'Vivenciando o tambor': o que é congada, ritual religioso de Amor Perfeito?
Em "Amor Perfeito", Popó (Mestre Ivamar) e Celeste (Cyda Moreno) serão coroados rei e rainha durante a congada de aniversário de São Jacinto, cidade fictícia da trama das 6. A cena, que será exibida amanhã (25), vai festejar o amor na maturidade dos personagens de Ivamar e Cyda, com direito a performance de Aparecida, vivida por Isabel Fillardis.
Ativista do Movimento Negro, Mestre Ivamar emprestou dez caixas de marabaixo para as cenas da congada — o instrumento é usado na colorida e tradicional festa sincrética de Minas Gerais. O ator mantém 40 dessas "caixas guerreiras", como ele chama, em seu apartamento no Rio de Janeiro.
O ator estuda há duas décadas o "sotaque dos tambores" e mergulha na sonoridade do instrumento em quilombos Brasil afora. Além de emprestar os instrumentos, o ator e educador trocou todas as cordas usadas para afinação, substituindo o nylon pelo sisal, já que a história se passa nos anos 1940.
"Toda a equipe foi envolvida. Inclusive tive que ensinar à figuração o toque do tambor. Então, foi interessante eles terem pegado os instrumentos, foram 10 caixas de marabaixo e eles puderam contracenar com elas, vivenciando o tambor. Para mim, foi um presentão", diz Mestre Ivamar a Splash.
Mas o que é a congada?
Marcada pelo sincretismo entre o catolicismo e as religiões de matriz africana, a congada é uma das festas mais populares de Minas Gerais. O objetivo da festa é fazer uma homenagem a Chico Rei, figura lendária da tradição oral mineira. Chico Rei teria sido um monarca africano, do Congo, trazido escravizado para o Brasil. Dessa forma, a congada surge como uma celebração da força e resistência do povo negro. Entrou no radar dos autores Duca Rachid, Júlio Fischer e Elísio Lopes Jr. após pesquisas para a trama das 6.
"Eu sou um ativista do Movimento Negro desde os anos 70 e começo, em Campinas, a trabalhar com o falecido Mestre Lumumba, que trabalhava com as congadas e trazia essa questão do tambor. Então, eu já venho discutindo e estudando os tambores desde essa época. E quando volto de Angola, onde passei quatro anos, começo a trabalhar pelos quilombos esse 'sotaque' que vem da caixa do divino. Em Macapá também tem uma versão da congada, com toda sua história, a guerra de mouros e cristãos, um teatro a céu aberto", lembra Mestre Ivamar.
Com passagens por Angola, África do Sul e Argélia, Ivamar coordena há sete anos o Coletivo Amazonizando, que busca difundir e valorizar a tradição cultural da Amazônia. Antes de vir para o Rio, a convite do diretor artístico André Câmara para sua estreia na novela, ele vivia em Macapá, na "curva do maior rio do mundo", como fala ao lembrar do rio Amazonas.
A convite do diretor artístico, o coreógrafo e dançarino João Carlos Ramos foi o responsável por coreografar o elenco para a cena.
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