Faustão: por que 1º da fila recusou coração transplantado no apresentador?
Fausto Silva, 73, recebeu um novo coração, no domingo (27), após a equipe transplantadora do paciente que ocupava o topo da lista recusar o órgão.
De acordo com a Central de Transplantes do Estado de São Paulo, durante a madrugada de ontem, o sistema localizou 12 pacientes que atendiam aos requisitos para o transplante. Faustão, no entanto, ocupava o segundo lugar entre os casos prioritários.
Daniela Salomão, coordenadora-geral do Sistema Nacional de Transplantes, explica o que pode motivar a recusa de um órgão: "Depende da condição do receptor no momento da oferta. Pode ser que o receptor não esteja em condições ideais. Você está na lista aguardando e, infelizmente, no momento que sai a doação, você pode ter uma infecção. Uma condição que o impeça de fazer o transplante em condições de segurança."
As condições do doador e do órgão também são levadas em consideração. "[Se há] alguma doença pré-existente que possa comprometer a qualidade daquele órgão a ser doado. A condição do doador naquele momento, em termos de infecção, uso de medicamentos."
A decisão do "aceite" é compartilhada entre paciente e transplantador. "A equipe recebe os dados técnicos do doador. Então pode ser que o paciente, naquele momento, por algumas características, não queira receber o órgão daquele doador especificamente."
Lista de espera
A lista é única e controlada pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Pacientes das redes pública e privada estão sujeitos aos mesmos critérios técnicos, que consideram tipagem sanguínea, compatibilidade de peso e altura, compatibilidade genética e gravidade — que varia de acordo com cada órgão. Quando há empate, a ordem de chegada funciona como critério de desempate.
"Os pacientes mais críticos, em situações mais graves, têm o direito de serem transplantados antes de pacientes menos críticos. O sistema faz esse ranqueamento de acordo com a gravidade da situação do paciente. Como é que o sistema enxerga a gravidade? Ele já tem os parâmetros pré-estabelecidos", explica a coordenadora-geral do Sistema Nacional de Transplantes.
Critérios de gravidade. "No transplante cardíaco, por exemplo, o critério de prioridade número um é aquele paciente que foi transplantado e que o órgão não funcionou. Esse paciente passa na frente de qualquer outro paciente em lista. Esse é o primeiro critério de gravidade."
Os dados inseridos na fila não identificam quem são os pacientes de meio particular ou da rede pública.
Mais de 90% das cirurgias são feitas pelo SUS, mas pacientes que quiserem podem realizar o procedimento na rede particular, com seu médico de preferência. Independentemente da escolha, a captação do órgão continua sendo feita pela rede pública.
A doação de alguns órgãos pode ser feita por um doador vivo, mas a maioria vem apenas de uma pessoa já morta. Neste caso, a família do possível doador deve autorizar o procedimento.
O que aconteceu:
Internado desde 5 de agosto no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, Fausto Silva fez a cirurgia para receber um novo coração em 27 de agosto. O apresentador estava em diálise e necessitando de medicamentos para ajudar na força de bombeamento do coração, o que lhe colocou na lista de prioridades.
Segundo o Einstein, a Central de Transplantes do Estado de São Paulo contatou o hospital na madrugada deste domingo para informar sobre o coração para ser transplantado no apresentador. Após a avaliação de compatibilidade do órgão, a cirurgia foi realizada e durou cerca de 2h30.
Luciana Cardoso, 46, mulher de Faustão, 73, publicou uma carta aberta de agradecimento nas redes sociais: "Nos mantivemos em silêncio, como é característica da família, até que a internação se tornou pública. A princípio, achamos que preservar o quadro clínico e a necessidade do transplante seria a melhor opção. Mais uma vez, as coisas tomaram outro rumo e o transplante foi anunciado por uma rádio. Com toda transparência que nos é característica, confirmamos a notícia".