Amor Perfeito dá show emocionante sobre nossa cultura e luta antirracista
No capítulo desta sexta-feira (25), os autores Duca Rachid, Julio Fischer e Elísio Lopes Jr. comprovaram mais uma vez que é um trio afiadíssimo. Especialmente quando o assunto é abordar a questão racial em "Amor Perfeito".
A congada, uma das festas mais populares de Minas Gerais, invadiu a tela da TV Globo com uma sensibilidade que poucas vezes nós vimos na dramaturgia. Popó (Mestre Ivamar) e Celeste (Cyda Moreno) foram coroados rei e rainha durante o aniversário da cidade fictícia e entregaram uma série de símbolos fortíssimos.
O cuidado com a gravação, inclusive, veio desde os bastidores. Ivamar, que é ativista do movimento negro, fez questão de emprestar 10 caixas de marabaixo - instrumento tradicional da festa - para serem utilizadas pela produção. Inclusive, deixo aqui o link para uma matéria de Splash UOL explicando mais a fundo sobre a festa e como foram as gravações, que levam a assinatura do diretor artístico André Câmara.
Ficou difícil não se arrepiar ao ver o discurso de Popó sendo coroado enquanto o elenco, majoritariamente negro, erguia os punhos. "Eu prometo defender a liberdade de nosso povo, vai chegar um tempo que ninguém será capaz de roubar a liberdade de ninguém. Todos nós seremos livres, porque liberdade nunca foi uma questão de escolha", disse em um trecho.
Anos e anos separam nosso presente daquele contexto representado ali, mas ainda assim a fala é tão atual e necessária. E melhor ainda, feita numa abordagem menos óbvia, mais sensível e que expande a forma como precisamos levar a discussão racial para a sociedade.
Mais especificamente, hoje retratando a conexão com as religiões de matriz africana. E essa nem é a primeira vez que a trama acerta nesse ponto. Já elogiei a forma que eles lidaram ao abordar o racismo com o cabelo afro de Marcelino (Levi Asaf).
"Amor Perfeito" pode chegar ao fim sem ser um grande marco no horário das 18h, mas comprovou que veio para promover boas mudanças. E vou além, acredito que pode se tornar referência para as que vierem no futuro.
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