Irmão do Rock in Rio, The Town se rende ao funk na abertura do 1º dia
Coube ao funk e ao rap a abertura do The Town 2023. Nos dois primeiros shows do festival, uma pequena constelação dos gêneros agradou bastante e, se é para destacar alguém, que seja MC Hariel, que puxou os momentos mais importantes da apresentação que fez no palco principal ao lado dos parças MC Ryan e MC Cabelinho.
Antes, os primeiros sons que ecoaram no autódromo de Interlagos saíram das entusiasmadas Tasha & Tracie. Iniciando seu show um pouco antes das três da tarde, a dupla teve uma plateia pequena. Quem entrava no autódromo naquela hora estava mais preocupado em percorrer todas as dependências para conhecer tudo e apenas os fãs mais radicais das meninas colaram junto ao palco. Suas letras de confrontação com garotos sem noção tinham muito eco na plateia, mas era um show apenas esforçado até que Karol Conká entrou no palco como convidada da dupla.
Tasha & Tracie caíram numa armadilha que muitas vezes já deixou bons artistas em apuros. É quando aquele convidado especial incendeia a plateia como até então não havia acontecido. Karol Conká emendou hits como "Subida", "Saudade" e "Kaça", e facilmente se mostrou uma artista consolidada diante da força juvenil ainda titubeante das amigas.
A dupla até tentou a estratégia certa. Depois de cantarem "Dilúvio" com Karol, que deixou o palco, elas partiram para a parte final do show sozinhas com seus hits mais conhecidos, como "SUV". Mas ainda foi pouco. Tasha & Tracie fecharam a apresentação ovacionadas pelo fã-clube, mas talvez o palco The One tenha sido um pouco grande demais para o tamanho da dupla.
Aí veio a estreia do palco principal, Skyline, e a união de dois MCs paulistanos e um carioca deu o início arrebatador para o festival. MC Hariel, MC Ryan e MC Cabelinho já gravaram inúmeras vezes juntos e criaram especialmente para o The Town o show "Primário", no qual costuraram suas canções para tentar mostrar o primeiro impacto do funk para um jovem fã.
Deixando essa proposta teórica à parte, o que se viu e ouviu foi um desfile de músicas poderosas, a maioria habitando há tempos a memória afetiva da plateia, naquele momento já um público de gente grande, certamente uma dos maiores nas carreiras dos três.
As letras alternaram mensagens políticas com um funk ostentação de raiz. Entre esses extremos, muitas influências diferentes ficaram claras. Se o entrosamento do trio era inegável, todos parecendo se divertir ainda mais do que a plateia ficou notório que MC Hariel tem a maior força para engajar o público.
Ele abriu o show sozinho, com sua "Ilusão: Cracolândia" e versos definitivos como "você não precisa morrer para falar com Deus". Os parceiros entraram em seguida, e o roteiro do show tratou de equilibrar um número semelhante de canções para cada um puxar. Num balanço do setlist, Hariel comandou o maior coral do show, com "Lei do Retorno".
MC Ryan desceu à plateia. MC Cabelinho fez sua promoção pessoal, contando que vai apresentar o programa "TVZ" no Multishow. Mas MC Hariel manteve o foco no contato direto com o público, levando a multidão a mais dois momentos de karaokê, com todo mundo cantando junto "Tem Café" e "Maçã Verde".
Houve espaço também para homenagear um amigo do trio, MC Kevin, morto há dois anos ao cair da sacada de um quarto de hotel no Rio. Emocionante e sem nenhum momento fraco, o show consagrou o trio e, pincipalmente a força do funk na cena. Não à toa, eles ironicamente dedicaram a apresentação a quem apostou que o funk nunca chegaria a um festival do tamanho do The Town.
Deixe seu comentário