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Luísa Sonza fez terapia, está bem e não quer sua opinião

Luísa Sonza parece estar bem. Essa é a primeira coisa que passa pela minha cabeça quando a cantora entra na suíte presidencial do hotel de luxo em São Paulo, onde acontece a entrevista de imprensa de seu novo álbum, "Escândalo Íntimo", lançado nesta semana.

Essa impressão começa pelo visual, que a cantora adapta conforme a "era" de seu trabalho. Para divulgar este álbum, Luísa veste um corset branco estampado com flores cor de rosa e uma calça de alfaiataria marrom com botas de caubói. A maquiagem é clara em tons de rosa, muito diferente do olhão esfumado que marcou seu último álbum, "Doce 22".

Logo de cara, Luísa avisa que essa não vai ser uma coletiva normal. Antes de receber perguntas dos jornalistas presentes, ela pretende explicar a narrativa que conduz o álbum falando de cada uma das faixas e tocando trechos das novas músicas.

Ela explica que a ideia de "Escândalo Íntimo" é narrar um relacionamento do início ao fim. O álbum é dividido em quatro partes: a primeira mostra o eu lírico usando a imagem de artista pop como uma armadura e afastando qualquer relação mais profunda. Na segunda, ela se entrega à paixão e vive um namoro intenso. É nessa primeira metade que estão as músicas mais dançantes e explícitas — que é o que vem à mente quando pensamos "Luísa Sonza".

Na segunda metade, o clima muda. A personagem passa por crises no relacionamento e vê o namoro chegando ao fim no terceiro bloco. Depois, nas últimas músicas, ela está sozinha novamente, mas tem uma nova percepção sobre si mesma.

Luísa Sonza na coletiva do álbum Escândalo Íntimo
Luísa Sonza na coletiva do álbum Escândalo Íntimo Imagem: Manuela Scarpa/Brazil News

Antes de tocar os trechos das músicas inéditas, Luísa faz um apelo para que ninguém vaze nada e brinca: "Olha que agora eu tenho pacto com o diabo, hein!". A piada é a segunda pista de que Luísa está com a saúde mental em dia, e me causa um certo alívio. Nos últimos dias, até eu fiquei estressada vendo as teorias malucas de parte do público sobre como o primeiro clipe do álbum, "Campo de Morango", seria, na verdade, um ritual satânico.

Na entrevista, ela explica que as imagens "pesadas" que assustaram essa parcela do público vieram de seus sonhos."Eu tinha muito medo de colocar esses pesadelos para fora com medo do que as pessoas achariam de mim. Sou uma pessoa que não assiste filme de terror, eu tenho pavor dessas coisas. Não tenho referência. E meu cérebro começou a criar coisas muito pesadas".

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Os pesadelos, descobriu Luísa, foram a forma de seu subconsciente lidar com os traumas da fama e das vezes em que foi o alvo da vez no debate público — e, ironicamente, transformá-los em clipes colocou a cantora nessa posição de novo. Com uma diferença importante: agora, é intencional.

As duas primeiras músicas do álbum foram lançadas num intervalo de uma semana, que o público passou criando teorias da conspiração e criticando a letra explícita de "Campo de Morango". Depois, em "Principalmente Me Sinto Arrasada", ela simula uma crise de ansiedade e canta: "Observada, eles contam os meus passos/Seguem a boiada/Tomar no c* quem acha graça".

Quando estava todo mundo tacando o pau em 'Campo de Morango', eu estava com um sorriso de orelha a orelha, porque era exatamente isso o que a gente queria provocar. Luísa Sonza

Luísa diz que o álbum é resultado de "muita terapia", e de repente a história faz ainda mais sentido. No fim, a personagem chega à mesma conclusão a que Luísa Sonza chegou para estabelecer uma relação mais saudável com o público e consigo mesma: ela não é o que dizem dela, nem para o bem e nem para o mal.

Tem momentos em que o artista é muito endeusado e momentos em que é muito demonizado, e essa dualidade me deixou louca por um tempo. Quando a gente tá seguro dentro da gente, tudo isso é irrelevante. Luísa Sonza

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Saí da coletiva pensando que "Escândalo Íntimo" seria muito melhor se viesse com a explicação de Luísa sobre cada faixa. Depois de ouvir o álbum completo, essa impressão foi reforçada, porque teria sido uma experiência muito diferente sem as interpretações que ela apresentou. Por exemplo: ela explicou na coletânea que o verso da música "Carnificina" em que ela diz "não é normal, mas alivia" é sobre Rivotril. Simplesmente não existe um mundo em que eu chegaria a essa conclusão sozinha.

Sem esse contexto, o álbum pode parecer uma coletânea de músicas muito diferentes entre si. Tem rock, tem sertanejo, tem bossa nova e rap. Tem música de amor, música de rebolar, música de chorar. Se essa mistura for um problema, fica aí o alerta: a experiência completa requer um estudo prévio da vida de Luísa Sonza.

No fim, o álbum tem algo para todo mundo — até para quem quer criticar. Os fãs das narrativas que Luísa constrói vão ficar felizes com os clipes que, juntos, vão virar um filme. Quem gosta de fofoca vai gostar de ouvir o ponto de vista da artista sobre eventos que se passaram em sua vida. Quem já não gosta de Luísa Sonza, então, vai amar "Escândalo Íntimo": a obra é mais uma oportunidade de analisar a vida da cantora, que desta vez colocou a si mesma no microscópio da opinião pública de propósito. Questionada se está com medo das críticas, Luísa se diz tranquila: "Hoje em dia eu não ligo mais pra isso. Pelo contrário, eu gosto de provocar".

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