carnificam o que aflige a todos, independentemente de origem socioeconômica".

Espetáculos de Nelson Rodrigues. "Ele é o cronista visceral do comportamento do homem brasileiro. Apesar de seus paradoxos, pois que esteve ao lado dos militares enquanto o filho se tornaria um preso político, não há como negarmos a sua importância. Nelson nunca fez concessões para atender ao que, hoje, chamamos de politicamente correto, e tampouco lançou mão da caricatura em seus escritos. A sua matéria-prima era o real, descortinado, amplificado. Por isso causa incômodo ainda hoje aos que levantam a bandeira da moralidade, mas que, verdadeiramente, comungam com a hipocrisia".

Reflexões sobre a morte. "Faz parte da existência. A cada dia que se ganha é um outro que se perde. É dialético, é uma questão central que nos habita. Se celebramos a pulsão de vida de forma tão veemente, não há como desprezarmos a pulsão de morte. Morrer é uma circunstância sobre a qual precisamos refletir e da qual não temos como fugir".

Aposentadoria? "Terei de parar em algum momento. Mas enquanto ainda tiver energia estarei no front. Sobrevivi, e ainda sobrevivo, ao impossível como artista. Críticas? Várias. Mas, como muitos personagens que encarnei, tenho fome de vida".

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