'Besouro Azul' é quase um Homem-Aranha latino com o talento de Marquezine

Se você já assistiu ao primeiro "Homem-Aranha", provavelmente terá uma sensação de déjà vu ao assistir "Besouro Azul", que estreou nos cinemas na última quinta-feira (17). E não só porque os dois são super-heróis com nomes de animais.

São vários os aspectos que fazem lembrar o filme estrelado em 2002 por Tobey Maguire — minha primeira referência entre os filmes do gênero e talvez, por isso, a que mais veio à memória ao assistir à nova produção da DC. A impressão não é só minha: antes mesmo de ser lançado, foi chamado por alguns veículos especializados de um cruzamento entre Peter Parker e o Homem de Ferro.

No enredo, Jaime Reyes (Xolo Maridueña) volta à fictícia cidade de Palmera City após se formar na faculdade. Sua família está sendo despejada de casa pelas empresas Kord, que agora dominam o lugar sob o comando da vilã Victoria Kord (Susan Sarandon). Bruna Marquezine vive Jenny Kord, sobrinha da antagonista e herdeira da empresa. Filha de Ted Kord, o último Besouro Azul, ela quer tirar das mãos da tia o Escaravelho, capaz de transformar um homem comum no super-herói, uma máquina de combate. Com isso, quer também preservar o legado do pai.

Nessa missão, ela acaba entregando o Escaravelho a Jaime. Os caminhos dos dois se cruzam nas empresas Kord, onde o rapaz tentava conseguir um emprego. Na posse do objeto, Jaime acaba sendo "escolhido" e se torna o Besouro Azul.

Culpa da história original do personagem ou não, a produção acaba caindo em alguns clichês, que vão da clássica cena em que o personagem principal descobre, de forma desastrada, suas novas habilidades ao seu próprio "Tio Ben". Dá aquela sensação de "já vi isso antes", mas agora com um tempero (ou sazón) diferente: o protagonismo latino.

Falando do que "Besouro Azul" traz de novidade, a origem latina dos personagens e que permeia toda a história, é uma delas. A animada família de Jaime é parte predominante do longa-metragem e parece ser a grande aposta do diretor porto-riquenho Ángel Manuel Soto para emplacar sua primeira investida no gênero.

Rudy (George Lopez), o tio "doidão" desconfiado, e Milagro (Melissa Escobedo), a irmã linguaruda, divertem com seus timings para a comédia. Mas como em quase todo lar latino, o núcleo familiar é maior que isso e inclui ainda o pai, a mãe e a avó de Jaime.

O problema é que tanto tempo de tela para os parentes acaba roubando a cena do personagem principal. Saí do cinema com a sensação de que não vi o suficiente de Jaime, o que é uma pena, porque o charmoso e carismático Maridueña, de "Cobra Kai" (Netflix), se sai muito bem na produção.

Continua após a publicidade

De qualquer forma, as referências a Maria do Bairro e Chapolin Colorado certamente vão divertir o público brasileiro. Outras, devem passar despercebidas, como o apego de comunidades latinas ao Vick VapoRub, tido como uma "poção mágica" pelas abuelas e popularmente conhecido como "el bibaporrú".

Algo inédito e muito mais esperado pelos fãs brasileiros é a estreia de Bruna Marquezine em Hollywood. Provavelmente frustrando os odiosos de plantão, ela é uma das protagonistas, consegue se destacar no elenco e aproveitar bem sua personagem.

No filme, Bruna inclusive consegue mostrar o talento que a consagrou como atriz: o de chorar em cena, que dá alguma profundidade a Jenny Kord e ainda faz os brasileiros se lembrarem de Salete, a personagem de "Mulheres Apaixonadas" que a alçou ao estrelato em 2003, quando ela tinha apenas oito anos. Vale destacar o traquejo de Marquezine para atuar em sua primeira superprodução gringa, repleta de efeitos especiais, novidade para alguém cujo currículo é dominado por novelas e outros trabalhos nacionais.

Outro ponto positivo é a química entre Xolo e Bruna, cuja amizade (ou romance?) por trás das câmeras se infiltrou nos personagens. Dá vontade de ver os dois juntos de novo.

A profundidade de Jenny não é dispensada à veterana Susan Sarandon que, em um roteiro abarrotado, não consegue conferir personalidade alguma à vilã Victoria Kord. Até o soldado quase mudo Carapax (Raoul Max Trujillo) consegue ser mais complexo, mesmo que isso só surja nos minutos finais do longa.

Vale ver "Besouro Azul" no cinema? Para quem gosta de filme de super-herói, vale. A introdução do personagem diverte, só não é memorável. Também vale para ver Bruna Marquezine e Xolo Maridueña em ação. A cena pós-créditos dá a entender que o Besouro Azul pode voltar. Caso isso aconteça, a continuação pede protagonismo de verdade para aqueles que são o ponto alto da história: mais Xolo e mais Bruna, com uma pitada de George Lopez, por favor.

Continua após a publicidade

Deixe seu comentário

Só para assinantes